O médico e os monstros

Críticas   |       |    28 de outubro de 2008    |    2 comentários

Porque metade de mim é um médico e a outra metade é um monstro

Foto: Divulgação
Digamos que está na moda discutir o uso do texto no espetáculo teatral. É uma onda de discutirem (em jornal, blogs, livros, filas de banco, programa de fofoca) o porquê de montar determinados textos, a apropriação que grupos fazem de certas histórias ou até que ponto o autor manda na encenação que fazem de seu texto. E num domingo, nas profundezas do teatro da Fiesp cheio de fumaça (será que o Hirsch esqueceu a máquina dele lá em sua última temporada?), com uma platéia formada em sua maior parte por senhoras aposentadas, um grupo de cômicos me mandam uma mensagem subliminar: “o importante não é a história, mas o modo como se conta a história”.

Em O médico e os monstros, baseado no romance de Robert Louis Stevenson, o La Mínima prova que os porquês moralistas-formativos-funcionais de se montar determinadas histórias (super importante pra uma boa justificativa de qualquer edital de subsídio de dinheiro público para o teatro) vão pelo ralo com uma encenação onde o poder da atuação é colocada em primeiro lugar. Parecia não ser importante pensar em como somos seres com dois lados – o bom e o mau – e o qual seria o melhor comportamento para se adotar em uma sociedade. O foco era a irreverência entre brancos e augustos, e qual seria o resultado dos jogos cênicos propostos (e como era de se esperar, alguém sempre se dava mal).

Com detalhes minimamente trabalhados, os clichês circenses me pareceram inéditos até então. Marcas ridículas, como a risada com a forte balançada de cabeça do palhaço ne me quitte pas acabavam em risos na platéia. E o monumentalismo do circo-teatro do século XXI é trocado por lugares comuns, como dublagens, apelo sexual, pancadaria e caretas, ganham a platéia por utilizarem o vigor do palhaço circense (o coitado que faz as mesmas reprises há décadas e continua como se fosse a primeira vez) que usa da fórmula pra tirar a essência sem nenhuma maquiagem (vindo com sérios riscos de pegar os coleguinhas de palco com algumas surpresas).

Alguns atores me deixam com uma imensa vontade de dar um abraço bem forte. Não, podem ficar tranqüilos, ainda não sou um tarado, apesar de ainda não ter descoberto o porquê real dessa vontade. Vai ver que é uma forma de agradecer o momento que a pessoa me proporcionou ou a energia cênica que apesar de todo formalismo entre o palco e a platéia consegue fazer com que me torne um parceiro de cena. Agora na minha lista, liderada por Grace Passô, está o Fábio Esposito. O gordinho, que se divide entre mordomo e tio da mocinha, tira piada das coisas mais bestas como seus repetitivos “Exxxxxxxcuse me”. Melhor que isso só duas putinhas dançando Dancing Queen!

10 pedaços de um corpo espalhados no palco.

'2 comentários para “O médico e os monstros”'
  1. Gabi disse:

    Não tem o que falar desta peça! É muuuuuuuito boa, os atores são ótimos, é um conjunto que resulta em um trabalho perfeito! Não é uma peça chata, é uma história que dá mais e mais vontade de assitir! Vale MUITO a pena ir assitir!

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