Les Éphémères

Críticas   |       |    22 de outubro de 2007    |    13 comentários

A Cartoucherie é aqui

Fotos: Maurício Alcântara


Já faz um tempinho que está o maior fuzuê em torno da histórica temporada do Soleil (pela milionésima vez, é do Théâtre que estou falando, e não do Cirque, minha gente!) no Brasil. É a primeira vez que Ariane Mnouchkine e seus amiguinhos trazem sua Cartoucherie inteira dentro de contêineres para a América do Sul. Não dava pra deixar isso quieto, né? Afinal eram muitos contêineres.

Ok, falar bastante dos caras tudo bem. Mas seeempre tem uma turma que exagera: muitos classificam o Soleil como a maior companhia de teatro do mundo (Qual o critério? Elenco, tempo de existência ou quantidade de acentos e sinais gráficos no título da peça?), e ouvi dizer até que essa turnê tem a mesma importância histórica que teve a primeira visita de Sarah Bernhardt ao país de Zé Celso, ainda na época do império (naquela época o Zé ainda não existia. Acho.). Putz, difícil confirmar isso em uma sociedade radicalmente diferente da época, né? E a Bacante também não concorda que Ariane é a deusa do teatro, como já ouvimos por aí também, até porque somos monoteístas e o próprio nome da revista já diz pra quem a gente torce.

Diante de tanto confete e serpentina, lógico que não perderíamos a chance de conferir esse tal Les Éphémères (Os Efêmeros para quem não faz biquinho). Logo na entrada, a platéia já dá de cara com um grande saguão com lojinhas, mesas e bares. No caminho até o espaço onde o espetáculo acontece, passa pelos camarins onde vê os atores se maquiando, se vestindo ou descansando para o início da apresentação. Tudo é feito para que o público respire fundo o universo do Soleil, recuperando uma grande ritualização do fazer teatral e estabelecendo um espírito de comunhão entre todos os envolvidos: atores, equipe técnica e o público, que pode, inclusive, provar as refeições e quitutes criados e servidos pela própria trupe (a preços módicos, claro). Essa busca por uma comunhão entre o teatro e o público não é exatamente uma novidade na São Paulo da rua Jaceguai, onde fica o Oficina. A grande diferença é na forma como essa interação acontece: no Soleil não tem muito problema assistir a peça com uma cueca furada…

Talvez o que eles não tenham previsto é que os brasileiros esfomeados, em vez de formar uma fila, preferem se acotovelar em torno do pequeno bar central, que acaba não conseguindo dar conta de atender todo mundo que se espreme pra descolar seu prato de cordeiro com arroz e salada. Não sei como funciona na França, mas aqui muita gente acaba não curtindo o momento devido ao tempo que fica esperando pra ser atendido, e depois tem de comer rapidinho pra voltar a ver a peça. Mas afinal, carnes de cordeiro, queijos caros, muvucas culinárias e doces esquisitos à parte, o que é que nos sobra pra falar mesmo? Ah, é verdade, falta falar de teatro – às vezes a gente esquece disso nessa revista.

Pois bem, depois que a gente entra e se senta nas arquibancadas (ou escadas, no caso da “lista de esperança”, pra turma sem ingressos), tudo o que se vê deslizando sobre carrinhos empurrados por atores-contra-regras-bailarinos é de encher os olhos. A produção é minuciosa, o espetáculo inteiro é um reloginho complexo, com milhares de engrenagens minúsculas que, juntas, fazem o treco funcionar. E é bonito demais ver esse teatro-cuco funcionando perfeitamente.

O espetáculo é uma colcha de retalhos, composta com base em vivências e improvisações dos atores, pequenos momentos que assumem proporções gigantescas na vida dos personagens ali criados. São momentos tão sutis que acontecem o tempo todo – podem estar acontecendo exatamente agora – e sequer notamos. De alguma forma, todas as histórias remetem a um fim (de um casamento, de uma ilusão, de uma era, etc), e o elenco dá conta de transmitir tudo isso com imenso talento e sensibilidade (vale o comentário: que PUTA elenco!).

Mas o que acontece quando um teatro tão bem-feito, sutil e emocionante não traz novas linguagens, apesar da qualidade dos atores, do texto, da encenação? Vemos um teatro bem-feito e exemplar, mas ao mesmo tempo é um teatro que parece ter parado no tempo e que não dialoga mais com o momento em que ele está. Claro que, no caso do Soleil, já é bastante coisa ser uma companhia tão grandiosa, sem hierarquias e preconceitos, e que ainda se esforça para criar um teatro popular e acessível (ao menos na França). Mas isso a torna mais um exemplo de civilidade e de auto-gestão do que um exemplo de evolução do fazer teatral sob o aspecto da linguagem. E por isso fiquei esperando por algo que não vi: o melhor teatro do mundo propondo EM CENA algo que ainda não tenha sido visto, algo além do tocante e bem feito.

Outra grande pena é que falta um pouco de edição: há cenas simples que dizem tudo e levam a platéia junto, e algumas cenas longas que não mostram a que vieram. Um bom exemplo é o momento em que mãe e filho pulam no sofá ao som de uma música muito alta e decidem não interromper a magia do momento, ignorando o telefone. A platéia, desde o início, acompanha a música com palmas, se emociona e embarca na alegria do momento que dura, no máximo, 20 segundos. Já não é o que acontece, por exemplo, na cena da mãe que decide abandonar a família na noite de Natal, que demoooora, demooooora, demoooora, e no final a gente não sabe pra que ela veio, nem pra onde foi. Não a mãe, a cena mesmo. Talvez o espetáculo pudesse ter até mesmo uma única parte, ainda que com mais horas, mas com menos cenas.

