Arrufos
Só uma peça burguesa na Vila Maria Zélia?
Fotos: Renato Bolelli
Nos dois últimos finais de semana reservei algumas horas à visita de um lugar que nunca imaginaria existir em São Paulo. Como se empolgar sozinho com as descobertas da vida é muito deprimente, fiz, no último domingo, uma caravana de amigos para conhecer esse ponto escondido da cidade e, lógico, assistir uma peça. (Até havia uma esperança de que chamassem nossa caravana pelo nome, como no Faustão, mas não rolou) A Vila Maria Zélia, local de residência artÃstica do Grupo XIX de teatro, é uma vila operária construÃda em 1917, que já foi prisão polÃtica e hoje tem edifÃcios de valor inestimável ainda se deteriorando (como boa parte da história recente da nossa cidade, já que a arquitetura anterior ao século XIX praticamente deixou de existir). Só o envolvimento deste grupo como catalisador de um processo de tombamento e restauração da Vila já valeria uma tese de doutorado. Mas como aqui, tudo que é acadêmico entra só como desculpa pra tomar mais cerveja, vamos falar apenas do último trabalho do XIX, que já dá pra engrossar bem o caldo.
Arrufos é uma peça cujo processo se iniciou no final de 2006 e que recebeu verba do PAC e do último Fomento ao Teatro da Prefeitura da cidade de São Paulo – pra quem não tá ligado na bagaça, o Fomento é tipássim um dos pilares principais desta que é a cidade com o maior número de peças do Brasil. O Grupo XIX já levou por três vezes essa verba de pesquisa teatral e apresenta agora sua terceira montagem a partir de um processo colaborativo. Três também é o número de “atos” – se é que assim podemos chamar – em que se divide a montagem.
No primeiro – logo após sermos divididos em duplas, quando ainda estamos nos acostumando com a arquibancada em forma de “arena quadrada” – o testamento de um pai de famÃlia é lido. Menos na forma e mais no conteúdo, neste ato compreendemos o inÃcio de uma relativização das histórias de amor romântico do Brasil. Não só pra fugir do clichê, mas também pra revelar uma caracterÃstica do amor retratado sobretudo na literatura, com o tripé marido-esposa-amante, sem os comuns julgamentos morais. Daqui já se estabelece o recorte: não é amor gay (que dizem as boas lÃnguas, será o tema do próximo processo do XIX) e a famÃlia retratada não é matriarcal, no sentido de quem exerce o micropoder dentro das casas. Este ato também tem o papel de conexão com a obra original de onde partiu toda a pesquisa do grupo pra essa montagem. O quadro Arrufos (aqui embaixo), de Belmiro de Almeida, já dá linhas gerais do que encontraremos no resto do espetáculo.
A transição do primeiro para o segundo “ato” é uma piada pronta com a moda do final do século dezenove e inÃcio do século vinte. A cortinas que se abriram no começo da peça, viram saias que vão compor o figurino das personagens femininas. Aqui o grupo também dá uma boa lição de como otimizar o tecido da cortina com o figurino… boa aula de economia doméstica. A tão conhecida “saia de cortina”, revela que as “paredes” da famÃlia burguesa brasileira são uma representação da mulher (numa leitura beeeeem livre desse que vos escreve), por mais que a sociedade patriarcal prevaleça. Arrufos é dessas rarÃssimas montagens em que até mesmo a transição tem sentidos que complementam de forma muito plena aqueles criados durante os atos, utilizando música, mas não fazendo dela uma muleta vazia de significado. Questão que deve ter recebido atenção especial, já que a peça dura quase duas horas.
Inicia-se o segundo “ato” que se divide entre cenas dos homens e cenas das mulheres, sem perda de diversão para uns e outras. Do lado deles, um cemitério é criado e cada um de nós, espectadores, se tranforma num simpático cadáver que morrera por amor e é alvo das brincadeiras dos rapazes. Assim como os objetos do público que ganhavam sentido aleatório em My Arm de Tim Crouch, a platéia passa a ter uma história criada pelos atores e aqui é o inÃcio da interação como linguagem legÃtima do espetáculo.
Na seqüência, aparecem as meninas, 16 anos, com todo o universo pueril da adolescência no século XIX e suas brincadeiras, que aqui se tornam jogos teatrais com a platéia. Neste momento, as atrizes assumem o risco de entregar ao público o poder de interferir na seqüência dos fatos e sabem receber as interferências com a naturalidade de quem está simplesmente brincando.
