Educação Sentimental do Vampiro

Críticas   |       |    16 de abril de 2007    |    12 comentários

Avenida Dropsie do mal


Não vá pensando que se trata de uma peça sobre morcegos e vampiros porque não é. Ao menos não sobre aqueles caras esquisitos que moram na Romênia e chupam sangue. O vampiro em questão mora muito mais perto do que nos Cárpatos e é adepto de algo mais limpinho e menos démodé do que sair chupando sangue por aí: nosso vampiro suga almas.

Educação Sentimental do Vampiro, o novo espetáculo da Sutil Companhia de Teatro é inspirado nos contos de Dalton Trevisan, também conhecido como Vampiro de Curitiba, apelido recebido por viver recluso e escrever contos com base em suas observações (e chupadelas das almas) das pessoas da cidade. Sua obra lhe rendeu a consagração como um dos maiores contistas da literatura brasileira.

O formato da nova peça em muito se assemelha à produção anterior da companhia, Avenida Dropsie, inspirada nas graphic novels de Will Eisner: os atores se desdobram em dezenas de personagens em esquetes curtas e independentes. A grande diferença é que enquanto Dropsie era alegre e ingênua, a Curitiba retratada no novo espetáculo é cruel e sombria.

Como já era de se esperar, a cenografia é da Daniela Thomas e é deslumbrante. Um jogo de espelhos confere uma profundidade peculiar ao palco, e permite à encenação uma série de jogos de imagens que não é desperdiçada e tampouco subutilizada. A iluminação e o figurino sóbrio constroem um universo em preto-e-branco (mais pras trevas do que para o branco) tão perturbador que nos remete a um mundo de histórias sombrias… e de vampiros.

O uso da projeção também está presente, mas desta vez não se sobrepõe à cena como ocorre em Nostalgia, Avenida Dropsie ou A Vida é Cheia de Som e Fúria: em Educação Sentimental do Vampiro, não há a tradicional tela de filó separando o palco da platéia, a projeção serve sobretudo à cenografia, possibilitando efeitos gráficos de fazer inveja a todas as produções que insistem em utilizar projeção achando que é fácil como fazer uma apresentação com retroprojetor (essa gente tem muito o que aprender sobre esta sobreposição de imagens e linguagens que a Sutil faz com maestria).

Também merece destaque o trabalho de todo o elenco, que mais uma vez está afinadíssimo. Aliás, fica aqui a teoria conspiratória levantada no nosso blog: teria a Sutil feito a oficina dos Satyros para aprenderem a tirar a roupa e utilizar um pinto de borracha com maestria? Mistério.

Todos os contos de Trevisan selecionados para a montagem trazem histórias tristes e amargas de personagens do subterrâneo de uma Curitiba que talvez nem exista mais, ou que talvez nunca tenha existido, ou que ainda existe e a urbanidade progressista faz questão de esconder. Histórias de violência doméstica, crimes, abusos sexuais e tudo mais que as pessoas preferem fingir que não acontece. E o espetáculo nos joga na cara esse universo imundo e perverso, durante duas horas sem pausa para fôlego em nossas zonas de conforto. Nem mesmo os momentos humorísticos dão uma trégua à platéia: as piadas são de um humor obscuro e corrosivo.

Outra grande peculiaridade do espetáculo é a não-transcrição do texto para a linguagem teatral: salvo alguns pequenos monólogos, a montagem é feita integralmente com o texto original em terceira pessoa, em formato de prosa, com o narrador quase sempre presente em cena, representado pelos atores que se alternam. Uma experiência ousada que, apesar de na maioria das cenas funcionar muito bem, em algumas ajuda a tornar o espetáculo um pouco cansativo.

Assisti a este espetáculo duas vezes (um ensaio e uma apresentação na semana da estréia), e em ambas as vezes senti novamente a mesma sensação que tive ao ver pela primeira vez uma peça da Sutil companhia, há aproximadamente sete anos, quando vi naquele mesmo Teatro do SESI o espetáculo Nostalgia: um desconforto que se misturava com a empolgação de presenciar um espetáculo inesquecível.

O diretor Felipe Hirsch. Pedimos desculpas pela falta de tato de nossa fotógrafa.

5 Gerald Thomas contrariados

'12 comentários para “Educação Sentimental do Vampiro”'
  1. Anonymous disse:

    Eu acho que a fotógrafa não tem culpa de ele querer comer o próprio relógio! Ora…

  2. […] como atriz, só conhecia nos espetáculos da Sutil Companhia de Teatro, em Avenida Dropsie e Educação Sentimental do Vampiro. Decisão quase clichê de criar uma dramaturgia quase que totalmente baseada em cartas de […]

  3. barbara disse:

    Isso e ridiculo , todos vcs sao um bando de idiotas.Beijinhos e tchau tchau.

  4. Valeu pela incrível argumentação, Barbara. Outro beijinho tchau tchau pra você.

  5. Juli disse:

    Barbara Heliodora?

  6. deus disse:

    futurista mas falso

  7. buno disse:

    excelente cara ,voçe arrazou

  8. fainty disse:

    vapiros so se for no sonhos de vcis seus tontos

  9. elisa disse:

    credo eu nao achei nd de interesaante

  10. lethicia disse:

    concordo com a Elisa

  11. Daniela disse:

    Arte é arte. Mas tentar se comparar com uma ser que surgiu a vários séculos é um fato humilhante e desonra qualquer adepto a está criatura fascinante. Resumindo não tente ser algo impossível de ser.

  12. Daniela disse:

    Arte é arte. Mas tentar se comparar como um ser que surgiu a vários séculos é um fato humilhante e desonra qualquer adepto a está criatura fascinante. Resumindo não tente ser algo impossível de ser.

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