Mapeamento eternamente em construção – Diálogo com o entorno

Especial   |       |    3 de novembro de 2009    |    0 comentários

2. Diálogo com o entorno: como as questões da sua região estão presentes na obra do grupo e, por outro lado, como o grupo está presente nas questões de sua região?


Cia 4compalito – Belo Horizonte – MG
Representante: Júlio Vianna

Até dois anos atrás a gente não tinha sede, trabalhava com permuta e essas coisas. Aí de dois anos pra cá a gente locou uma sede, num bairro bem bacana de Belo Horizonte, bem residencial, bem bairrinho mesmo, gostoso, então a gente entrou, a gente já é reconhecido lá pela comunidade, no início tem um estranhamento, mas depois tem um envolvimento. Mas a gente ainda não conseguiu efetivamente desenvolver uma atividade com o bairro, que é um desejo nosso. No ano passado, inclusive, a gente previu isso… Quer dizer, não exatamente. A gente desenvolveu um projeto de pesquisa vinculado a bares, universos de pessoas que freqüentam bares e alguns dos bares que a gente trabalhou foram bares do bairro Concórdia, que é onde a gente está alocado. Mas em termos de troca até hoje foi só o que a gente conseguiu fazer. Mas existe uma demanda interessante, porque muitas pessoas no entorno nos pedem oficinas, cursos e, ocasionalmente, quando a gente tá ensaiando, vez ou outra a gente chama de “meia porta aberta”, a gente brinca com isso, porque esse local que a gente alugou é uma loja grande, não é bem um galpão, é uma loja e, como a ventilação não é muito boa, só tem janela no banheiro, a gente às vezes deixa a porta semi-aberta embaixo, pra ventilar enquanto a gente ensaia e geralmente aparece alguém pra assistir. Então a gente até levanta um pouquinho a porta, eles até pedem, às vezes, a gente tá ensaiando, eles batem: “dá pra levantar um pouquinho?”. Ocasionalmente, né? Não é rotina, mas é bem interessante e a gente quer muito, inclusive a gente vem discutindo esse ano como a gente pode fazer essa troca com a comunidade, a gente já pensou em fazer um curso livre… Indiretamente a comunidade acaba nos alimentando, você começa a ter uma relação de vizinho mesmo com eles, de troca de açúcar, mesmo, de pegar a escada emprestada, de alguém falar: “ah, peguei sua correspondência”, porque a porta tava fechada e não passou, então essa relação é gostosa. E ela cria uma coisa no teatro que é bacana que às vezes, dependendo do jeito que a gente trabalha, da rotina, a gente perde um pouco o que essa relação mais familiar – não é familiar – é uma relação de cotidiano, de rotina – não na criação, que na criação a gente foge disso – mas uma relação cotidiana positiva, isso que eu falei mesmo, de trocar açúcar, de conversar com as pessoas sobre outras coisas, de trombar com o seu vizinho na padaria, de comer ao lado dele, isso é bacana. A relação com o entorno hoje é mais essa, mas gente tá com projeto nesse ano pra fazer um curso livre e a idéia é pegar especialmente moradores do bairro e da região e também no nosso próximo processo a gente abrir mais ainda. (…) Com relação aos grupos, na verdade a gente sempre participou e procurou ter uma troca com grupos, seja em formatos de redes, circuitos, movimentos, nosso grupo participou durante 3 ou 4 anos de um movimento que a gente criou em Belo Horizonte chamado Circuito Off de Teatro e a idéia realmente era uma rede de troca e discussão, reflexão artística, mas também na esfera política, na esfera das relações sociais. Mas essa rede, por exemplo, era muito local, era BH e grande BH, vez ou outra tinha alguém do interior, mas o foco realmente era BH e grande BH. E a gente também participou do Redemoinho durante 3 ou 4 anos. No Redemoinho a troca se efetivava mais, tanto em termos de sudeste, quanto de Brasil. Essas redes elas facilitaram essa questão de troca. Quando a gente viaja acaba também trocando com grupos que a gente conhece, mas ações efetivas no Sudeste, por exemplo, a gente praticamente não tem, tirando esses movimentos.

Grupo de Teatro AE – Cruzeiro do Sul – AC
Representante: Edinilson Ney de Souza

A gente tem uma certa dificuldade com o diálogo, apesar de ser fácil conseguir apoios e informação pra gente, ao mesmo tempo é difícil o diálogo com a região. Mas com relação ao crescimento de Cruzeiro do Sul eles têm muito que agradecer ao nosso grupo, o diálogo se torna um pouco mais fácil. Falamos de questões da cidade no trabalho, por exemplo, os grandes empresários que apóiam a gente… Cruzeiro do Sul tem uma coisa interessante, o Jorge Viana que é ex-governador do Estado, ele é tão forte na cidade que, mesmo ele não sendo mais político, qualquer pessoa pra sair candidato precisa da aprovação dele. É tanto… O pessoal acredita tanto nele que se ele disser que vai chover à tarde, o pessoal tem que acreditar. Existem essas coisas lá em Cruzeiro do Sul. Então, nas peças a gente faz homenagem, falando dessas pessoas que ajudam Cruzeiro do Sul realmente, dão “sacolão” pra todo mundo… são 90 mil pessoas, então fica fácil ajudar todo mundo.

Coletivo Alfenim РJọo Pessoa РPB
Representante: Márcio Marciano

O caso do Alfenim é bastante particular porque como eu sou de São Paulo e é o primeiro espetáculo que a gente realiza, sentindo a necessidade de dialogar com a região, eu procurei estudar a história do lugar e esse primeiro espetáculo relata um episódio da história da Paraíba que é obscuro inclusive pros próprios paraibanos. Então, a partir daí, a gente estabeleceu um diálogo bastante produtivo com a região e a gente tem circulado muito com a região Nordeste por conta do interesse que o espetáculo tá gerando. E a nossa idéia é ampliar agora esse debate pra que os temas sejam nacionais, não sejam tão episódicos da região. Agora a gente já tá com outro espetáculo, quer dizer, tá surgindo um outro espetáculo que trata da questão da repressão durante o período da ditadura militar, então já é uma coisa mais abrangente. E ainda sobre essa questão, eu acho que como existe aí um choque de olhares entre meu olhar do Sudeste com o olhar do Nordeste, tem gerado também um outro interesse, porque dessa fricção é que tá saindo um outro tipo de perspectiva pro trabalho e isso também tem chamado a atenção do espectador, porque alguns lugares por onde a gente passou, já conheciam o trabalho que eu desenvolvi aqui em São Paulo na Cia. do Latão e aí eles se surpreendem por verem os mesmo procedimentos mas de uma forma completamente diferente porque ele é realizado por artistas que são paraibanos que é uma outra forma de olhar as mesmas questões. Isso tá sendo bastante interessante pro diálogo.

Grupo de Teatro Arte e Fatos da Universidade Católica de Goiás – Goiânia – GO
Representante: Danilo Alencar

O grupo de que estou à frente é oriundo de um curso de História, eu sou historiador e o grupo chama Arte e Fatos, como eu disse anteriormente. Então, a gente tenta ao mesmo tempo quando vamos contemplar a dramaturgia ou a concepção de montagem não só criar uma relação com a linguagem e com o contexto fragmentado da região, mas também com a linguagem universal. Como é uma instituição que se baseia na filantropia, esse grupo mantém também oficinas, que são administradas por mim e por outros colegas em outras áreas, outras linhas artísticas que contemplam a comunidade, então o trabalho acaba respaldando não só na linguagem do produto final artístico, como também nesses exercícios de convivência cultural pros alunos da instituição, pra comunidade geral da Universidade e a comunidade também tanto da capital, como do Estado.

