Talvez
Tô começando na crÃtica, alguém me explica?
Foto: Juny KP
Essa é uma resposta à crÃtica de Luiz Marfuz, publicada ontem no jornal Subjetivo nº 05, veÃculo do FIT 2009.
Se você não leu a crÃtica dele, esse texto é inútil.
Luiz
Seu primeiro parágrafo deu conta de uma descrição da cena. Nós também muitas vezes fazemos isso de descrever a cena, mas vale sempre perguntar: pra quê serve isso mesmo?”
Seu segundo parágrafo também é uma descrição do que acontece na peça. A pergunta prossegue.
No inÃcio do terceiro parágrafo, fiquei com uma dúvida. O que quer dizer “ótimo intérprete e roteirista”? Você quis dizer ótimo pra quê? Gostaria de reforçar que o final desse parágrafo também é uma descrição da cena. Começo a pensar que talvez você esteja quereno dialogar com quem não viu a peça. Será que isso se efetiva? Já foi um terço da crÃtica.
No quarto parágrafo, mais uma dúvida. Você diz que é um “acerto” a habilidade de “passar rapidamente de um estado para outro de forma súbita, quase impercetÃvel; estados que se atam num único fio: a espera que enlouquece”. Por que é um acerto? E pra que serve uma “presença dúbia de um sujeito em ‘estado de ficção'”? Desculpe a falta de parâmetros, mas é que fica parecendo que é só um elogio à interpretação do ator.
Sobre o quinto parágrafo, você realmente queria saber “quem está mesmo ali? Ãlamo que se diz Dário? Dário impregnado de Ãlamo?”? A que reflexão você quer nos levar? Verossimilhança? Verdade ou ficção? O final do parágrafo me parece mais uma descrição, pela chave da orelha de Lynch, que como retorno à sua crÃtica, devo dizer, não me disse nada (mesmo depois de rever Blue Velvet). Mas isso também é uma questão subjetiva.
Descontado o merchan do FIT no sexto parágrafo, fiquei pairando por mais uma grande descrição, a seu modo, com um elogio no final à “direção certeira e eficaz de César Augusto”. O que define uma direção certeira e eficaz? Arco e flecha ajudam?
Gostei da sugestão da pizza no sétimo parágrafo. Entendi a relação indireta com a situação do Senado brasileiro. É como se compartilhássemos de toda a merda ao assistir a peça, certo? O final do parágrafo, seguindo seu tom de elogios, é sublime “o ator, talvez, não”. Gostei sobretudo do emprego das vÃrgulas.
Depois de nova descrição no oitavo parágrafo, chegamos ao final do texto em que você conclui que a companhia dos atores sempre atuou bem no conjunto e que agora se lança a novos saltos. Nunca soube como definir o trabalho anterior da Cia dos Atores. Agora posso dizer que atuam bem. Resta responder: bem pra quê? E que a peça (finalmente uma reflexão) dentro do contexto das autopeças, seria “uma anti-fábrica de peças não serializadas e não expostas ao mercado comum da reprodutibilidade técnica”. Eu poderia dizer “talvez”, como você conclui o seu texto. Mas prefiro perguntar: mesmo? A própria circulação e o formato de fácil montagem não sugere uma reproditibilidade técnica? Num contexto mais amplo, a mÃmesis que o ator persegue a peça inteira, não seria a forma mais cara à indústria cultural e, com essa escolha, ele próprio não estaria reproduzindo esta forma mercadoria?
1 abraço
Ps: Pergunta final: você pensou que daqui a 100 anos o seu texto pode ser lido como registro histórico? Se sim, o que exatamente você quer que entendam do nosso tempo?
Ps2: Confira também a outra crÃtica da crÃtica de Talvez.
Para que serve uma crÃtica de uma crÃtica?
Pois afina, você disse menos ainda do que o outro cara…
Boa pergunta, Paulo.
Lendo a outra crÃtica da crÃtica de Talvez, talvez fique mais claro pra que serve. Vou incluir o link.
Uma dica: não existem perguntas neutras.
Abraço
Eu li a outra crÃtica, por isso estou perguntando. Ela se limita a “critica-la” apenas e não avançar nos questionamentos já propostos.
Legal, Paulo, então você leu as duas.
Dentre as perguntas, há uma série de apontamentos que me parecem ser “esquecidos” pelos dois crÃticos e quero ouvir o comentário deles. Ou o silêncio, que também seria revelador.
