CalÃgula
Um imperador muito malvado
Foto: João Caldas
CalÃgula conta a história do terceiro imperador romano, Gaius Caesar Germanicus que, após a morte de sua irmã e amante Drusilla, vê-se tentado a testar todo e qualquer limite humano e, amparado em seu poder, submete toda a população romana a uma série de caprichos e atrocidades. A menção do nome CalÃgula traz ao imaginário coletivo uma aura de transgressão e de erotismo (ou pornografia barata mesmo). Talvez o grande culpado por isso seja o filme CalÃgula, lançado em 1979, com direção de Tinto Brass e roteiro de Gore Vidal, que foi censurado inúmeras vezes em função de suas cenas de sexo (a maioria delas inseridas de forma gratuita pelos produtores durante a fase de edição do filme) e de violência.
Se você tem as imagens do filme na cabeça e está ansioso por ver nudez, sexo ou violência, não vá ao Sesc Pinheiros, onde CalÃgula, a peça, dirigida por Gabriel Villela a partir do texto de Albert Camus cumpre temporada até fevereiro de 2009. Isto ocorre porque não há sexo ou violência na peça: no lugar destes, temos inventivas soluções cênicas, que geram o mesmo efeito sem precisar deixar as pessoas extremamente chocadas.
Essas soluções cênicas são baseadas numa série de signos, que criam uma linguagem particular, fazendo com que tudo seja apenas sugerido e não mostrado. Um exemplo é a cena da última morte da peça (que, para não estragar a surpresa, eu não vou dizer de quem é – só aviso que não é do Romeu, nem da Cleópatra, nem de Jesus Cristo e muito menos do Jason Voorhees… putz, será que eu estraguei o final de algumas outras histórias? Sim, porque todos eles, caso você ainda não saiba, morreram no final, apesar de que alguns chegaram até mesmo a ressuscitar depois… De qualquer forma, caso você esteja confuso e para que possamos voltar para esta crÃtica sem que nenhum dúvida permaneça: não, nenhum deles aparece em CalÃgula…), na qual a violência é totalmente simbólica e o tempo da ação cênica é interrompido para que o ator possa se maquiar em cena, voltando a encenar a morte da sua personagem apenas após o término da maquiagem.
O sexo também é representado por signos, como numa cena de estupro em que vemos um tecido representando um corpo feminino e este tecido aparece depois rasgado e repleto de manchas vermelhas. Entretanto, algumas cenas um pouco mais literais terminam chocando alguns espectadores: quando CalÃgula passa a mão (com vontade!) em Cesônia, uma moça que está sentada perto de mim não resiste e solta, chocada, um “Nooooossa!!”. É a deixa para que toda a platéia morra de rir com a reação dela.
Outros recursos teatrais também são utilizados com o intuito de confrontar o público com o fato de que está vendo uma peça teatral, quebrando qualquer ilusão que pudesse existir: o terceiro sinal é anunciado por um ator que vai até o proscênio e simplesmente diz: “Terceiro Sinal”. O mesmo ocorre ao final dos atos, quando Thiago Lacerda anuncia “Fim do Primeiro Ato” e “Fim do Segundo Ato”, para ser recebido por uma série de palmas entusiasmadas (não entendi se as palmas eram o sinal de reconhecimento do público pela qualidade da peça, se eram um sinal de alegria porque mais um ato se encerrava ou se eram sinal de felicidade porque o Thiago Lacerda era simpático e sorria para o publico ao fazer estes anúncios, tão diferente daquela personagem malvada que ele interpretava durante os atos). Estas quebras, entretanto, beiram o exagero em outros momentos: numa determinada cena, Thiago Lacerda faz uma partitura corporal coreografada para, em seguida, se jogar em uma dança da bundinha, da motinha ou da garrafinha (desculpem-me, mas sempre tive grandes dificuldades para diferenciar estas manifestações rÃtmicas contemporâneas) e o público se esbalda novamente nas gargalhadas.
Fica claro que a maior parte do público está ali para ver Thiago Lacerda. O restante do elenco, praticamente todos egressos de Salmo 91, não tem o mesmo destaque que tinham naquela montagem e terminam, em sua maioria, ficando sub-aproveitados.
Os holofotes nesta montagem ficam, portanto, voltados para Thiago Lacerda e para os recursos da encenação, e são estes que adquirem importância maior. Talvez aà esteja a maior virtude de CalÃgula e também o seu calcanhar de Aquiles. Fica aquele sentimento de “que bacana que um guarda-chuva foi usado como signo para representar Roma” ou “que legal que uma bolsa da Nike é parte do figurino de uma personagem, o chefe do Tesouro Público, que ainda apresenta um carregado sotaque yankee”, mas não fica nenhum sentimento mais profundo relacionado à temática da peça e esta é bem menos perturbadora ou desafiadora do que poderia ser. A montagem termina ao som de Edith Piaf, Non, Je ne Regrette Rien, o que parece ser um fecho bastante simplista para a história de CalÃgula. Eu saio do teatro preocupado com a pizza que vou comer… e eu nem gosto tanto assim de pizza…
1 monte de gente reclamando que o Thiago Lacerda não fica pelado
crÃtica na medida 😉 (não vi a peça)
Eu, pessoalmente, prefiro a visão de Gore Vidal sobre CalÃgula do que a de Camus. Eu não estou tentando diminuir a genialidade desse grande artista francês, mas acho que Vidal conseguiu ser mais profundo e realista com o seu roteiro… o filme de Tinto Brass é insuperável e talvez inigualável… é ao mesmo tempo operÃstico e teatral…
O texto de Camus ainda não teve uma boa adaptação para as grandes telas e nem creio que terá.
[…] aproveitando a repescagem dos espetáculos que não vi em Sampa, hoje conferi CalÃgula, em uma platéia lotada (e armada com câmeras digitais com flash, sem medo de usar durante a […]
Infelizmente não assisti este espetáculo.Gostaria,até para ver que recursos foram estes usados pelo diretor. De qualquer maneira convido para assistir nova montagem do CalÃgula no Teatro Coletivo todos os sábados à s 21:00hs e domingos à s 20:00.Quem sabe este te faz esquecer da pizza?
Abraços,
Samya Enes
meu amigo,que é ator,assistiu a peça,e disse que ela é muito chata……
Não assisti a peça, mas se eu fosse seria única e exclusivamente pra ver o Thiago Lacerda pelado, já que ele não fica nú a peça já não me interessa mais.