Grupo Bagaceira de Teatro – Fortaleza/CE
Representante: Démick Lopes

Assim… Nós não temos uma proposta intencional de regionalismo. Eu sei que é diferente da pergunta, mas é só pra deixar claro. Então a gente não carrega essa bandeira, embora não tenha como fugir disso. A gente não… Nós temos sotaque inerentes de nossa cidade, inerentes de nosso Estado, mas a comunicação com a região… Assim, hoje a gente tem um circuito de trocas com alguns grupos de Estados vizinhos: a gente é muito amigo do Clowns de Shakespeare, já teve trabalho de sala juntos conduzidos por ele, a gente é amigo de um pessoal de Pernambuco, o pessoal da Cia. Cênicas, o pessoal do Angu de Sangue… Algumas pessoas também da Paraíba. Esses encontros eram feitos inicialmente através de um movimento chamado ‘A Lapada’, que é o Movimento de Teatro de Grupos do Nordeste. Tanto com a política como também com trocas estéticas… Hoje deu uma resfriadinha, mas existe esse movimento, essa troca entre os grupos da região Nordeste…

Baião de Dois – Manaus – AM
Representante: Selma Bustamante

Eu acredito que meu grupo – só tem eu que sou de fora o resto todo é de Manaus – então eu acredito que o trabalho que a gente faz é o trabalho de Manaus. Agora, eu fiz Molière. Eu fiz Molière porque ele é a própria Manaus, entendeu? As Preciosas Ridículas… Tem uma briga que ele coloca, sobre a Trupe dele em Versalhes, eu até falei “olha avisa depois que a gente tá usando Molière!”… Porque é muito parecido. Na verdade, a realidade não mudou. A realidade humana não mudou. Mudou a realidade técnica, mas o homem é muito igual. Então, nesse sentido eu acho que você reflete uma sociedade se você sabe onde você tá, conhece onde você tá e trabalha, apresenta onde você tá. Então a gente já fez trabalhos regionais, mas não trabalha só com trabalhos regionais. A gente fez o Auto do Boi, porque o Boi lá de Parintins ele ganhou toda essa repercussão, mas ele perdeu uma parte essencial que é a parte dramática. Eles fazem a festa, mas não fazem essa parte dramática. Então a gente refez isso daí é interessante porque as crianças não conhecem, os adultos se lembram… Então a gente trabalha também com coisas regionais, mas a gente faz uma linha mais do que a gente quer pensando sempre no que a gente tem, pra haver uma troca interessante. Eu acho que se você fizer um teatro que não fala da realidade você se mata né? Você tem que falar da realidade de uma certa maneira que você vê ela com a profundidade que você pode ter e com a troca que você pode ter com o seu publico. Eu faço um Beckett lá – que aliás fiz antes que ele viu? Do Sérgio Britto – é um Beckett, mas é um Beckett musgo é um Beckett com clown. Eu faço os dois atos do Ato Sem Palavras e ele fala do não-sentido da vida… E aí? Eu acho que é uma coisa que tá inerente ao homem. Eu, pessoalmente acho, pra todo mundo… Eu acho que o Beckett é maravilhoso, mas eu acho que o [teatro do] absurdo europeu é um absurdo do pós-guerra, a gente vive uma outra batalha, a gente vive numa rua com gente dormindo, que não sei o quê… Que é um absurdo também, só que eu acho que com muito menos você pode dizer a mesma coisa. Então, por exemplo, eu preferi o Beckett sem palavras, o ato I e o ato II sem Palavras porque eu acho que diz a mesma coisa em menos tempo e o público entende. Até criança entende. Eu acho que a própria criança tem a leitura dela dessa impossibilidade. Eu brinco que a importância que o grupo tem em Manaus é porque ele se mantém enquanto grupo mesmo, quer dizer, às vezes mudam algumas pessoas, mas ele tem uma característica de grupo, não é Companhia. A gente tenta resolver as coisas juntos, embora a gente não consiga… Acaba muita coisa com eu colocando, mas a gente vota, a gente se coloca, a gente tenta fazer uma coisa de grupo… Eu acho isso importante pra cidade. Porque a maioria da cidade trabalha muito com Cia. O cara é o dono e os outros fazem… Então é importante essa ideia do grupo. Eu acho que o grupo tem um papel de formação também, importante que as pessoas… Como a cidade não tem uma faculdade, não tem uma formação… O grupo tem esse papel de formação com aquelas pessoas que estão lá…

Grupo Beira de Teatro e Coletivo Atores a Deriva – Natal – RN
Representante: Henrique Fontes

Então, a nossa grande luta é não levar o termo regionalismo à cena, até porque eu acho um reducionismo bobo, essa coisa de arte regional pra mim é bobagem mesmo. Mas temos um sotaque, temos uma forma de olhar, de sentir, que talvez em outros lugares não tenham, e temos questões também nossas mesmo, da região. Então, eu acho que sim, acho que os questionamentos surgidos ali, até porque esses dois grupos apostam em dramaturgia própria, um trabalho colaborativo em que a gente cria os textos, então inevitavelmente vão surgindo questões nossas que estão ligadas diretamente com as questões de onde a gente vive. O A Mar Aberto acho que tem esse exemplo que é a história de um pescador, na verdade é a história de um homem mais velho, no caso um pescador, que se apaixona por um menino e ele vive esse drama dessa atração. E se passa numa região de pescaria, só que na verdade está tratando um tema muito maior que a relação homem-homem e que a relação de pescadores, a tentativa é extrapolar esses dois universos, a gente têm tentando isso. E eu acho que a gente é profundamente contagiado com tudo, eu digo que Natal é uma cidade excelente pro teatro, não tendo fomento, não quero que isso continue pra sempre, mas o que eu quero dizer com isso é que pra mim é um grande desafio e esse desafio move a gente, porque quanto mais difícil parece que a gente consegue trabalhar com mais afinco numa questão que pra gente é cada vez mais cara, cada vez mais verdadeira, mais profunda mesmo.