Quando já estamos torcendo para que a exploração desse universo seja o fim em si deste segundo “ato”, vem a história, a narrativa do rapaz pobre e da menina rica que se encontram por amor (e talvez paixão), mas cujo romance não terá final feliz (opa, contei o final). Há aqui uma nova cisão entre forma e conteúdo. A forma original e espontânea que sobressai na primeira metade deste ato atrita com o conteúdo novela-das-seis que será sobreexplorado na segunda. Mas a vontade de encontrar forma e conteúdo indistinguÃveis será saciada no terceiro e último “ato”.
Aqui encontramos a relação do passado com o presente. Não há uma única história, mas várias, por vezes apresentadas ao mesmo tempo, fazendo o público ser obrigado a optar ou, por que não dizer, editar. Não um único núcleo narrativo, mas múltiplos, incompletos e por isso mais ricos. Novamente a transição dá o tom, e os móveis que ocupavam o centro da cena serão transportados pros locais menos prováveis e ressignificados como o nosso tempo pede (seria muita forçação de barra dizer que os móveis são como os novos filhos dessa famÃlia burguesa brasileira?). A interação é levada ao seu grau mais profundo e não faltam abraços, beijos e tudo o mais que nos lembra um pouquinho (mas é só de leve mesmo e com a vantagem de não precisar mostrar partes pudicas) o Teatro Oficina e seus trabalhos, até mesmo nos trajes brancos, que aqui aparecem como pijamas.
Arrufos faz uma sÃntese histórica, cronológica e parcial do amor como reconstrução social brasileira que vem se alterando ao longo dos tempos, assim como as linguagens do teatro. Sem procurar origens, retrata momentos do amor desde o século XIX até hoje. Tal e qual a cebola que uma das personagens descasca com as mãos no terceiro “ato”, a montagem tem camadas de compreensão e trabalhos conjugados de pesquisa de linguagem que chegam ao público sem hermetismo. Talvez venha com alguns excessos (depende de onde você se sentar). Mas analisando somente o que conquistaram por meio de dramaturgia coletiva e processo colaborativo, não vejo maneiras nem razões para uma procura de espetáculo mais bem acabado. Se toda semana encontrasse uma peça com esse potencial criativo e capacidade de envolvimento do público, não tenho dúvida que outras caravanas habitariam os teatros.
6 atores que sabem se divertir com um trabalho
hanrannnnnn
Pigarro?
Um dos grandes espetáculos deste ano. A idéia da vila já nos dá um gosto daquele passado que será retratado na peça. Iluminção intimista e encantadora. Atores talentosos e muito bem criativos! Parabéns ao grupo XIX!
Oi amigos,sou morador da querida Vila Maria Zelia,e posso dizer,que sem sombra de duvidas que foi uma dadiva dos ceus a vinda do grupo xix de teatro,para fazerem uma residencia artistica entre nos,e agora inicio de 2.009,obtivemos a grata satisfacao de a Associacao Paulista dos criticos de Arte,elegerem o Diretor Luiz Fernando Marques,como o melhor diretor de Sao Paulo,por ARRUFOS,agradeco e muito pelas palavras elogiosas ao grupo,abracos,(seu dede).
Oi, Seu Dedé!
Bem-vindo. Obrigada pelo seu comentário. E parabéns! Já que as conquistas do XIX devem ser compartilhadas com vcs moradores, que estão sempre por lá, como parte ativa da “residência”.
Um abraço,
Juli =)
queria saber o que e sasansao sinestesica do quandro Arrufos
elementos que formam a composição
Arrufos = Amuo = Mau humor passageiro, revelado no aspecto, gestos ou silêncio
o que significa o nome arrufis
Arrufis é o que o Mussum respondeu ao jornalista que perguntou o que ele foi assistir na Vila Maria Zélia.
Oi Jefferson,
Arrufis é isso que o FabrÃcio comentou mesmo. Já Arrufos, é o nome do quadro de Belmiro de Almeida que serviu de inspiração para o esperáculo, como explicado na crÃtica. Agora significado, significado, bem… acho mais fácil dar uma olhada no dicionário, porque não sei dizer, hahaha…
Abraço
MaurÃcio
Já vi a peça aqui em Santos. Muuuuuito boa, e realmente os abajours são encantadores e se encaixam perfeitamente com a peça. Parabens ao grupo XlX
o que significa arrufos
e ae seus bando de boiolas viados e gais vai tomar no cú
vai tomar no seu cú seus boiola
achei muito legal esses quadros achei d++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++♥♥3♥♥♥♥♠♠♠♦♣
e muito legal esse texto bjs
e muito legal o texto ta bjssssss
novidade
e muito legal curti e compartilho
posto no face arrufos
to estudando isso na matéria de artes euu ameeii isso tudo.muitooo!!!