Mapeamento eternamente em construção – Bate-papo com o Coletivo Teatro Imaginário

Bate-Papos   |       |    3 de novembro de 2009    |    0 comentários

Coletivo de Teatro Imaginário – Porto Velho – RO
Representante: Chicão Santos

1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?

O nosso coletivo tem uma base familiar, que sou eu, minha esposa, meus filhos e uma estrutura, que agora vai ser ampla, mas a estrutura funciona em baixo da casa da gente. Ali se produz, ali tem uma biblioteca, um espaço pra acesso ao computador, essas coisas, mais atrás tem uma cozinha e atrás tem outro espaço. Agora nós compramos o terreno do lado e vamos poder ampliar essa sede. A grana pra isso vem da nossa capacidade criativa, inventiva de buscar recursos. A gente tem feito um trabalho nesse sentido, a história do Imaginário é muito nova, mas eu tô desde 1978 trabalhando com teatro em Rondônia, sou já um pré-histórico… Mas a gente tem feito muitos trabalhos, associando o teatro a outras possibilidades sociais. Nós estamos com alguns projetos que nós vamos executar agora. Vou falar primeiro de um trabalho recente que nós temos, que se chama As Filhas da Mata, e foi uma pesquisa que nós desenvolvemos a partir da presença feminina na Amazônia, que eu acho que é legal, com a vinda das caribenhas na época da construção da estrada de ferro e também com as nordestinas que foram para os seringais, então nós fizemos este trabalho de pesquisa e ele foi selecionado, agora, para circular no ano que vem pelo Palco Giratório, então nós vamos fazer uma circulação nacional com este trabalho. E, desde 2006, nós desenvolvemos esse trabalho de pesquisa e estudo que é um trabalho constante do Imaginário. E, a partir do ano que vem nós vamos desenvolver um trabalho de interação estética com a arte beradeira, que é a arte que se dá nas margens do Rio Madeira, pra baixo de Porto Velho, nós vamos descer 8 horas de barco e lá nos vamos estabelecer uma relação estética com as mulheres e através da oralidade dessa arte beradeira, nós vamos construir um trabalho lá e vamos levar também As Filhas da Mata pra encerrar este projeto lá que vai durar três meses. E também a gente está fazendo um outro trabalho que é a questão dramática dos personagens das quadrilhas juninas, então nós vamos fazer um trabalho explorando as possibilidades da ação dramática desses personagens. A gente também organiza um festival de rua, a gente tem uma pesquisa de rua, e a gente tem esse projeto do festival, associado a um seminário de integração da Amazônia, o ano que vem será o terceiro ano. No primeiro ano nós reunimos quatro estados, no segundo também, mas no próximo ano nós vamos reunir os nove estados da Amazônia legal, dentro de uma possibilidade de levar várias pessoas, como a Ana Carneiro, que fundou o Tá na Rua, o Narciso, a Nara e outras pessoas de São Paulo que trabalham com teatro de rua e também o mestre Chico Santos, então tem esses grandes encontros que a gente faz nesse festival, que a gente vê a possibilidades do encontro mesmo, porque nós temos uma grande questão na Amazônia, que são as distâncias, tanto geográficas, políticas e de formação também, sociais e culturais. Nós denominamos essas questões desses custos como “custos amazônicos”, que uma bandeira política que nós estamos levantando, e também uma outra questão que eu acho essencial colocar: enquanto nós brasileiros não aceitarmos que nós temos um grande patrimônio da humanidade que é a Amazônia, nós não vamos entender ela como da gente… E possivelmente os americanos venham e tomem da gente, porque quando a gente abre uma discussão sobre essa questão da Amazônia em si e toda a potencialidade que ela tem, as pessoas vêem isso como uma diferença e não como sendo um patrimônio do Brasil. O estado de Rondônia é o único estado que não tem leis de incentivo, nem municipal, nem estadual, o único no Brasil! Agora que está se dando depois de 12 anos a construção de um teatro público, era o único lugar que não tinha um teatro público fechado. A gente tem lá as praças, que foram recuperadas de quatro anos pra cá, que é também o grande teatro que nos temos e a estética também da nossa pesquisa, da relação com a arquitetura da cidade como diálogo para o nosso trabalho. A gente tem participado de muitos editais nacionais, como Myriam Muniz, buscando nesses editais uma forma também de sobrevivência. Mas a gente tem sobrevivido a duras penas pela vontade que a gente tem. E também as condições difíceis nunca atrapalharam nosso processo criativo, que sempre foi balizado pela nossa vontade de fazer e não pela justificativa de não ter.

2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?

A gente tem um trabalho de proximidade muito grande com o Acre, por exemplo, que nós somos vizinhos, então nós temos trabalhado isso na região como movimento integrativo, desde a década de 70 que a gente vem trabalhando essa possibilidade de uma integração amazônica, apesar dessa dificuldade, apesar da discriminação que o país faz com a região. Por exemplo, nos editais há uma discriminação, os valores menores vão pra lá, nós não aceitamos isso, nós queremos discutir essa questão dos “custos amazônicos”, por exemplo, as empresas aéreas não abrem mais linhas pra lá porque tratam a gente como uma periferia. Por exemplo, nós não temos nada de definido na biomedicina, no ensino, enfim em todo o nosso desenvolvimento, que pode trazer pro Brasil um valor agregado, tanto da descoberta de remédios para cura de doenças, a gente não tem também a questão do entendimento de que os saberes populares dos indígenas, dos grandes caciques e pagés, que isso representa pra gente um patrimônio, além da questão simbólica, a questão do imaginário mesmo, do imaterial, então acho que isso tem que ser bem cuidado pelos brasileiros pra que isso seja realmente nosso, se não os outros vão tomar. Eu vou me valer aqui de uma frase: “se a gente não descobrir o Brasil, outro vão descobrir”.

3. Fator agregador: qual o fator agregador/ definidor/ de união do grupo?

Eu acho que o grande fator do Imaginário e das pessoas estarem próximas do grupo é a vontade de tirar o teatro do lugar-comum. Acho que nós avançamos muito nos últimos anos, Porto Velho cresceu muito e nossos vizinhos também cresceram muito em função da gente fazer essa provocação de tirar o teatro do lugar comum.

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