Outubro de 2007

Editorial   |       |    8 de outubro de 2007    |    5 comentários

 

Seis meses, minha gente…

Ok. Não rolou o editorial de cinco meses. Não, ninguém aqui curte numerologia, acontece que já é uma tradição essa coisa de pular editoriais. Tipo a Festa de Nossa Senhora Achiropita, que sempre rola e a gente nunca lembra exatamente quando que é. Inclusive se você encontrar o editorial de dois meses andando por aí, manda pra gente que publicamos. Mas veja pelo lado bom: você conhece alguma revista que tenha editorial zero? Além disso, lançamos o editorial de seis meses com três dias de antecedência. E não vamos nem entrar no mérito do que é o tempo, porque até a Bacante tem mais o que fazer. Questões temporais mundanas à parte, vamos ao que interessa.

Rio Preto, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Festivais internacionais que nunca planejamos cobrir. São tantas emoções! Completamos seis meses no momento em que escrevemos do Rio e de São Paulo ao mesmo tempo. E como é péssimo notar que os preconceitos estavam certos. O teatro no Rio não ocupa o mesmo lugar que ocupa em São Paulo, como disse Jefferson Miranda em poucas palavras no palco Petrobras do riocenacontemporanea. Nem subjetiva, nem espacialmente, mas a gente também não está afim de filosofar sobre o que é o espaço. Confirma-se a idéia de um teatro que é caminho pra uma rede de tevê que conhecemos bem. Haroldo Rêgo arrematou: “O Rio de Janeiro é o pior lugar do Brasil pra se fazer teatro”. Não fomos nós que dissemos não. Nem precisou.

Falamos comparativamente sim, pra tentar entender o que difere a cena explosiva de São Paulo da cena miúda do Rio de Janeiro. Miúda no sentido de uma quantidade muito pequena de gente que faz um teatro que experimenta, desacomodado, gente que se insta pelo que está mostrando. Sérgio Roveri comentou há pouco tempo em seu blog que estamos absurdamente bem servidos com a cena paulistana. Não é possível dizer que da quantidade saia qualidade, mas definitivamente temos mais opções. Até porque, sempre que tem um festival internacional, as peças fazem escala por aqui. Pra quê ter um Festival Internacional próprio, se podemos pegar carona no dos outros, não é mesmo minha gente?

Nesse contexto complicado do Rio, surge o riocenacontemporanea. Ao mesmo tempo que traz trabalhos excepcionais do exterior, é obrigado, por questões que nos fogem à compreensão, a colocar montagens nacionais que não inventariam nada a não ser esse caminho pra rede Globo. O tema do festival é o Inventário e há uma coincidência com a nossa curta trajetória. Já é tempo de inventariar o que foram esses seis meses e refletir sobre o que é definir amizades e encontros extremamente potentes com gente que passa por aqui toda semana além de nós mesmos . É estranho perceber que há dias em que vemos nossas caixas com mais e-mails de divulgação do que de comentários. Finalmente, a dúvida de sempre: com quem estamos falando?

Em Porto Alegre, a programação cotidiana da cidade deu uma pausa, e tudo o que se via em cartaz (salvo pouquíssimas exceções) fez parte do inventário daquele festival. Havia programação nacional, internacional e, claro, uma programação local, só que tudo misturado na mesma grade. Já viu a confusão? Grandes espetáculos internacionais (porque a grana e o nome do festival acabam virando um critério pra não se trazer qualquer coisa), alguns grandes espetáculos nacionais (outros nem tão grandes assim, mas tá valendo) e várias peças locais mais preocupadas em fazer certinho do que em ousar. Deu pra entender o funil? Quanto mais caro pra trazer, maior o critério de seleção, e mais criterioso o inventário. Simples assim.