Na parte dos elogios, especificamente, quero entender pra que servem. Qual é o critério para dizer que uma peça é boa? O que faz de uma direção ser certeira?
E no que está fora da relação com a peça, ou seja, grosso modo, o que a peça modificou/moveu/transformou no crÃtico pra além daqueles minutos compartilhados com o ator? Isso dará conta, em alguma medida, de revelar mais aspectos da peça.
Mas é claro, com a crÃtica que escrevi quero discutir muito mais a própria crÃtica, do que a peça. E isso também é uma escolha que leva em conta o espetáculo.
Não sei se me faço entender.
Abraço.
Na verdade o que você critica, é justamente a própria critica teatral não?! O problema que isso caà em uma relação tautologica pois como você disse, assim como dizer “o espetáculo é bonito”, se perguntar “o que faz um espetáculo bonito?” não avança nada e muito menos questiona nada.
Claro que eu vejo sua intenção mas o fato é como se encara a própria crÃtica(e QUEM escreve a crÃtica), e aà vai uma posição muito particular, a crÃtica teatral dificilmente vai sair de algo pessoal e parcial, aceitando isso e ainda mais com o advento da internet é algo libertador, pois se você não concorda vai lá e escreve a sua (salve a bacante). A meu ver a crÃtica é um registro (sem deixar de ser pessoal e parcial), quanto mais ficar claro isso, melhor e melhor ainda quando se pretende a uma reflexão.
O problema que acontece na maioria das crÃticas que leio, não só aqui em Bacante é primeiramente uma analise e uma leitura rapida, não levar em conta que nem sempre o leitor viu o espetáculo e se privar de ir mais fundo na analise. Realmente não me importo e nem me parece odioso quando o crÃtico expoe seu gosto pessoal, o problema aparece só quando isso parece turvar qualquer analise ALÉM do seu gosto (“alô, a Babi está?”). Voltando sobre a analise rasa dos espetáculos, o que acontece me parece que o linguajar dos jornais com seus cadernos de leitura e poucas linhas vira um padrão, não estou falando que o ideal seriam teses (que me parece que a academia quase tomou esse espaço de analise de “obras de arte”) mas é sintomatico que grande parte da crÃtica feita não vá além de simples sentenças.
Até!
Oi Paulo
A gente precisa de mais gente puxando a discussão pra outros lados, como você fez com o seu comentário.
Acho que, mesmo que publicássemos a mesma crÃtica do FIT aqui, não seria uma relação tautológica. Isso porque os veÃculos são muito distintos, o meio é outro, a circulação e relação com o texto é outra. Mas entendo o que você quer dizer quando afirma que minha crÃtica não avança em nada.
No entanto, coloco em questão os pressupostos de crÃtica que temos (eu, você, o autor do FIT) ao colocar as palavras no editor de texto. Isso pq espero de um crÃtico de festival a relação crÃtica máxima. Exacerbar as relações da peça com o mundo e mostrar o que há de egóico e meramente vaidoso numa obra. Isso não veio na crÃtica de Talvez e tinha que vir.
Acho que a crÃtica que produzo vem sempre em diálogo com meu tempo e com o meio onde estou. Não é meu papel comentar da peça, nesse caso. Porque decidi que não é meu papel. Não tenho praticamente nada a comentar da peça. Ela passou por mim como uma brisa quente no verão, uma redundância, uma lembrança esquecida três dias depois. A crÃtica do festival reforçou essa sensação, a meu ver.
Quis então mostrar o surrealismo disso tudo e acho, de verdade, que no diálogo proposto, abrimos mais cÃtica do que falando da peça propriamente. Ou meus gostos, ou os gostos do crÃtico ou se crÃtica é ou não uma questão de gosto.
Parto sempre do pressuposto de que crÃtica é incompletude. Você tem que definir se quer falar com o grupo, com o público, com quem não viu, com sua geração crÃtica, e, o pior de tudo, à s vezes com você mesmo. Por aÃ, não existe texto que dê conta de analisar tudo. Mas estamos na internet e as vozes são múltiplas. A sua questão, por exemplo, dá conta de uma lacuna do texto. Outras pessoas podem escrever e dar conta de outros lados da obra (aqui na Bacante ou em qualquer lugar). Tudo pode ser linkado e a crÃtica propriamente pode ser a somatória dos links.
