Mapeamento eternamente em constrṳ̣o РBate-papo com o grupo Beira de Teatro e o Coletivo Atores a Deriva

Bate-Papos   |       |    3 de novembro de 2009    |    0 comentários

Grupo Beira de Teatro e Coletivo Atores a Deriva – Natal – RN
Representante: Henrique Fontes

1. Financiamento: como o grupo financia seus trabalhos?

Natal, historicamente, é uma cidade que não tem política pública voltada pra teatro, nem pra cultura de forma geral. Há muita política de eventos, que não é novidade, mas a gente vem batalhando, se organizando com outros grupos pra buscar editais e uma nova forma de fomento. Esse ano surgiram dois editais, um pra teatro de rua e outro pra todo tipo de linguagem, mas que ainda não saíram efetivamente, são verbas muito pequenas, mas, enfim, já é uma pequena conquista. A gente, na verdade, monta os espetáculos no risco, sem financiamento, a gente faz a temporada no risco, com pequenos apoios da iniciativa privada, e aí tenta ir circulando na marra, é tudo na marra mesmo. Bilheteria, venda e entrada em Festivais. Acho que o exemplo mais bem-sucedido talvez seja o do Atores a Deriva com o espetáculo A Mar Aberto que conseguiu chegar até Porto Alegre, Caxias do Sul, Guaramiranga, enfim, circulamos muito graças aos festivais, a gente manda o projeto, é selecionado, e aí vai circulando e é um pouco como o grupo tem sobrevivido. Nós não conseguimos viver disso, a gente dá aulas de teatro, a gente se prostitui aqui e ali – no sentido de vender trabalhos mais comerciais – mas a tentativa, pelo menos desses dois grupos, é trabalhar com a educação pela arte, mais fortemente, pra não ter que fazer outros trabalhos e também porque acho que é nossa praia, a gente gosta de trabalhar com a educação, então acho que vale a pena.

2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?

Então, a nossa grande luta é não levar o termo regionalismo à cena, até porque eu acho um reducionismo bobo, essa coisa de arte regional pra mim é bobagem mesmo. Mas temos um sotaque, temos uma forma de olhar, de sentir, que talvez em outros lugares não tenham, e temos questões também nossas mesmo, da região. Então, eu acho que sim, acho que os questionamentos surgidos ali, até porque esses dois grupos apostam em dramaturgia própria, um trabalho colaborativo em que a gente cria os textos, então inevitavelmente vão surgindo questões nossas que estão ligadas diretamente com as questões de onde a gente vive. O A Mar Aberto acho que tem esse exemplo que é a história de um pescador, na verdade é a história de um homem mais velho, no caso um pescador, que se apaixona por um menino e ele vive esse drama dessa atração. E se passa numa região de pescaria, só que na verdade está tratando um tema muito maior que a relação homem-homem e que a relação de pescadores, a tentativa é extrapolar esses dois universos, a gente têm tentando isso. E eu acho que a gente é profundamente contagiado com tudo, eu digo que Natal é uma cidade excelente pro teatro, não tendo fomento, não quero que isso continue pra sempre, mas o que eu quero dizer com isso é que pra mim é um grande desafio e esse desafio move a gente, porque quanto mais difícil parece que a gente consegue trabalhar com mais afinco numa questão que pra gente é cada vez mais cara, cada vez mais verdadeira, mais profunda mesmo.

3. Fator agregador: qual o fator agregador/ definidor/ de união do grupo?

Eu acho que no Beira de Teatro, inicialmente, era a vontade dessas pessoas de estarem juntas, por uma diversidade de pensamento, somos de áreas bem diferentes, temos músicos, cientistas sociais, atores e diretores de formação, mas essa diversidade e o duelo desses pensamentos é que acho que constituiu o grupo e que trouxe uma força também pra cena. O Atores a Deriva foi uma confluência de pessoas que se gostavam muito e se encontraram ao longo de vários processos criativos e a gente via que também era uma diversidade interessante, mas com um ponto comum, então quando eu propus o texto, que o nascimento do coletivo foi através desse texto que a gente queria montar, acho que foi um momento muito feliz, da gente encontrar essa diversidade de linguagens até, mas com um objetivo comum muito certo que era explorar nossos limites e transpor essas linguagens, não se prender nem ao dramático, nem ao lírico, nem ao épico, nem ao que quer que seja, mas misturar isso tudo e transpor, acho que o desafio foi bem esse. E acho que o afeto… nos dois grupos eu acho fundamentais os afetos, o que nos afeta e como nós afetamos uns aos outros. E isso passa por várias crises, vários movimentos internos. Mas isso tudo eu acho que é muito agregador, mesmo as crises, mesmo as desavenças e as diferenças.

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.