Boa Companhia РBaṛo Geraldo РCampinas РSP
Representante: Eduardo Osório

Quando a gente fala de arte… Essa pergunta é meio complexa… Porque, por exemplo, a gente não tem uma preocupação de falar na nossa obra sobre problemas, temáticas que são regionais, mas ao mesmo tempo, a arte trata de temas universais, mesmo que você não queira e mesmo que você esteja fazendo uma coisa mais regionalista, você vai tocar no universal, então, na verdade, esse é um limite muito difícil de clarear, de dizer com exatidão e a gente acaba sendo movido – o que a gente quer falar o que a gente quer fazer – pelas agonias, pelos desejos dos próprios participantes, por exemplo, tem um espetáculo nosso que a gente fez uma oficina com a Luciana Castelo Branco, em que eu levei um conto o Kafka pra fazer uma pequena improvisação e depois não trabalhamos mais com a Luciana, não usamos o método que trabalhamos com ela, pelo menos diretamente, e fizemos um espetáculo que foi nosso carro chefe e que é um texto de Kafka. E que, ao mesmo tempo, onde a gente vai todo mundo se identifica, todo mundo se vê de alguma forma no espetáculo, porque o conto do Kafka é genial por essa universalidade dele porque fala da situação do homem na sociedade moderna. Eu falei tanto que até me perdi… Uma era se a região está presente outra é se a gente está ativo, né? Aí também é outra questão que é uma dicotomia complicada que é um artista criando uma obra que você apresenta onde você está, você tá interferindo politicamente, você já é uma intervenção. E isso também tá ligado muito à viabilidade da produção, né? Por exemplo, em Campinas, a gente tem uma política cultural que foi sempre muito aquém da cidade, que é uma cidade grande, de um milhão de habitantes, e muito rica, mas que culturalmente, apesar de ter muitos atores, inclusive, o distrito de Barão Geraldo nos últimos 20 anos, começou com o Lume, depois a gente, o Barracão Teatro, … tem vários grupos – tô fugindo de novo do assunto – … mesmo assim a gente tem dificuldade de viabilizar as apresentações lá, não tem apoio. O nosso espaço é um espaço que cabe apertado, com pessoas no chão, 45 pessoas. Então é difícil, a partir do nosso espaço, realmente integrar a comunidade ao que a gente faz ali diretamente. Então a gente fica um pouco a mercê disso e aí, por exemplo, quando a gente tem oportunidade, a gente tenta se apresentar em outros espaços, então ou na prefeitura ou em Barão Geraldo, como uma toca mesmo, os grupos acabam se ajudando e a gente vai tentando participar da vida desses outros lugares. Sobre isso, na verdade, acho que é isso.

Grupo Carmin de Teatro – Natal – RN
Representante: Giovanna Araújo

Na verdade essa não é uma preocupação, não é um foco, que a região esteja enraizada ou que a gente esteja se utilizando disso, eu acho que a forma como a gente faz isso é uma forma muito natural, porque é a nossa formação, nosso gestual, nossa forma de se mexer, de falar, de pensar, eu acho que isso traz muito da nossa região porque nós três somos de lá, então isso é muito verdadeiro na gente, eu acho isso acaba se revelando independente da obra que a gente tá construindo, a gente traz isso naturalmente, né? Mas não há uma preocupação em direcionar os trabalhos da gente pra serem necessariamente regional ou não. Nós temos um trabalho que se chama Pobres de Marré, que fala da pobreza, então coincidentemente, esse universo nordestino ele tá muito aparente no trabalho por ter sido construído, ter sido feita a pesquisa lá mesmo, então muitas vezes quando alguém vê esse trabalho, pode até pensar que essa é uma vertente, alguma preocupação do grupo, mas não. Nosso trabalho que a gente tá agora em montagem é um infantil, que também vai no sentido de que o motivo do nosso encontro é poder falar sobre questões que inquietam a gente, que mexem, que movem a gente. E, apesar de ser um trabalho infantil, é um trabalho infantil que questiona muito a arte do ator, então é um trabalho infantil que fragiliza o ator no palco, então é onde as coisas estão acontecendo e não estão dando certo, então esse ator se revela, ora ele é personagem, ora ele se revela ator e se enfraquece, isso é uma coisa que é legal e que não tem nada a ver com o primeiro trabalho, assim, esteticamente, no sentido de que um trata de pobreza, de diferenças sociais e o outro tá tratando de uma crítica da própria arte.

Companhia Carona – Blumenau – SC
Representante: Pepe Sedrez

Há na verdade esses dois níveis de relação, sim. Embora eu não faça exatamente um espetáculo falando dos costumes e maneirismos da minha cidade ou região, mas de qualquer forma as questões que nós levantamos e abordamos acabam sendo muito pertinentes à nossa cidade, pelo menos esse é o retorno que o público nos dá. O nosso espetáculo mais recente chama-se Volúpia, que trata de sexualidade e de tabus, nós ficamos receosos de estrear na nossa cidade, que é uma cidade de colonização germânica e muito hipócrita, uma sociedade muito fechada com relação a sexo, muita coisa ainda é tabu, e pelo contrário, nós temos briga por ingresso. Talvez a gente tenha acertado e esse tiro saiu pela culatra, porque esse povo reprimido tá querendo ver essas coisas que nós estamos discutindo e é um fato, os espetáculos da nossa companhia, que vai completar 15 anos semana que vem, a gente já tem um público que quer assistir os nossos espetáculos. Fora isso, a nossa mostra dos alunos nós fazemos na escola, temos uma mostra semestral dos trabalhos produzidos durante o semestre letivo. A nossa última foi a cena contemporânea com o olhar sobre a cidade, então as pesquisas e trabalhos dos alunos foram justamente por aí, foi ver a nossa cidade com outros olhos e geraram oito pequenos espetáculos que falavam dessas questões – desde crianças, adolescentes e adultos, nós separamos assim, eram oito turmas que fizeram e uma turma de clown, e eles trabalharam sobre esse mesmo tema com a liberdade de criação de cada turma, claro. Nossa relação e nosso vínculo político são muito fortes também, nós estamos muito presentes, eu sou diretor e criador do grupo e já fui por algumas vezes conselheiro de cultura da cidade, já fui presidente da Federação Catarinense de Teatro, atualmente sou vice-presidente dessa Federação. Nós nos organizamos agora em Blumenau, há cinco anos nós realizamos uma temporada blumenauense de teatro que é um evento muito simples, nós nos reunimos e antes de criar uma Associação que já tivemos e já se desfez há muitos anos, quando nós nos sentamos com o poder público local pra discutir o que queríamos, nós pensamos: “nós queremos apresentar os nossos espetáculos, é a primeira coisa, nós queremos trabalhar juntos. Nós queremos organizar, não vocês, vocês apóiam dando o espaço, e a organização é toda nossa, toda independente, cobramos bilheteria e…”. Então, todo mês em Blumenau tem uma semana de teatro de um mesmo espetáculo de grupos da cidade. Com isso, começaram a surgir mais grupos, nós temos um curso na universidade também que começou a gerar mais grupos, tem grupos que saíram da nossa escola, e hoje nós temos 15 grupos de teatro em Blumenau, já é uma realidade um pouquinho melhor, claro que as coisas não são fáceis, é muita luta e apresentar muito pra ganhar uma bilheteria muito baixa ainda, como eu disse não dá pra viver de bilheteria, mas dá pra ter público, nossa média nesse semestre que encerra agora é de 53 espectadores por seção e a gente considera esse número bem bom, bem significativo pra cinco noites de teatro no mês. A gente tem percebido que outros grupos, inclusive a Cia. Carona, têm feito espetáculos em pequenas temporadas também e têm tido público em função dessa divulgação que a própria temporada traz. Nós estivemos presentes na Conferência Municipal de Cultura, vamos pra Conferência Estadual, elegemos novos conselheiros de cultura vindos do núcleo de teatro. O núcleo de teatro em Blumenau hoje é o segmento mais organizado da cultura, isso é reconhecido pelos outros segmentos, então parece que a gente tá começando a entender melhor quem nós somos e isso vem dessa idéia de trabalhar juntos na temporada blumenauense, um trabalho de muita doação, mas a gente se reconhece primeiro trabalhando juntos e agora então fundamos a nossa associação blumenauense de teatro, agora a gente já trabalha juntos, a gente já sabe como é que é cada um, cada um passou a respeitar mais o trabalho do outro, porque havia muita desavença, que é comum em cidades do interior, não só do interior, em cidades maiores também, mas começar a entender e respeitar melhor o trabalho de cada um, isso fez muita diferença.