É uma questão que me bate o tempo todo essa de que, na média, não desenvolvemos muito as questões estéticas por aqui. Mas pra mim, vem uma sensação de que há tanta coisa torta a ser apontada, que a estética fica quase, na maior parte das vezes, como um pano de fundo pra uma relação hipócrita de palco/platéia. E por isso quis colocar em questão qual é o papel do crÃtico nesse jogo perdido.
Descordo de que grande parte da crÃtica feita não vá além de simples sentenças. Ha que se ler com calma e questionar o que não se compreende, nem se explicita. Mas acho que há mais que sentenças por aqui.
Abraço e apareça.
Fico pensando o quanto tb as indagações podem levar a inércia de qualquer ponto de vista seja ele positivo ou não. I
Minha pergunta, FabrÃcio vc viu o espetáculo ? Escreva sobre… Talvez, este advérbio ajuda, vc contribua tb para um possÃvel desenvolvimento da a cena, do teatro, da peça, seja lá o nome que se dá ao instante, que passou e não e repete.
O final do texto seria …”e não se repete”… mas gostei de como ficou… mantenho a frase do meu primeiro post !
Oi César
Valeu pela visita. DifÃcil ver o diretor de uma peça por essas bandas. Pela tua pergunta, dá pra concluir que eu foquei tanto em criticar a crÃtica, que dá até impressão de que não assisti. Acho ótimo. O fato de ter visto ou não importa menos nesse caso, mesmo assim devo dizer que assisti duas vezes.
A primeira vez na mostra da Cooperativa em São Paulo (lembra? aquela apresentação que atrasou meia hora) e outra em Rio Preto. Como bem apontou o Lúcio Agra, a apresentação de Rio Preto foi melhor pra ver detalhes da peça, pela distância. Mas foi uma opção minha não escrever mais sobre a peça. Queria falar da crÃtica e, por meio dela, falar sobre a circulação da peça. Entendo a sua cobrança por falar desse momento que não se repete. Historicamente é um crime: se só lerem as duas crÃticas que publiquei, ninguém saberá como é a peça. Mas quero manter a teimosia da escolha e dialogar dessa vez só com os crÃticos e com quem já assistiu. Toda vez que escrevo sobre uma peça, faço essa escolha (público que viu, público que não viu, grupo, curadoria, crÃtica). Caso veja pela terceira vez, falarei sobre a peça propriamente.
Abraço
Fabricio,
Vou ser bem verdadeiro. Estava dando uma pesquisada sobre a peça e cai em vc. rsrsrsrs… Talvez, olha ele ai de novo… realmente….tenha vontade de ler os “seus olhares” sobre o trabalho.
Bem, vc viu a peça-gincana na Mostra Latina Americana em SP. Foram 2 montagens em menos de oito horas e sem equipe de suporte para isso, os vÃdeos foram, um fiasco. E precisei destes 30 min. para q no mÃnimo a peça não parasse…Meio cilada. Mas no final das contas tivemos um saldo (ou salto) no entendimento da peça com relação a distância do público. Renho vontade de ampliar a cena desta peça.
Se tivéssemos mais tempo acho que chegarÃamos em opções e escolhas mais consistentes… O próprio lixo ter sido no fosso do teatro é um ótimo exemplo.
Em Rio Preto, onde tivemos o tempo para maturar e ocupar a sala, foi outra situação…
Aqui no Rio estamos no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea) dividindo a pauta com meu companheiro de Cia. dos Atores, Enrque Diaz e seu intrigante IN ON IT…
Outro espaço outros ganhos, novas opções e assim vamos levando. Quando quiser no ver avise !
Abracos
Oi Cesar
Se vier a São Paulo para temporada, vai ser ótimo rever a peça e trocar uma idéia com você sobre ela, inclusive pra produzir um terceiro texto.
Abraço
Só pra não deixar passar… Cesar disse que “talvez, este advérbio ajuda, vc contribua tb para um possÃvel desenvolvimento da a cena, do teatro, da peça”. Penso que, talvez, pensar a crÃtica e falar dela também seja uma maneira de contribuir para um possÃvel desenvolvimento da reflexão e atividade crÃticas que, mais adiante e por caminhos mais complexos, talvez, possa contribuir para o próprio “desenvolvimento” do teatro, seja lá o que for isso.