Ali Babá e os Quarenta Ladrões

Críticas   |       |    25 de fevereiro de 2008    |    3 comentários

Com quantos bastões se faz uma peça?

Foto: Divulgação

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As crianças da platéia de uma peça infantil me fazem lembrar da palhaça Lili, do grupo Seres de Luz (Campinas/SP) no espetáculo O acrobata. Lili começa a peça sentada junto ao público, com um saco de pipoca, batendo palmas e gritando “começa, começa, começa!”. Tudo é motivo para que elas se manifestem: gritam quando a luz apaga, batem palmas acompanhando a música, jogam comida umas nas outras, chutam a cadeira da frente, um termômetro para os atores que estão em cena.

Ainda bem que no espetáculo Ali Babá e os Quarenta Ladrões (Trupe de Truões – Uberlândia/MG), que encerrou a IV Mostra Nacional de Teatro de Uberlândia, o termômetro permaneceu estável. Já tinha assistido esse trabalho em sua estréia (2006), e era impossível não comparar com as outras peças infanto-juvenis dessa companhia, formada dentro da Universidade Federal de Uberlândia. Fundamentados em uma pesquisa de teatro narrativo, com a utilização de objetos, dessa vez o grupo opta por um minimalismo cênico (que contrapõem com alguns trabalhos barrocos do diretor Paulo Merísio). Uma única cor prevalece em cena – o vermelho (apesar dos fru-frus dourados). Todos os atores usam figurinos e maquiagens iguais, há somente uma música, e toda a história é contada por um objeto – o bastão, contrariando a lógica do imaginário popular do teatro infantil, cheio de cores, figurinos inventivos, músicas variadas e muitos elementos cênicos. Essa limitação cênica provoca os atores a explorar ao máximo seu trabalho, resultando numa peça em que o conjunto se destaca como um todo, o corpo é o principal responsável pela plasticidade, e as cenas não são fechadas a uma única interpretação (fazendo com que cada criança imagine do seu jeito).

Os atores-narradores contam o famoso conto extraído de As mil e uma noites, em que dois irmãos têm destinos distintos ao se casarem com mulheres de diferentes classes sociais- Cassim se torna um grande comerciante e Ali Babá, um lenhador. O lenhador descobre uma gruta onde ladrões guardam um grande tesouro. Cassim, de tanta inveja pela riqueza que o irmão poderia adquirir, acaba morrendo, o que desencadeia uma série de aventuras em que a honestidade de Ali Babá o transforma em um rico mercador (se bem que ele aproveita que o irmão morreu e casa com a cunhada só pra ficar rico. Um aproveitador!).

Percebe-se que hoje, após 40 apresentações, o espetáculo está muito mais amadurecido. O elenco está entrosadíssimo, e o que me parecia mecânico (já que os movimentos com os bastões necessitam de precisão) hoje lembra uma brincadeira. Se na primeira vez, a dicção de alguns atores me fez perder parte da história (problema esse resolvido em partes, porém com uma impostação de voz falsa), agora a projeção não chegou até as velhinhas que estavam sentadas nas últimas filas (dessa vez, eu também era uma velhinha).

A agilidade em contar a história (e a afobação dos atores) só era quebrada nos momentos de gracinha, onde os atores fingiam que não escutavam o narrador (sempre interrompidos por um psiiiiu) e continuavam a cena esperando o riso da platéia. Esse recurso virou uma marca registrada do grupo, presente até em infantis de outros atores que já passaram pela Trupe, como o Soldadinho de Chumbo da Cia. Do Miúdo. É engraçado, mas de tão usado durante o espetáculo perde a graça. Vira uma carta na manga, e a partir daí, sempre que a história está sem graça, vem um ator e contraria a narração. Em contraposição a esse riso fácil, temos o humor da empregada Mogiana (Juliana Nazar) pontuado, sem forçar ou exagerar, fazendo com que esta seja mais carismática que o mocinho.

É muito bom ver o trabalho de um grupo como Trupe de Truões, que diferentemente de uma mãe que estava do meu lado que se sentia na obrigação de desvendar os signos propostos para o seu filho, não trata a criança como um bibelô, mas como um ser com seus interesses, problemas e necessidades, não as poupando da complexidade, utilizando o mínimo para mostrar que nem tudo é simples e unilateral.

9 balões de oxigênio para os atores.

'3 comentários para “Ali Babá e os Quarenta Ladrões”'
  1. mayara disse:

    eu nao gostei por que nao fala o nome do autor e eu prescisava dizo muito obrigada

  2. Emilliano Freitas disse:

    Mayara, a peça é baseada num conto da tradição popular universal, adaptado por Edson Rocha Braga.
    Será que agora vc vai gostar?

  3. Noemi disse:

    Olá,meu nome é Noemi,moro em Sorocaba, sou professora do ensino fundamental da rede municipal. Conheço a adaptação do Edson Rocha já faz um tempo e desde então quero fazer uma adaptação para teatro a fim de encená-la com meus alunos. Esse ano estou com um 4º ano. Como não tenho formação em teatro tenho dificuldade para fazer essa adaptação. Gostaria de saber se posso contar com a ajuda de vocês com algumas dicas ou com uma cópia do texto produzido por vocês (se não for pedir muito…). Obrigada desde já, Noemi!

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