Cênicas Cia. de Repertório – Recife – PE
Representante: Antonio Rodrigues da Silva Filho

Conteúdo editado pelo grupo, por email

O nosso grupo ele tem uma linguagem mais urbana e nem por isso ele deixa de ser Nordeste, porque é como eu sempre digo: Grandes cidades existem em qualquer lugar seja Recife, São Paulo, Nova Iorque, e os anseios das pessoas que vivem nas grandes cidades são meio comuns. As pessoas que vivem à margem, estão nas diversas camadas da sociedade… Elas têm, basicamente suas particularidades e peculiaridades e passam por problemas e situações semelhantes a qualquer cerntro urbano. Mas falando do nosso urbano, nos também estamos falando de nosso nordeste que é tão nordestino quanto o [movimento] “armorial”, quanto as referências do sertão… O grupo faz parte do movimento GRITE: Grupos Reunidos para Investigação Teatral, e discutimos não só estéticas, mas a participação política: nós temos um olhar voltado para o trabalho de grupos de pesquisa continuada porque vemos, principalmente, que não há um olhar diferenciado pra esse tipo de atividade, os nossos resultados não são tão imediatos quanto uma produção comercial; não que nosso trabalho não possa se fazer comercial, mas não é o objetivo dele, o objetivo dele é ser resultado de uma pesquisa e que essa pesquisa possa se desdobrar em outros futuros trabalhos; então nosso resultado não é tão imediatista quanto as produções que geralmente são contempladas. Então precisamos ter esse olhar diferenciado para o nosso fazer artístico. Estamos lutando junto com vários coletivos pra ter esse olhar diferenciado dentro das políticas publicas de nosso Estado, da nossa cidade.

Chama Viva Cia de Teatro – Palmas – TO
Representante: Cícero Belém Filho

Veja bem, essa pergunta é importante e complexa pra eu te responder de forma objetiva. Nesse tempo todo de história nós procuramos desenvolver algo que interessasse e chegasse às pessoas da cidade onde nós moramos que é Palmas. Esse experimento é um experimento longo, eu não sei se nós encontramos uma fórmula, até porque o que nós em algum momento nos propusemos a fazer, havia uma certa dificuldade, vamos dizer assim, não diria de compreensão, mas de diálogo com a população. Então, a partir do momento que nós fomos percebendo uma vocação – não sei se o termo correto seria vocação, mas uma identificação maior das pessoas que moram em Palmas, que na grande maioria são nordestinos, são pessoas mais simples, com textos que traziam uma temática mais popular, houve uma mudança completa na relação com o público. Então hoje nós temos uma relação muito forte com o público de Palmas, é uma cidade em que a companhia se afirmou, tem um público, uma trajetória, um repertório, lota os teatros… Mas a gente vive nessa constante investigação, inquietação se o que nos fazemos interessa ao público, se a gente está falando interessa ao público e se o que possa interessar ao público interessa a nós. Às vezes o artista também quer dizer algo que pode não interessar ao público naquele momento, né? E aí entra uma séria dificuldade na questão do financiamento, na questão do que o mercado está assimilando. Enfim, a gente enfrenta esse dilema com um jogo de cintura muito grande pra dizer muitas das vezes o que a gente gostaria de dizer e pra às vezes dialogar com o público com algo que a gente não gostaria de estar dizendo. Existe uma preocupação forte com essa questão, com a estética, com a elaboração do que nós fazemos. Nós moramos num estado absolutamente novo, que é caçula do Brasil, o Estado do Tocantins. Palmas também é uma cidade que está se formando, se construindo, é um canteiro de obras. Eu creio que nós nem poderíamos querer que fosse diferente. O nosso processo – se é que existe algum processo – ele está em construção. E o Grupo Chama Viva eu acho que consegue espelhar esse processo, pelo fato de ser um grupo que começou antes de criar o Estado e que permanece até hoje com um núcleo de seis pessoas que fazem parte da história do grupo já há um longo tempo, então a gente vem acompanhando as mudanças, as transformações que estão ocorrendo não só na cidade, mas também em termos das discussões que envolvem a problemática do teatro contemporâneo.

Clowns de Shakespeare – Natal/RN
Representante: César Ferrario

Primeiro a região no grupo: diria que, vou começar pelo básico: é quase impossível você se isolar do meio em que você vive, de uma forma ou de outra o seu contexto acaba vazando pro seu projeto artístico nem que você não queira então começa daí, mas não só isso. Existe uma linha de pesquisa do grupo que passa pelo regional e acho que isso não é nem decidido assim, pactuado de uma forma objetiva dentro do grupo… Mas se você olha os nossos espetáculos você acaba percebendo a presença de uma estética regional dentro desse contexto, dentro de nossos espetáculos. Passa pela musica também, da pesquisa de Marco que bebe na musicalização regional também; as próprias feituras de figurino e cenários, que sempre também buscam materiais específicos da região… Acho que toda a linguagem também, acho que todos os itens da confecção, da feitura do espetáculo, de uma forma ou de outra acaba se percebendo a presença do popular, embora nós não sejamos um grupo de cultura popular, acho que o grupo vai alem disso. E no inverso a gente também busca tá alcançando a nossa comunidade. O grupo… Não só a nossa comunidade do entorno, do nosso barracão… Mas também da interiorização: vários projetos que o grupo aprova ele ta lá bem especificado a busca do grupo pela interiorização: o próprio ponto de cultura a gente chamou de Barracão Mambembe, onde há um conjunto de oficinas e montagens que vão ser dadas por cidades do interior, oficinas que a gente ta sempre buscando ir pro interior do estado… O projeto de pesquisa do Ricardo III, que vai ser nossa próxima montagem, partiu de uma caravana de investigação cênica que circulou pelo interior do Estado onde a gente não só colhia informações, mas a gente também pode oferecer oficinas pra essas comunidades dentro do principio de troca, vamos dizer assim. Pra finalizar, dentro de um contexto de globalização, de pós-modernidade, de uma serie de questões que relativizam tanto, tudo. A gente entende que se a gente não se firmar, não fincar nossas raízes num lugar nosso a gente acaba se perdendo dentro de todas essas questões. Então o grupo tem circulado por diversos Estados, tem trocado com profissionais de diversos Estados do país e então justamente por isso que a gente procura estabelecer um contraponto com tanta força quanto.

