Dois Irṃos РDue Fratelli

Críticas   |       |    27 de março de 2009    |    3 comentários

Diário de um Carnaval de 3 meses – parte 4

Já colocando as manguinhas de fora.

Fotos: Guga Millet

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Quem lê com freqüência por aqui já sabe: sempre que somos convidados pra uma peça, vamos com dois pés atrás. A gente nunca sabe quem guardou mágoa ou ficou ressentido depois de dois anos de revista. Sabe como é, o santo é forte mas a carne é humana.

Foi assim também que recebemos o convite do Pablo Sanábio, ator que, além de ser a cara do Cabeção da Malhação, nos convidou pra assistir a montagem de Dois Irmãos, em cartaz no Sesc Pompéia, de cujo elenco ele participa. Desde quando a Caroline Carrion, jornalista da Arteplural – a assessoria que nos trata por “caro jornalista” – tinha mandado o release, já havia algum interesse meu em ir assistir a montagem, posto que o autor, Fausto Paravidino, estava entre os dramaturgos italianos contemporâneos cujos textos foram lidos num ciclo de leituras no Sesc Avenida Paulista, no ano passado. Não que eu tenha ido ver a leitura do texto dele – que aliás não foi Due Fratelli, foi Gênova 01 – mas só pelo fato do cara estar listado entre os autores italianos junto com o Antônio Tarantino, já era atrativo suficiente pra ir assistir a peça da moçada do Rio no Pompéia. Pra quem não se lembra, Tarantino é o autor de Stabat Mater, que foi encenado no riocenacontemporanea de 2007 pelos Artistas Unidos de Portugal.

Ana Lima, única atriz da atual montagem de Dois Irmãos, aponta no release que foi assistindo a uma montagem feita pelos mesmos Artistas Unidos de Portugal que se interessou pelo texto de Paravidino. Sacou como o mundo da voltas e sempre chega ao mesmo lugar?

Depois dessa enorme introdução, retorno à desconfiança inicial. O que faz um ator, não uma assessoria de imprensa (essas nos convidam sempre), nos convidar pra uma peça? Tudo bem, a Bacante tem alguma audiência, mas gosto de me enganar com a idéia de que nossa revista não faz só um papel de divulgação, portanto há sempre um risco no convite. Leio o currículo do rapaz que, além do filme da Xuxa, ele também produziu a memorável peça Besouro Cordão de Ouro, que esteve em cartaz no mesmo espaço do Sesc Pompéia e que foi criticada aqui. Será por isso?

Na chegada à peça Dois Irmãos, saco meio de cara que a montagem terá uma provável afinidade com o “público jovem”. Inferência generalizante é o nome disso, pois não há como definir o que é um “jovem”, ou esse “público”. Mas é esse o filtro que me ocorre quando vejo o figurino desenvolvido pelo

stylist Felipe Veloso – ganhador do Prêmio Moda Brasil na categoria melhor stylist e responsável pelo figurino de Regina Casé, Caetano Veloso e Fernanda Abreu, além de assinar o styling de desfiles de Marcelo Sommer, Isabela Capeto, Raia de Goeye e Victor Dzenk – criou todos os figurinos

Sabe aquela aura meio Juno? Meio Little Miss Sunshine? Tenho uma amiga que define de maneira sucinta esse visual: “é uma ecologia”. Essa coisa meio desleixada, característica da moçada da minha geração – apêndice gigante: repara na filha do Mickey Rourke em O Lutador, nos jovens de Paranoid Park, nos alunos de Elefante, os filhos da classe média, os sem chão – mas ao mesmo tempo um desleixo dentro da moda, contido. Essa impressão de ecologia se completa com a cenografia: altamente fotografável. Muitos planos: baixo, alto, fundo, frente. Objetos pra desfocar, cores, luzes concentradas. Fica claro, como está dito no release, que a cenografia foi concebida antes da direção, desde as primeiras leituras do texto. Mas o que isso quer dizer?

O substrato do texto, na forma como está traduzido e apropriado pelos a(u)tores, me parece estranhamente restrito. Isso porque vemos novamente as histórias de idas e vindas de um triângulo amoroso. Sim, nesse triângulo há dois irmãos, o que traz alguma complexidade específica, mas ainda falamos de indivíduos, sem tempo definido, descolados de uma realidade social, pintados com figurinos e um cenário que os definem somente, mas não dizem de onde vêm, pra onde vão e nem, principalmente, de qual contexto fazem parte.

Quando bato na tecla de substrato, quero falar de camadas. Por que se encenar essa história de amor? Pois é assim que vejo. Mas também poderia ver qualquer Hamlet como uma história de amor entre Hamlet e Ofélia. Daí, dessa escolha de encenar uma história de amor distinta, onde chegamos?

É essa pergunta que fica comigo ao fim de Dois Irmãos. E ao invés de ter dezenas de respostas, não tenho nenhuma.

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2 filmes para se ver depois da peça: Cova Rasa e Meu Amor de Verão.

Ps: Esse é um grupo com quem gostaria de tomar uma cerveja. Discutir mesmo, sem medo, qual é o projeto na montagem, pra lá da plasticidade dos figurinos, cenário e iluminação.

'3 comentários para “Dois Irmãos – Due Fratelli”'
  1. Figurinha disse:

    Tem assessoria de imprensa que se acha mais importante que as pessoas que divulga. Com certeza é o caso dessa Arteplural. Eita gente besta!!!

  2. Fabrício Muriana disse:

    Nossa, “figurinha” (sem nome, mas com IP identificado), você se apega ao ponto menos relevante do texto.
    É alguma quizumba pessoal com a arteplural?

  3. Oi Figurinha não indetificada, você é um ovni? A crítica é sobre a peça, não a respeito da assessoria. Você não lê a Bacante com frequência, certo? Se lesse nos conheceria e saberia que somos mais que bestas.

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