Dramaturgia Crítica – Segundo dia

Blog   |       |    1 de maio de 2010    |    0 comentários

O segundo debate do evento foi com o Alexandre Mate e a Maria Silvia Betti. Ambos cairam de pau no teatro pós-dramático. Maria Silvia falou sobre o novo livro do Lehmann, Escrituras Políticas e discorreu sobre quão reacionárias tornam-se as relativizações formais do autor, em especial sua “des-epicização” do teatro de Bertolt Brecht ao associá-lo tão-somente à manutenção da fábula dramática e ao dissociá-lo do marxismo dialético. Citou expressões contidas na obra, como “Brecht-nietzschianismo” e outros exemplos da relativização descontextualizada – o que causou gargalhadas da platéia e de sua coriféia Iná Camargo Costa.

Deu em seguida o duro diagnóstico: a produção teatral brasileira assimilou a obra de Lehmann – e elevou-a ao status de paradigma – com uma velocidade descomunal haja vista que o Teatro Pós-dramático só foi traduzido no Brasil em 2007. Em apenas 3 anos o autor virou referência (e justificativa) estética para uma infinidade de grupos e obras no Brasil – inclusive daqueles que pressupõe uma atuação política em seu programa.

Em seguida, Alexandre Mate chutou mais ainda o já caído Hans-Thies Lehmann ao falar sobre teatro experimental. Disse que nós relegamos nossa história, afastamos a memória de nosso horizonte, não conhecemos o mínimo de fundamentais momentos e autores do teatro brasileiro (como Vianinha, por exemplo, objeto de estudos de Maria Silvia Betti; o Teatro União e Olho Vivo – aproveitando o ensejo que a presença do ilustre César Vieira ocasionava – além de diversas e infinitas outras manifestações do teatro popular, de rua, etc…) e, mesmo assim, insistimos na petulância em “re-inaugurar” padrões e paradigmas estéticos como se fossêmos líderes de uma novidade estético-revolucionária nascida do nada.

Citou, ademais, a universidade – principalmente a ECA – como possível “culpada” pela introdução de Lehmann como paradigma atual. E questionou-se sobre a real importância que o autor tem na Europa. Ao que Fernando Kinas, da Kiwi Cia. de teatro, presente no encontro, respondeu dizendo que na Europa Lehmann não tem essa importância toda sendo, inclusive, muitas vezes ridicularizado por teóricos franceses, por exemplo. E que na própria Alemanha ele ocupa uma posição periférica na constelação de pensamento sobre teatro hoje.

A conversa foi muito instigante e, mais uma vez, com muita gente presente.

Mas fica no ar um desconforto perante a sensação de “consenso” que o debate gerou. Parece que faltou “dialética” no trato com o “material Lehmann” e todos nós (público e palestrantes) redundamos numa cerimônia de expurgação do demônio pós-dramático. Quando, para esse humilde estudante que vos escreve, a questão é muito mais aquela ressaltada por Maria Silvia Betti sobre a impressionante inserção de sua obra em terras tupiniquins, do que a condenação moral do autor – que, a despeito de seu reacionarismo formal apresenta formulações interessantes e necessita ser lido em contexto, ou seja, com quem e onde ele dialoga (ele mesmo, aliás, ressalta no Escrituras Políticas que sua enunciação só diz respeito ao contexto europeu). Sendo assim, não nos caberia muito mais a verticalização em seu estudo do que a condenação irrestrita?

Ou seja, será que é a obra de Lehmann que “dá o tom” na produção contemporânea no Brasil ou será que sua obra é simplesmente aquela validação e justificativa que muitos grupos e artistas há muito esperavam? (desde a década de 80, diga-se de passagem, há produções brasileiras que já apóiam-se nessa lógica que Lehmann formularia alguns anos depois. Vide Gerald Thomas, por exemplo)

O consenso militante e de esquerda é preciso em situações de luta e afirmativa política. No entanto, em debates e conversas não seria muito mais interessante a dúvida, a crise, a investigação vertical e a dialética?

Hoje acontece o último dia do evento:

Dialética e Teatro, com Jorge Grespan e José Antonio Pasta

Sábado, 1° de maio, 18 horas

“Marx e a dialética”, por Jorge Grespan

“Brecht e a dialética”, por José Antonio Pasta

Mediação Luiz Gustavo Cruz e Ney Piacentini, da Companhia do Latão

Local

Estúdio do Latão

Rua Harmonia, 931 (próximo ao metro Vila Madalena)

Informações

(11) 3814.1905 e (11) 85164325

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