Ninguém sai daqui vivo

Críticas   |       |    10 de junho de 2008    |    3 comentários

O bom filho ao lar retorna

Na última edição do evento Leit’s Dance, promovida pela Dicult (Diretoria de Culturas da UFU), no Goma, o público underground pôde conferir, ao invés das tradicionais bandas independentes, Ninguém sai daqui vivo, uma performance rock-teatral ou happening para James Douglas Morrison. Estrelada por Fransérgio Araújo, retornando a terra natal depois de vários anos no Oficina, a apresentação não seria um show cover do The Doors, apesar da semelhança do vocalista Jim (acho que escutei isso umas cinco vezes no bar, que abrigou o público que, por força do atraso, bebeu um pouco e entrou levemente embriagado para a sala de apresentação).

Ouve-se um grito do ator ainda na coxia perguntando se todos estavam preparados, tendo poucas respostas. Não satisfeito, fez a linha Xuxa e gritou várias vezes até ouvir a resposta de todos em uma só voz: ESTAMOS! Ao som de The Doors, convida todo mundo a dançar (seria uma referência ao nome do projeto?), e com medo de ser agredida, a platéia toda se levanta e dança (se bem que alguns só balançaram a cabeça ou bateram o pé no chão).

Daí por diante, o performer, sentado em uma cadeira, lê incessantemente poesias e letras de músicas coladas no chão, favorecendo-o a parecer ainda mais com o ídolo do rock que sempre aparecia em fotografias com o pescoço torto (o Lume ficaria impressionado com esse exercício de mimeses corpórea). As leituras, que ocorreriam depois num balcão, numa caixa de som e num canto afastado do espaço, eram intercaladas com interações com a platéia, ilustrando as músicas do The Doors que o DJ colocava pra tocar. Como assim? Nos primeiros acordes de Light my fire, o ator pedia um isqueiro para a platéia e ficava soltando faíscas adivinha onde…

E a “liberdade”, que a todo tempo o Jim Morrison do cerrado pregava, era colocada em prova. Quando sentado em sua cadeira instigava o público a fazer perguntas, e respondia a qualquer uma lendo o que estava escrito no papel colado no chão (uma piada à alucinação poética dos anos 70?), sendo que as perguntas eram feitas em grande parte pelo próprio DJ que acompanhava as cenas.

As pessoas que se negavam a interagir, como uma moça que não quis beijar o rapaz, eram chamadas de reprimidas (e não apenas estavam usando de sua liberdade de decidir se participariam). E algumas manifestações de parte do público, entusiasmado com o poder de liberdade, não tinham respostas do grande profeta desse sentimento. E a liberdade da performance ficava presa a um roteiro quadrado com início, meio e fim, mesmo que a todo instante isso fosse maquiado com ações do tipo: “Que música vocês querem ouvir agora?”.

E pra não fugir à regra, minha geração é atacada (mesmo que subconscientemente) por sua alienação e chove mais um monte de críticas à televisão, capitalismo, fim-do-mundo, ser ou não ser eis a questão… E tenho que ouvir mais uma vez que não se fazem mais gente underground como antigamente. Liberdade ame-a ou deixe-a? Pra me defender só uma citação do patafísico Ionesco: “Uma única palavra pode lhe dar pistas, uma segunda o perturba, a terceira o deixa em pânico. A partir da quarta, é a confusão absoluta”. Pode ser que, no caso do happening, trocando palavra por outras coisas isso fique ainda mais claro.

36 pessoas com medo de interagir

P.S.: Antes que me esqueça, todos saíram de lá vivos, prontos pra comer uma pizza, ou melhor, pão sírio com berinjela e quiche de ricota, afinal no Goma até as comidinhas são alternativas.

'3 comentários para “Ninguém sai daqui vivo”'
  1. FransergioAraujo disse:

    Este critico que estuda teatro em Udia, escrever critica numa revista de teatro me parece mais um garoto de classe media tentanto usar a”forza” da midia pra exprimir seu gosto de pequeno burgues. Mais de muito mal gosto, alias vi um trabalho dele em Udia que tratava de assuntos alegres bem ao som de principe encantado.(rs).
    Aprendendo a ser critica ou quer dizer critico me lembro dele em uma oficina de diretor que alas ele me parece ser diretor ? Talvez ele saiba por onde passa a critica teatral ou fecha com estilo “so falo bem do que eu gosto”, incapaz de saber de fato onde se encontra a linguagem cenica e a fofoca de bastidor, acho que o criador do curso de teatro(Antonio Mercado) que ele fez ou faz em Udia , do qual ajudei fundar ,diria a ele assim: – deveria ter lido melhor Yan …Cujo biblioteca esta em Udia, acho que ele faltou a essa aula. Minha volta passageira ao lugart onde nasci e tantos outos artistas que passaram por ai e estao no eixo-rio-sp talvez tivesse raiva desta mente distorcida da lei de dionisio.Entao meu caro devo te dizer va escrever bula de remedio essim fica mais facil repetir as receitas …….

  2. Não sabia que tinha um gosto de pequeno burguês. Achei apenas que o exprimido na peça não conversa muito com minha geração. Engraçado que nos lugares em que foi apresentado o happening, o público era em sua maioria formado por garotos de classe média (tô me sentindo um playboy dançando trance depois dessa descrição). Será que as mentes não burguesas teriam outro tipo de reação? Ou a performance tende a atingir outra geração, que viveram os tempos da paz e amor (ou aqueles que não sabem o que estão fazendo no século XXI)? Será que só porque a burguesia uberlandense elegeu Victor e Leo grandes ícones nacionaias, ela tem mau gosto?
    Não sei porque as bobagens que escrevo incomodam! Não tenho nenhuma intenção de usar “forza” da mídia. São apenas pensamentos falando alto (e buscando algum tipo de reflexão) e se esses são gostos de um “garoto de classe média”, não sei se dão raiva nos importantes artistas que estão no eixo-rio-sp. Aliás, com esse lance todo de descentralização do eixo, leis de incentivo e blábláblá será que quem tá lá é melhor que quem tá aqui?
    É sim, eu tive um momento de “assuntos alegres ao som de príncipe encantado” (nossa, vc viu?), e não vejo problemas nisso (pelo contrário, em um teatro contemporâneo ultra pós-moderno, encaro como um respiro). Cada um tem os seus momentos e receitinhas a se influenciar. Ainda mais quando se está no início de uma carreira de direção teatral. O pior é quando essas receitinhas a seguir permanecem anos e anos (mesmo depois de uma carreira no eixão) aparentemente só marcando um estilo.
    Pra garantir (e depois os meninos da academia não me zuarem), eu não estudo teatro na escola que o Antonio Mercado criou (apesar de ter freqüentado algumas aulas).
    Sorte rapaz!
    Uma pena sua volta pra casa ter sido rápida. Seria um prazer vê-lo fazendo Suassuna.
    P.S.: vou voltar à minha realidade de proletário. porque de burguês só o desejo de ser (qual o problema?)!

  3. Juli =) disse:

    hahahahahaha. “forza” da mída na Bacante deve ter sido piada Emilliano! Imagina o estrago que você faria na Veja!!! Affff rs

    Acho que esse tipo de pensamento (força da mídia, mídia conservadora de direita etc) ficou tanto tempo na moda que viciou. Não que a maior parte da grande mídia não possa ser considerada conservadora e “burguesa” (se é que cabe o termo). O problema é quando as pessoas estendem a mesma crítica a tudo o que encontram e perdem as oportunidades de diálogo que aparecem porque estão traumatizadas.

    Agora, precisava citar Victor e Leo??? rsssssssss

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