El día que me quieras

Críticas   |       |    17 de dezembro de 2007    |    0 comentários

Cabrujas com Folias

Fotos: Divulgação

Que coisa maravilhosa é rever uma montagem do autor Ignácio Cabrujas, o seu El día que me quieras, título agadanhado do tema de Carlos Gardel (o garoto de Abasto) para minha primeira crítica nesse tão renomado site de teatro. Começaria a escrever por essas terras no ano que está para chegar, quando, da China, mandarei relatos impressionantes do teatro feito na última nação comunista desse nosso planeta – e escrevo essas linhas com dor no coração, que mesmo conhecendo Fidel Castro pessoalmente, duvido que a ilha que tanto foi referência em tempos de luta resista ainda por muito tempo. Mas me adianto, de não poder agüentar, após a fruição do último final de semana da peça, há pouco encenada no Galpão do Folias.

Um musical? Uma crítica política? Uma história familiar? Cabrujas é para a Venezuela, e sobretudo para Caracas, o que Shakespeare é para a terra dos lords. Com a desculpa de relembrar a viagem ficcional de Gardel a Caracas, coincidindo com a data da morte de Lênin, Cabrujas consegue, em 1979, – é sempre bom lembrar as datas – incendiar a sala Alberto de Paz e Mateos, onde apresentaria a peça 68 vezes para receber o aplauso de pé de quase 12 mil pessoas. Os meus, por pelo menos sete vezes. Pena ter ido embora a memória nas fumaças da vida, pois gostaria de relembrar o elenco de tão primorosa montagem venezuelana.

Mas cá estou, junto com Bárbara Heliodora e muitos outros contemporâneos meus (por vezes vilipendiados por esses jovens que aqui se arriscam a brincar), desbravando esse meio absolutamente novo que é a internet. Cá estou também relembrando nesse exato momento as marcações nada intuitivas e extremamente bem pesquisadas de Elvira, personagem de Bete Dorgam, atriz que em 2005 (quando eu era bastante amigo do júri) foi indicada ao prêmio Shell. Mal sabe ela o quanto de dedo meu tem nessa indicação, mas isso fica para outra crítica…

Marco Antônio Rodrigues logra mais um sucesso de público e crítica relembrando Cabrujas e Tchekhov (com suas Três Irmãs) para demonstrar que a estrutura familiar, desde aquele tempo, atendia somente a premissas pragmáticas como a manutenção de uma casa, e que mesmo quando florescia a revolução (que digo, companheiros, ainda há de chegar !), já havia daqueles que nada queriam com a construção de um mundo comunista, mesmo que por fora parecessem companheiros. Os discursos familiar e revolucionário dão o tom da contradição – e é sempre bom lembrar que teatro é contradição e dialética – e serão profundamente abalados com a chegada de Carlos Gardel.

Apuro em todos os detalhes é a marca desta montagem que usa o melodrama em sua linguagem como forma de dar o tom da farsa, criticando inclusive o próprio Cabrujas. Lembro-me bem, caminhando por Nova York, de como ele, Cabrujas, falava, anos depois de ter escrito El día que me quieras, que sua carreira de dramaturgo para a televisão ia de vento em popa. Será que vivo, Cabrujas estaria trabalhando na televisão do companheiro Hugo Chávez?

O Galpão do Folias dá um tempo com a temporada de Orestéia, mas se mantém a todo vapor, com esta montagem de repertório e mostrando como 10 anos – nós sabemos, não é mesmo Bárbara? – são só um começo. Garanto a este incauto leitor que até aqui chegou: se você pesquisa América Latina, não há grupo teatral em São Paulo que mais coloque questões sobre o tema. O Folias então fala, com El Día que me Quieras, de uma identidade: o que é ser latinoamericano nos tempos em que a luta comunista parece ter feito uma pausa estratégica?

5 estrelas vermelhas

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