Teatro do Concreto – Brasília – DF
Representante: Francis Wilker

Eu acho que o Concreto tem uma especificidade, que nós somos mais de 10 artistas, somos mais ou menos 15 pessoas e cada uma praticamente mora numa cidade satélite diferente, então tem gente do Plano Piloto, do Cruzeiro, de Águas Claras, São Sebastião, Samambaia, Ceilândia, Sobradinho, então o Concreto é o retrato dessa diversidade que é o Distrito Federal, ele não é a cidade tombada e é também, porque ela atravessa todo mundo, mas ele é muito mais que isso. Ele nasce também de uma relação com essas cidades satélites – que eu não gosto de chamar de periferia, mas que não é plano piloto, que não é cidade tombada, que não é a cidade patrimônio. E nasce de uma relação muito forte também de ensino de teatro, de oficina, de dar aula em escola público, então é desse lugar que esse grupo também se coloca e se aponta. Então, dialogar com o Distrito Federal e com a cidade pra nós é político e é estético e tá no nosso trabalho. O primeiro projeto que a gente aprovou foi ano passado, foi o primeiro dinheiro público que entrou no Concreto, foi pra circular com Diário de um Maldito em três cidades satélites. Antes de ir pras cidades satélites, a gente fez um programa de pré-apreciação do espetáculo em escola públicas de ensino médio, então a gente levava um debate sobre qual é a função do artista na sociedade, o que eles tinham de referência de teatro, levávamos algumas imagens do espetáculo pra que fosse discutido com os alunos e aí convidávamos pra assistir o espetáculo, com uma oficina e com entrada gratuita. Eu acho que isso baliza muito o que a gente tem pensado de como estar na cidade, como dialogar com a cidade. E agora a gente aprovou outro projeto também lindo, em que a gente vai circular por 10 asilos do Distrito Federal, com outro trabalho da gente. A idéia também é criar vínculos com as pessoas, a gente quer ser um grupo que pertença a cidade, a gente não quer ficar fechado numa ilha de uma sala de ensaio que não olha pro que tá ao redor. A gente aprovou no final do ano passado o Interações Estéticas também na Funarte, que era residência artística em Pontos de Cultura, e a nossa proposta foi oferecer uma oficina sobre processo colaborativo pra quatro grupos do Distrito Federal, então tinha um grupo de Santa Maria, de outras satélites, então a gente ia pro espaço onde esse grupo trabalhava – que nenhum tinha sede, eles apresentavam uma cena, contavam um pouco como é que eles criavam, aí a gente apresentava uma nossa e compartilhava com eles como é que a gente tava trabalhando essa perspectiva de processo colaborativo e isso resultou num festival de cenas curtas. E, no nosso projeto de manutenção, a gente colocou muitas ações de teatro e como meta a gente colocou: fortalecer o movimento de teatro de grupo local. Então a gente realizou no Cena Contemporânea o primeiro Fórum de Teatro de Grupo do Distrito Federal, que acabou criando uma rede e a gente fez uma publicação que a gente decidiu não fazer só sobre o Concreto, a gente convidou outros dois grupos e isso também é uma forma de dialogar com a cidade. E dois trabalhos que a gente fez… O Teatro do Maldito foi dentro de uma oficina mecânica, a Oficina dos Perdidos, que é um espaço que está sendo desapropriado pelo governo e a gente inclusive também tentou contribuir com essa luta e o outro foi intervenção urbana mesmo nas ruas de Brasília, na rodoviária do plano. Então a gente tenta também atravessar com nosso projeto poético a cidade. E eu acho que isso vai ficar mais radical agora no próximo trabalho.

Grupo Cuíra de Teatro – Belém do Pará – PA
Representante: Karina Janssen

O Grupo Cuíra de teatro ele é, principalmente, hoje, o espaço alugado por conta própria desse grupo, são as pessoas do grupo que pagam o aluguel, e recebe outras companhias da cidade, tanto para ensaio, quanto para apresentação de espetáculos. Ele se localiza na zona do meretrício de Belém, no baixo prostíbulo, onde existem muitas drogas e muitas mulheres prostitutas no entorno. O grupo já desenvolve vários projetos nesse sentido de envolver a comunidade e dialogar com comunidade e cidade. Um deles, dirigido pela Vlad Lima, chamado Laquê, colocou no palco atrizes, alunas do teatro e mulheres prostitutas da zona, tendo como dramaturgia o depoimento e as histórias de vida das mulheres que estavam no palco, assim como dos moradores ao redor desta zona. Então, o Grupo Cuíra tem esse trabalho de diálogo com a comunidade e é um grupo que está no trânsito com várias outras linguagens de vários outros grupos.

Cia Dezequilibrados – Rio de Janeiro – RJ
Representante: Letícia Isnard

Eu acho que a gente trabalha muito com criação coletiva de textos, a gente tem acho que 11 peças que a gente já montou ao longo desses anos e acho que uma só é com texto já pronto, o resto todo foi criação coletiva ou até escrito por alguém mas para a companhia, que durante um tempo a gente trabalhou com uma dramaturga, muito a partir das experiências de sala de ensaio e tal. Então, a cidade e o país estão sempre presentes nas peças, acho que de uma maneira muito forte, até porque uma das frentes de pesquisa que é a que mais consolidou o grupo é a relativa ao uso de espaços não-convencionais – o primeiro trabalho era num quarto de um apartamento, era pra oito espectadores por seção, depois a gente foi trabalhar numa boate que era uma casa, pra 30 espectadores por seção, a gente já fez peça pra um espectador, tem muito essa coisa de trabalhar com o indivíduo também, até seguindo na palestra do Lehmann de ontem, acho que a questão política, quando ela não entra no tema da peça, ela entra também na forma de a gente colocar o material em cena e com certeza também na organização do grupo, que é um coletivo em que são cinco atores e um diretor, mas não existe uma hierarquia, a questão de o diretor ser o diretor é apenas uma função, ele não manda mais do que os outros, na verdade quem acaba tendo um poder maior de decisão é o núcleo de produção que é feito por três pessoas, mas isso é recente, porque durante muitos anos era meio que todo mundo produzindo, sempre sobrando mais pra uns do que pra outros, isso também sempre gerou muita crise, mas com isso eu respondo a primeira e a segunda… Existe uma Associação de Grupos e Companhias do Rio (você dá um google tem o site e tem todas as companhias que fazem parte), durante muito tempo minha companhia foi muito ativa na Associação, mas isso é uma coisa meio… A gente dá umas revezadas, durante algum tempo alguns encabeçam mais, depois vão outros pra não sobrecarregar. A Associação foi muito inspirada no que aconteceu aqui em São Paulo do Arte contra a Barbárie, da Cooperativa, e a gente começou a tentar se reunir no Rio, a reunir a classe, e aí, enfim, criamos um documento com demandas, com como a gente achava que deveria ser um edital de cultura, que foi adotado pela gestão do Miguel Falabella na prefeitura do Rio, que foi o FAT, que é o Fundo de Amparo ao Teatro, só que aí tem mil questões, porque ele acabou que cumpriu uma parte do que foi pedido e teve outra parte que era voltada pra subvenção que até hoje não foi contemplada. E esses problema do Rio, que a cultura acaba sendo muito atropelada por outros eventos da cidade, agora a secretária de cultura atual, que é a Jandira Feghali, resolveu fazer um Viradão Cultural, pra copiar aqui o de São Paulo, só que o que a gente viu foi ela usar toda a “rapa do tacho” do dinheiro pra cultura que ainda tinha esse ano pra gastar em uma virada de 24 horas com show de música na periferia, quer dizer, nem contemplava várias linguagens, nem a cidade inteira, então é uma ação muito populista num certo sentido. Então, a Associação é onde a companhia tem tido uma entrada mais de intervenção política, mas ela também tem altos e baixos, tem épocas que tá mais ativa, tem épocas que tá mais desarticulado, que é uma questão complicada no Rio também, é difícil se articular lá. E… Acho que a nossa intervenção em relação à cidade vai muito em função disso, dos espaços em que a gente trabalha.