Mas vamos voltar pro inventário da Bacante. Completar seis meses dá gosto porque vemos que não fugimos da proposta, apesar de termos expandido o escopo (e apesar da própria proposta ser uma falta de proposta muito criteriosa). É ver que não somos Zeca Pagodinho: nosso amor pelo teatro não é de verão , nem atende ao gosto de nenhuma marca. Nosso amor já dura duas estações de publicações. O mea-culpa vem nas seções entrevistas e matérias, que estão virando seções de atualização bimestral. Vocês não têm idéia do quanto gostaríamos de poder aumentar esse conteúdo. São inúmeras as pautas que caem principalmente porque essa bagaça aqui é feita com o tempo que nos sobra. Até que para uma sobra, a Bacante tá indo bem… Mas a sobra também é um conceito filosófico avançado demais pra nós.

Mas poxa vida, são seis meses! Duas estações, dois terços de uma gestação, três casamentos de alguma celebridade qualquer… E a revista está firme e forte, independente, falando barbaridades como nunca, com três festivais internacionais no portifólio. Tudo sem um único patrocínio, fomento ou propina. Dá gosto ver que aquele projeto maluco que nasceu no saguão do Teatro Alfa tá dando certo. E não vamos parar por aqui não. Para os próximos meses já antecipamos aqui uma surpresa: estamos rascunhando uma repaginação, pra deixar a revista ainda mais bonita, a navegação mais fácil e propondo diálogos ainda mais legais. Quando? Xiii… esperamos que em breve.

Nesse período foi legal percebermos até mesmo o que queremos dizer com essa história toda. Mais que isso, o que queremos dizer com essas análises que fazemos que insistimos em não chamar de críticas (embora saibamos que, lá no fundo, são críticas). Fica claro que não queremos fazer análises jornalísticas pseudoimparciais e genéricas, assim como também não queremos cair em academicismos herméticos. O que a gente quer mesmo é fazer uma crítica escrita por espectadores, que sabem do que gostam e do que não gostam, e são exigentes e críticos com relação àquilo que assistem. E fica claro sobretudo nas respostas aos comentários que o que a gente mais curte é dialogar, cutucar, provocar, trocar idéias. Ok, sacanear os anônimos sem educação também é legal. Mas responder a comentários bacanas é mais legal ainda.

Agora nossa luta é pra manter este espaço e encontrar sempre nova formas de diálogo com o teatro, provocar reações e sobretudo reflexões que normalmente não costumamos ver por aí. Pra isso, nenhuma ferramenta funciona tanto (e incomoda tanto a alguns) como o humor. E isso a gente vai continuar experimentando, meio que como nossa premissa editorial número um. Mas não esquecer da premissa zero e essa já sabíamos antes de abrir a Bacante: a cerveja, diferente da pizza, tem tudo a ver com teatro.

'5 comentários para “Outubro de 2007”'
  1. Maria Clara disse:

    ah, meninos. vocês estão de PARABÉNS!! OBRIGADA PELA ´BACANTE´!! pelo trabalho nas horas vagas, sem patrocínio. pelo amor… 🙂 sem puxassaquismo. apesar de vocês não estarem em sampa agora no feriado. rsrs. por falar nisso, vocês estavam na festa do roveri? beijoabraço!

  2. Ronaldo Ventura disse:

    Vida Longa!

  3. Marcelo Fonseca disse:

    Parabéns! Desejo-lhes muito sucesso. Vocês merecem.

  4. Vives disse:

    Discordo. Seis meses de revista e vocês nunca comentaram sobre os artistas da Malhação. E também nunca ouvi nenhuma observação sobre os dotes artísticas da vencedora do concurso Garota Dolly.
    A lamentar.

  5. Fabrício Muriana disse:

    Vives, Vives.
    Logo se vê que você não anda acompanhando as resenhas da Leca. Ficam aí algumas indicações de links

    http://www.bacante.org/resenhas/2007/04/quinta-feira-hoje-dia-do-amor.html
    http://www.bacante.org/resenhas/2007/09/beverly-hills-90210.html
    http://www.bacante.org/resenhas/2007/08/o-passado-na-cara.html

    Ou seja, se você procurar a palavra “malhação” no Google, periga cair aqui (óbvio, o lugar certo).
    E sobre a Garota Dolly, está na pauta de Natal. Aguarde.

    Abração

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