Anticlássico – Uma Desconferência e o Enigma Vazio

Críticas   |       |    1 de outubro de 2007    |    6 comentários

Pseudointelectualidade Assumida

Foto: Márcio Cabral

Leia também a crítica de João Cícero para este espetáculo.

Esteve em cartaz no Espaço SESC Copacabana uma garota alta (de salto, tinha mais de 1,80m) vestida de bailarina, com óculos de intelectual e que contava com a ajuda de um punk de nome Hamlet. A vedete aparecia para dar (des)conferências às pobres almas que ansiavam por um pouco do seu intelecto em sessões lotadas no supracitado teatro.

Alessandra Colasanti é a tal bailarina e se arriscou também a dirigir o espetáculo. Coisa feita à mão, como bolinhos de chuva que a vovó não deixa queimar. Mas queimaram um pouquinho, só nas pontas, em escorregadelas para piadas fáceis. Aliás, a moça gosta de colocar comida nas peças que dirige. Em Tempo.Depois, eu me esbaldei com quitutes diversos – de bombom a uísque. Dessa vez não faltaram “muffins do Wolf Maya” pra platéia. Talvez se outra pessoa estivesse envolvida na direção, a peça perdesse muito do sarcasmo contido na idéia de criticar o vazio de falas intelectuais e os maneirismos do falar na e sobre a contemporaneidade.

Que delícia fazer crítica à intelectualidade por meio de uma personagem que não pode ser acusada de despreparo corporal (afinal é uma bailarina), tampouco intelectual (já que ela se diz uma referência mundial do intelecto). Dialogando em alguma medida com o personagem de João Ubaldo Ribeiro em A Casa dos Budas Ditosos, que procurava no pensamento intelectual somente caminhos para mais sexo, Colasanti demonstra com sua palestra que aquele blábláblá todo é só meio para outros fins. Inclusive o formato de palestra de ambas as peças reforça ainda mais os paralelos entre as montagens e personagens.

Fui na última sessão da peça e não pude deixar de reparar a ilustre presença de Bárbara Heliodora, sentada à espera do início do espetáculo. Inclusive reparei também que ela não se sentiu mal em ter sido convidada a furar a fila e sentar na frente de todo mundo. Por aí concluímos que é uma ótima idéia acompanhar Babi ao teatro, então lanço aqui a campanha “Babi, me leva pro teatro?”, para nós, reles mortais, que como todo bom brasileiro, também gostaríamos de um privilegiosinho a mais. Nem que seja uma cobertura no muffin do Wolf Maya.

Ironia ou não, Hamlet, o assistente punk, fala pouca coisa, mas afirma no seu monólogo algo como (por favor me corrija, Colasanti): “os tempos estão muito loucos”. Como me odeio por não lembrar a frase exata. Mas o que importa é citar que corria no burburinho depois do espetáculo: será que Babi só riu e esqueceu, ou será que ela e toda a intelectualidade presente realmente entenderam a piada?

4 piscadas intimidadoras para quem sentou na primeira fileira, inclusive a Babi

 

'6 comentários para “Anticlássico – Uma Desconferência e o Enigma Vazio”'
  1. alessandra colasanti disse:

    fabrício, a frase é: “o tempo está fora dos eixos”, é uma frase retirada do hamlet, de shakespeare.

  2. Fabrício Muriana disse:

    muito obrigado pelo toque, Alessandra.
    Nem vou alterar na resenha.
    Espero que o pessoal chegue até os comentários.
    Grande Abraço.

  3. alessandra colasanti disse:

    em tempo: a crítica bárbara heliodora possui uma deficiência auditiva, por estar no teatro a trabalho ela entra na frente para que possa sentar-se onde julgar mais proveitoso para o cumprimento seu ofício.
    grande abraço

  4. Fabrício Muriana disse:

    Valeu a dica.
    Eu sou míope, perdi meu óculos e tô sem grana pra comprar um novo.
    Vou avisar o SESC da próxima vez que for assistir.
    Abração.

  5. João disse:

    Vai nessa Fabrício, vc consegue!

  6. GilvÂNIA M. Cavalcante disse:

    Na entrevista tímida, voz soave
    No palco um espetáculo!
    aplaudido de pé(claro) risos..
    Me surpreendeu Alessandra Colasanti!
    És o que a filosofia poderia chamar de :”O intelecto humano na intelectuidade de uma mulher”.

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