Dramática Cia. – Belém do Pará – PA
Representante: Wlad Lima

Eu vou falar do último trabalho feito pela Dramática: nós trabalhamos uma coisa que chamamos solos de ator, são exercícios de ator em que o ator provocado por um dia da semana – eram sete atores cada um com um dia da semana – tentava entender a sua vida, a sua realidade, a sua cidade naquele dia. Como é Belém dia de domingo, por exemplo? Então tenta ler isso e produz a partir disso que ele coleta: toda a simbologia, todo o ritmo da cidade, o ritmo do corpo e faz o espetáculo. Esse trabalho é um exemplo muito interessante porque tem o diálogo, agora vale pensar assim: eu, como morador da cidade de Belém do Pará, me conecto com várias coisas, várias coisas me atravessam, então eu posso dialogar com o Japão, não é estranho dialogar com o Japão, até porque tem uma comunidade japonesa grande na cidade, mas também porque eu gosto disso, porque isso me chega como informação, enfim… Pode tudo!

Facetas, Mutretas e Outras Histórias – Natal – RN
Representante: Ênio Ewerton de Sá Cavalcanti

Olha, quando se fala de Nordeste, assim, a gente sempre traz o referencial nordestino pra dentro do grupo, como por ser nordestino a gente já tem o preconceito aí de a gente vir com determinado tipo de trabalho. A gente procura examinar isso, sim, reconhecer isso, nosso trabalho de criação ele se dá no litoral, no interior, a gente vai, faz workshop, conversa, faz um trabalho que procura ver a relação com os aspectos econômicos e sociais. A gente tem um projeto de circulação de espetáculos que a gente procura não só apresentar, mas conhecer a principal atividade econômica do município que a gente tá, e como é que se dá a educação, a comunicação, então a gente procura ao máximo trazer isso a nível de Natal, Rio Grande do Norte, Brasil, mundo, a gente abre muito essa discussão pra que ela não se feche num estereótipo de um determinado trabalho. A gente tá, por exemplo, examinando agora, por opção do grupo, o Nordeste, a temática do grupo no novo trabalho é o Nordeste, mas no trabalho que a gente estreou agora não é. Mas toda nossa vivência porque nós somos de lá e o espetáculo é impregnado com esse discurso do ator também, das dificuldades que a gente tem lá, dos teatros, de como é difícil estar em cartaz, como é difícil pagar, tem muito menos espetáculos do que aqui. A opção de trabalhar com uma linguagem contemporânea, com alguns formatos da linguagem contemporânea também porque a gente acredita que a cidade precisa estar vivenciando também, talvez o grupo tenha uma função nesse sentido… já que a gente gosta de fazer aquilo, por que não optar, e por mais que aquilo não esteja impregnado da cultura popular nordestina, é uma cultura nordestina por mais que ela tenha um formato contemporâneo, trabalhe uma coisa que vem de fora, enfim. Mas a gente pesquisa, por exemplo, muito da linguagem contemporânea dentro do convencional. A gente acha que a tradição e contemporaneidade estão super ligadas, assim. A tradição ela tem que mudar, se não ela não existe, né?

Companhia Flor e Espinho – Campo Grande – MS
Representante: Anderson Lima

O grupo desenvolve uma ação política bem forte no Estado, uma das missões do grupo é isso, chegar com um pensamento pertinente à sociedade contemporânea e isso com certeza influencia, está ligado ao que a cidade e o Estado produzem de necessidades. Não que seja uma busca do grupo trabalhar específico regional, não… A gente vê o pensamento que seja pertinente, a gente trabalha com teatro autoral, os textos são feitos em processo colaborativo, vai atrás de alguém pra escrever, mas nós não temos essa ligação de querer pegar algum assunto da cidade, não. Agora, ação política, sim. A gente realiza um Festival, por exemplo, que está sendo um divisor de águas, está conseguindo trazer uma mudança política grande na cena teatral do Estado, com a união dos grupos, uma série de benefícios que veio depois do Festival… a presença no Conselho Municipal de Cultura, aqui no Próximo Ato, então a gente tem essa preocupação, sim, de estar sempre ligado às questões política e contribuindo.

Grupo Harén de Teatro – Teresina – PI
Representante: Arimatan Martins

Isso é o ponto número 1 do nosso trabalho: de resgatar esse homem nordestino brasileiro pro centro da cena, discutir essas questões da linguagem na cultura popular; lógico que nos dias de hoje com todos os aparatos, instrumentos e requintes que a tecnologia e a técnica nos permite. Então nossa formação, apesar de montar autores piauienses, que já montamos quase todos, grandes autores lógico, agora nossa formação ela é do Laban de Londres, do Teatro do Movimento, do Brecht, dessa turma toda, que a literatura do teatro fornece: os russos, os franceses… A gente também não fica atrás desse conhecimento técnico, mas a gente faz questão de manter o grupo com essa perspectiva de uma aproximação pra que não fique mais distante ainda o acesso do público.

Coletivo de Teatro Imaginário – Porto Velho – RO
Representante: Chicão Santos

A gente tem um trabalho de proximidade muito grande com o Acre, por exemplo, que nós somos vizinhos, então nós temos trabalhado isso na região como movimento integrativo, desde a década de 70 que a gente vem trabalhando essa possibilidade de uma integração amazônica, apesar dessa dificuldade, apesar da discriminação que o país faz com a região. Por exemplo, nos editais há uma discriminação, os valores menores vão pra lá, nós não aceitamos isso, nós queremos discutir essa questão dos “custos amazônicos”, por exemplo, as empresas aéreas não abrem mais linhas pra lá porque tratam a gente como uma periferia. Por exemplo, nós não temos nada de definido na biomedicina, no ensino, enfim em todo o nosso desenvolvimento, que pode trazer pro Brasil um valor agregado, tanto da descoberta de remédios para cura de doenças, a gente não tem também a questão do entendimento de que os saberes populares dos indígenas, dos grandes caciques e pagés, que isso representa pra gente um patrimônio, além da questão simbólica, a questão do imaginário mesmo, do imaterial, então acho que isso tem que ser bem cuidado pelos brasileiros pra que isso seja realmente nosso, se não os outros vão tomar. Eu vou me valer aqui de uma frase: “se a gente não descobrir o Brasil, outro vão descobrir”.

Língua de Trapo – Macapá – AP
Representante: Disnei Silva

Quanto à questão do trabalho do grupo, na maioria dos grupos a gente basicamente é forçado a fazer alguma coisa de identidade da região, embora no meu grupo específico a gente tenha um trabalho que tem a ver com a região e o resto a gente investiga cultura universal, teatro universal que a gente pudesse sair do Amapá e levar pra qualquer outro canto e as pessoas entendessem, porque geralmente os espetáculos quando ficam muito localizados eles servem como espetáculo didático e geralmente não servem pra você ganhar dinheiro, pra ter bilheteria, então nós nos preocupamos muito com isso. Nós temos, logicamente, dentro do linguajar que a gente usa, as expressões do Amapá, então onde a gente foi, levou nosso espetáculo, a gente manteve esse linguajar, então acho que isso é uma identificação, mas tem grupos lá que trabalham especificamente com a questão cultural do local, com a identificação da região e a gente tá nesse contexto, acho que todo o trabalho dos grupos tá nesse contexto amazônico.

