Ainda o primeiro dia

Blog   |       |    16 de setembro de 2008    |    0 comentários

Já está em destaque a crítica (será que é uma crítica?) do espetáculo O Alienista, que vi no primeiro dia do FNT de Guaramiranga. No entanto, houve ainda mais 4 espetáculos no mesmo dia, dos quais acompanhei apenas três. Mando abaixo um breve relato destes, sem qualquer pretensão de criticar.

Falsa Testemunha – Grupo Sincronia
Excepcional expressão do teatro amador (novamente no clichê de quem ama o teatro), ficava claro que ninguém daquele grupo se preocupava com uma forma mercadoria. Não há, nesse espetáculo, uma vontade de rodar pelo país, um ímpeto de profissionalização e esse é o contraponto necessário na programação do festival.

Roubou a atenção uma senhora que parecia ter no seu gestual e nos seus traços todo nordeste encarnado. Ela conseguiu não respeitar nenhuma marcação. Parecia que zanzava pelo espaço cênico, enquanto outros atores se esforçavam absurdamente para fazer um exercício de verossimilhança.

Ela falava consigo mesma, repetia falas, fazia uma faxineira que era extremamente indomável. Na criatividade e na leveza do estar no palco, lembrei do muito que se perde quando se quer fazer parte do “circuito”, ou, pra dizer nas palavras mais certeiras, pra fazer parte do mercado.

Um drama mal ajambrado que interessava muito mais pela presença dos atores do que por qualquer tentativa de interpretação. Legítimo teatro amador.

Quem matou Zefinha – Trupe Caba de Chegar de Teatro
Um espetáculo de rua que tem 18 anos, Quem matou Zefinha lembra a Comédia do Trabalho da Cia. do Latão. Altamente crítico, fala do cotidiano de um casal pobre na luta para conseguir e manter a sua casa própria.

Primeira peça de rua que vi do festival, explorou muito a pulsação do público que, como esperava, responde com muito calor a todas as peças do festival.

Impagável a cena em que o proletário se encontra com a morte, e essa diz que veio buscar algumas crianças de Guaramiranga. Nunca vi um grupo ser tão cruelmente verdadeiro com a criançada.

A Filha do Pai – Cia Fabril de Guaramiranga
Mais um espetáculo amador que chega ao público pelas vias mais despretensiosas. Encenado no teatrinho (é esse realmente o nome no programa), o trabalho é um drama familiar de uma menina sem mãe, com seu pai durão e suas amigas fúteis. Novamente, a historinha encanta muito menos do que a presença absolutamente imatura, portanto rejuvenescedora, dos atores no espaço cênico.

Esses grupos de Guaramiranga têm que tomar as ruas. Essa cidade merece que sua tradição teatral não fique enfurnada em caixas escuras para atrair a atenção. Vejo um ímpeto de participação que não vejo em muitos grupos amadores e não acho que isso combine com essa forma burguesa de fazer teatro.

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