Teatro Máquina – Fortaleza/CE
Representante: Joel Monteiro

Falando assim de um contexto especifico que é o teatro de grupo e falando também de outro contexto especifico que é uma região, uma região sócio-política do Brasil eu acho que a gente tem duas questões aí: que é a questão estética e a questão política. Em relação a questão estética a gente não tem muita relação com a nossa região, com a cultura de nossa região. A gente tem partido de um processo por de uma busca de conceitos mais voltados à poética brechtiana e daí isso não tem muito espaço pra cultura nordestina, isso não dá muita brecha pra cultura nordestina e agora o grupo tem se interessado muito pela dança contemporânea, pela performance e como essas linguagens entram dentro do teatro e como o teatro entra dentro dessas linguagens, mas assim esteticamente não tem uma relação muito intima com a cultura nordestina, com a região nordeste. Politicamente a gente tem uma instância de circulação mais facilitada dentro da região por conta de grupos amigos e também por conta de um movimento chamado “A Lapada” que é um movimento de teatro de grupo que tem a preocupação política e a preocupação estética pra que os grupos possam trocar sua estética e suas políticas também. E a gente tem feitos intercâmbios teóricos e práticos nesse sentido e quando a gente consegue circular, por exemplo pelo interior do estado, a gente também consegue ter uma movimentação dentro da região assim. Pelas capitais da região Nordeste não é tão frequente, mas a gente também consegue por conta da possibilidade desse movimento e aí quando a gente vem pra um evento como esse que acaba conhecendo o trabalho do pessoal da Bahia, do Sergipe, do Piauí, do Maranhão e quando a gente passa também por esses Estados circulando com festivais com mostras a gente consegue se relacionar com eles, entender o que eles estão fazendo principalmente politicamente também e ver o que esta acontecendo em nossa cidade e fazer os links… A gente tem uma sede só que ainda ela não funciona como um espaço, pois estamos chegando nela agora. Ela está funcionando como um pouso pra gente e também ela tá abrigando as reuniões do movimento “todo teatro é político” que é um movimento que tá em ebulição lá em Fortaleza e aí eu acho que a gente acaba construindo uma espécie de publico. A gente… por onde a gente vai passando, por questões de afinidade, a gente vai construindo um publico. Lá em Fortaleza a gente tem um publico, o Grupo Bagaceira também tem um publico, até porque o mercado também é muito pequeno então a gente acaba se relacionando dessa forma mais direta, quem vê teatro geralmente , na nossa cidade, geralmente, são quase sempre as mesmas pessoas, então a nossa relação com a população acaba sendo essa… a relação que a gente tem com o nosso público, que já é um público especifico.

Grupo do Palha̤o Tenorino РRio Branco РAC
Representante: Dinho Gonçalves

Eventualmente, sim. Por exemplo, tenho uma peça de teatro que fala sobre o uso irracional da água e nós estamos na Amazônia, com quase toda a água do mundo lá. E outros grupos fazem peças sobre isso. Agora, em relação a circulação, uma coisa muito interessante é que nós pra podermos ir num município como Cruzeiro do Sul, pra eu ir hoje lá apresentar minha peça, tem que ser de avião, porque não tem outro jeito, ou a pé, mas ninguém vai carregar cenário na lama durante 60 dias pra apresentar a peça. Mas mesmo assim, quando a gente monta espetáculo a gente sempre leva nos municípios mais próximos ou onde tem asfalto. O Estado tem 22 municípios, nós levamos para 10, 11 ali próximos da capital e vai reinaugurar um teatro no Juruá, aí a gente também foi convidado pra reinaugurar, nós vamos fazer interior do Estado através de outros projetos aprovados em outras leis.

Santa Esta̤̣o Cia de Teatro РPorto Alegre РRS
Representantes: Ana Carolina Moreno

Eu acho que não tem como não estar, a gente acaba falando muito sobre o que acontece em volta da gente. Brincam sobre o nosso grupo que a gente lida com a estética do frio, porque como a gente trabalha com teatro físico e os espetáculos geralmente são todos partiturizados, a brincadeira é que a gente lida com a estética do frio. Mas a gente tem esse espaço na Usina do Gasômetro, onde aos sábados e domingos lota, todas as pessoas, todas as periferias vão pra Usina do Gasômetro pra tomar um chimarrão, ver o pôr-do-sol que é lindo, então a gente acaba lidando… Por exemplo, nós temos uma apresentação gratuita todo mês e aí é bem legal, porque a gente desce, porque apesar do projeto já ter cinco anos, as pessoas ainda não se acostumaram a entrar de verdade na Usina do Gasômetro, elas ainda usam a Usina do Gasômetro como banheiro, porque ela ficou muito tempo parada, então a gente desce já de figurino e tudo mais e vai buscar essas pessoas que talvez nunca assistiram teatro na vida e isso é muito legal. As pessoas estão acostumadas a ficar só vendo o pôr-do-sol, ela não imaginam que elas podem ver o pôr-do-sol e 2 minutos depois podem entrar e assistir o espetáculo. Então isso é muito legal, acho que a gente está tendo uma política de formação de platéia muito legal mesmo. Eu já vi pessoas que foram no espetáculo gratuito indo depois na temporada paga, por exemplo, isso é muito legal, uma formação de platéia bem interessante.

Coletivo Sinestesia – Teresina – PI
Representante: Clodomir Junior
Por email

Nas nossas intervenções sempre nos adaptamos aos fatores que permeiam nossa sociedade, temas como o calor da cidade de Teresina, ideologia das pessoas, elementos sociais constantemente estão presentes no nosso trabalho. Buscamos interação com o público.

Cia. de Teatro de Stravaganza – Porto Alegre – RS
Representante: Adriane Mottola

A gente tem uma sede em uma região central da cidade, até perto de outros teatros, um bairro de classe média, mas casualmente do lado da nossa sede tem uma vila em que a prefeitura construiu casas. É um espaço bastante interessante, são pessoas que ganharam… é… Não são casas deles, mas eles podem morar ali por, sei lá, 30 anos e depois não sei como é que fica. Mas é claro que essas casas populares no começo tem uma família em cada casa, daqui a pouco já tem cinco! É sempre assim que acontece. Então, a nossa relação com o bairro, sim, a gente procura divulgar tudo o que acontece, mas a nossa relação maior é com as crianças ali da vila mesmo. Porque elas, seja o espetáculo adulto ou infantil, elas assistem, elas estão sempre lá, elas querem entrar, é uma loucura. Não é um compromisso, nós não assumimos isso como compromisso, mas a gente tem seções em que elas vão brincar lá dentro, a gente faz oficinas… Nós não temos um horário, mas como elas entram, assistem ensaios, voltam no outro dia, então tem uma relação… Elas adoram o espaço. A nossa relação é assim, de não ter um trabalho contínuo, mas de acolher sempre e fazendo atividades diversas, às vezes a gente pega os instrumentos, começa a tocar, elas tocam também. Tem dos mais pequenos, de 5 ou 6 anos até 12, 13 anos. E juntas, vão juntas, a irmã maior com um menininho. E claro a gente faz apresentações, às vezes, especiais pra eles. A gente também tem o projeto de trabalhar mais seriamente, até agora nós estamos desenvolvendo um projeto Myriam Muniz que tem um trabalho de oficinas mesmo mais elaborado. Agora quanto aos espetáculos, a gente até trabalha bastante sobre a cidade, sobre o urbano, mas a gente constrói os espetáculos sobre as vivências das pessoas que integram o grupo, então não é uma coisa tão clara, são as percepções daquelas várias pessoas que integram aquele grupo sobre a vida urbana.

Cia Tapete Cria̵̤es C̻nicas РṢo Luis РMA
Representante: Robson Diniz

A Tapete vem procurando a partir das próprias necessidades da companhia, criar estratégias e mecanismos que dêem suporte pro movimento, pra classe como um todo, por exemplo, a gente tem alguns eventos que estão se tornando anual, tem sido muito difícil porque poucas companhias têm uma sede, têm esse trabalho continuado e por conta disso também acontece que muitas companhias… por exemplo, nós não temos um piso pra cachê pra determinadas apresentações e essas companhias que se reúnem pra fazer essas montagens eventuais e não têm um trabalho continuado, elas, por exemplo, se propõem a fazer espetáculos com valores muito baixos e fazem com que pra gente que tem essa dedicação pelo trabalho seja exorbitante, seja surreal cobrar determinado valor por um cachê e tem várias questões por trás. Tem sido uma luta nossa fazer com que os grupos se articulem e entendam a necessidade de juntos fazer com que os contratantes, seja empresas privadas ou mesmo lojas, possam compreender que existem várias questões que precisam ser levada em consideração. E em relação ao espaço, nossa sede fica bem no centro histórico, então sobretudo por conta dessa busca de apoio nos mais diversos meios… de conseguirmos ser contemplados em um projeto de manutenção de grupo, a gente vem criando com muita freqüência trabalhos possíveis de serem apresentados na rua, a gente na verdade sempre apresenta na rua, criando uma dinâmica… Tanto que nossa sala de treino, nossa sede, tem servido pra outras companhias apresentarem trabalhos, cobrando bilheteria a custo baixo, pra realmente dinamizar pra tornar não só o nosso espaço mais freqüentado e mais dinâmico, como também o próprio centro histórico onde a sede está inserida.

Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz – Porto Alegre – RS
Representante: Tânia Farias e Marta Haas

O grupo não respondeu às perguntas dois e três porque a entrevista foi interrompida.

Grupo Vilavox – Salvador – Bahia
Representantes: Cláudio Machado e Gordo Neto

Gordo: A gente circulou praticamente nada, e eu estou falando isso, também assim… o Vilavox, esse grupo que é de 2001, a gente só fez uma circulação por cidades do Nordeste, seis cidades, entre elas, uma no interior da Bahia e cinco em cidades do Nordeste entre capitais e outras cidades do interior. A relação da gente com a cidade, com Salvador, não tem muita, porque a cidade de Salvador não se relaciona, os grupos não tem o costume de fazer intercâmbio, de fazer eventos em conjunto, então a gente tem pouca troca na cidade e isso é um grande problema. A gente tentou, por exemplo, com a manutenção insinuar um pouco isso, conseguiu fazer uma coisinha ou outra, mas foi muito mais até pra fora do que dentro, então a gente levou o Vertigem, o Sérgio e o Beto pra dar uma oficina, levou o diretor musical do Galpão, o Latão foi pra lá, a gente aproveitou e eles deram uma oficina, fizemos 16 leituras dramáticas, convidando atores de outros grupos ou atores “avulsos”, por assim dizer. Então isso é pra vocês perceberem que é um movimento que a gente tem e que eu tenho a impressão de que esse movimento se deu porque eu tive uma relação anterior justamente com o teatro feito pelo Brasil todo e que isso me fez pensar que isso era uma falta tremenda dentro da cidade.

Cláudio: Só pra complementar, eu acho que tem uma questão do trabalho que é… a gente faz parte do Teatro Vila Velha, a gente é um dos grupos residentes do Teatro Vila Velha, onde se produz um teatro não-comercial, acho que como expressão do grupo na cidade eu acho que tem um pouco essa força de estar lá produzindo um teatro que não tem o menor compromisso financeiro, de ter uma renda, a gente tem compromisso com a política, a gente tem um discurso muito mais por esse viés, do que uma pegada mais comercial.

Gordo: A presença da região na obra, eu particularmente acho que não tem muito. O penúltimo espetáculo montado, O Canteiro de Rosa, é baseado em contos do Guimarães e Guimarães inevitavelmente tem uma relação com sertão, pega ali Minas Gerais, Bahia, Goiás, talvez, então tem uma coisinha ali de alguma parte da Bahia, mas a gente não é, por exemplo, como o Bando, o Bando de Teatro Olodum, que é do mesmo teatro, eles fazem um teatro que reflete…

Claúdio: …os pensamentos e a situação social local…

Gordo: …as questões do negro e tal e, digamos, com uma pegada mais, por exemplo, com muito tambor, com muita música mais “baiana”, por assim dizer. Então, a gente não tem isso, a gente não está se relacionando com a cidade nem muito fisicamente e nem muito nos temas ou nos propósitos de encenação que a gente tem hoje.

Cláudio: Eu acho que não é uma preocupação do grupo, esse, de fato, não é um foco. Talvez, claro, outras pessoas de outros lugares assistindo ao grupo vão identificar muito mais Bahia nos espetáculos do grupo do que a gente imagina, mas de fato essa não é uma preocupação, não é um foco do trabalho.

Cia. Vitória Régia – Manaus – AM
Representante: Diego Batista

O grupo tem uma posição política bem forte quanto à questões de políticas públicas de que tanto se fala. É um dos grupos mais ativos no Estado, tem vinte e cinco anos em atividade no Estado, de montagem de espetáculo, de permanecer em circulação, a gente vai pros interiores, apresenta, é um grupo que não consegue ficar quieto, questiona, tem um posicionamento político contra o Estado, contra a gestão pública, em geral, não só o Estado, mas a gente tem esse posicionamento de questionar e brigar junto aos órgãos. Isso também aparece na obra, já teve um espetáculo que era só questionamento político, tem um maluco na cidade que escreve, o Sérgio Cardoso, que escreveu um texto que se chama Caruso jamais cantou aqui, que fala sobre a possível ida de Caruso a Manaus pra inauguração do teatro e da ida de Claudia Cardinari, também e isso nunca existiu. E dentro disso ele criou uma atmosfera pra falar sobre a questão política do Estado e do momento cultural que a cidade vivia em 2005, que foi quando a gente montou esse espetáculo. Tinha uma metáfora da cidade que era o Teatro de la Zone, mas que tinha um mandador, apontando que a gente vive meio que uma ditadura cultural, por conta de não poder ocupar os espaços que temos e o espetáculo trabalhava isso diretamente, era bem questionador.

Grupo Experimental de Teatro Vivarte – Rio Branco – AC
Representante: Maria Rita Costa Silva

O nosso trabalho é mais voltado para as questões do imaginário amazônico mesmo. Por exemplo, a gente ganhou o prêmio Caravana Funarte, em 2008, e fomos para uma cidade bem distante no estado do Acre, subimos o rio durante seis dias de barco, nunca nenhum grupo tinha ido lá. Agora a gente aprovou o edital Artes Cênicas na Rua e vamos levar nosso espetáculo em uma cidade em que também nunca foi nenhum grupo de teatro, é Santa Rosa, fica na divisa com o Peru. Nós vamos chegar lá e de lá vamos pegar um barco em que vamos viajar seis dias também de barco pra chegar numa cidade muito próxima da tribo Axininca, que vai contribuir para o nosso trabalho de pesquisa do imaginário amazônico que a gente faz também nessas viagens.

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.