Para finalizar, gostaria de fazer uma retratação. No post do blog em que fiz alguns paralelos entre o Soleil e o Oficina (e que complementa este texto), comentei que o Soleil não radicalizava em nada, o que não é verdade. Poxa vida, é possível um espetáculo ser tão naturalista como esse? A cada cenário, não tínhamos o menor trabalho de imaginar como era o ambiente de cada cena, porque estava tudo lá: sofás, mesinhas, tapetes, enfeitinhos, móveis – até eletrodomésticos que funcionam! O momento extremo dessa radicalização realista é quando é realizada uma ultrassonografia DE VERDADE em cena. Acho que eu gostaria de imaginar um pouco mais ao longo da peça, ou que esse realismo fosse um pouco mais fantástico, mais mágico. Se a opção é a de não fugir do que é de verdade, nem nas histórias, nem no cenário, nem na encenação, o espetáculo atinge seu objetivo com resultados belíssimos. Mas se você procura um teatro que assume mais riscos, é em outro teatro que você vai encontrar, não no Soleil, ou ao menos não em Les Éphémères.

Mais de 140 pessoas na fila de espera, ops, de esperança


PS: E no fim das contas alguns mitos sobre esse teatro vão pelo ralo. Como é que “quando o ator perde o olhar do público acaba o espetáculo” se os atores sequer olham o público nos olhos? Como é que dá para interagir com os atores quando eles estão enlouquecidos tentando atender o público esfomeado (e mal educado)? A Ariane devolve o dinheiro à platéia quando acha que é ensaio geral, né? Quando um temporal terrível impede o público de se concentrar no que acontece em cena, e pior, impede que se ouça o que é dito, isso é considerado espetáculo ou ensaio aberto?

PPS: Vi um monte de comparações entre este espetáculo e o Prêt-à-Porter. Poxa, só porque são duas propostas naturalistas? Injustiça! O Soleil faz um teatro tão bonito, ao passo que esse projeto do Antunes só não é mais chato do que um dos atores que participam dele, que ficou tagarelando do meu lado durante toda uma apresentação integral do Soleil.


Eu, eu mesmo e o Soleil

Esta semana pude conferir pela última vez o espetáculo Les Éphémères, e só agora valeu realmente a pena ver a peça com calma, sem perrengue na fila de espera, sem calor insuportável, sem temporal devastador e sem o cansaço de acompanhar duas apresentações seguidas. Mais importante que isso: fui vacinado contra toda a mistificação e histeria em torno do espetáculo, que eu critiquei no texto acima e que continuo criticando. Tem horas que vacina é tudo de bom na vida da gente – Zé Gotinha que o diga.

O Leo (que Leo? Também não sei, ele só assinou como Leo.) escreveu nos comentários uma análise perfeita sobre a opção do Théâtre du Soleil de embarcar no extremo naturalismo, que eu tomo a liberdade de publicar aqui:

(…) Acho extremamente inovador abandonar a concisão do “tempo teatral” e assumir “o tempo do real” numa situação de representação. Ácho muito inovador você utilizar mudanças de perspectiva como instrumentos narrativos (como o cinema faz) através da utilização dos praticáveis. Acho muito corajoso assumir o risco de não editar o “tempo de vida” das cenas. Acho que os atores não precisam olhar nos olhos da platéia pra “olharem pra platéia”. Acho que é muito audacioso você reproduzir a vida integralmente, sem maneirismos ou artificialismos teatrais. Acho que nada é mais revolucionador no teatro, em tempos ‘pós-dramatáicos, de metalinguagem, quebra da teatralidade,etc etc etc do que conseguir emocionar o público de forma simples e única. Como eu me emocionei. (…)

Não só não tenho como contra-argumentar, como também, depois dessas duas últimas apresentações menos caóticas, percebi exatamente a mesma coisa. Só que, ainda assim, sinto falta de um espetáculo que brinque mais com linguagem e com o fazer teatral. Isso NÃO quer dizer que eu espere que a peça abra mão desse naturalismo para radicalizar em propostas 100% inéditas.

Nas últimas apresentações pude perceber o quanto os poucos momentos que quebram – ainda que de forma sutil – esse estado natural (ou “normal”) da peça conferem uma força infinitamente maior à cena do que os momentos em que as coisas são exatamente como são na vida real.

Alguns exemplos pra ilustrar cairiam bem, né? Também acho. Talvez o personagem mais comovente e cativante do espetáculo seja a excêntrica Madame Perle, uma senhora de idade, louca, que vai ao médico achando que está grávida, e acaba conquistando o coração da médica que a atende. Madame Perle é possivelmente o elemento menos naturalista da montagem: sua maquiagem carregada, seus trejeitos e tiques nervosos e seu figurino kitsch talvez remetam muito mais a um expressionismo do que a um naturalismo. Shaghayegh Beheshti, a atriz fabulosa que a encarna, dá conta de carregar a platéia consigo seja para o drama, seja para o humor, e o público embarca com gosto.

Na cena em que Jeanne – a mulher que busca o passado de sua família – pára em frente à entrada de um prédio e o passado literalmente atravessa aquela mesma porta onde ela se encontra, um único movimento de cena é capaz de ressignificar toda a relação espacial e temporal.

Já nas cenas em que a mãe divorciada curte o momento em que está junto à filha (ou filho, dependendo do dia que vc assiste), basta a criança estar vestida de zebra ou de leão para que essa quebra do “natural” dê um aspecto ainda mais lúdico àquilo que vemos. O mesmo ocorre na cena em que os adultos comem maçãs do amor enquanto as crianças dormem segurando peixinhos dourados, ou ainda, na cena belíssima em que o avô ensina ao neto o que é uma tourada, como forma de eternizar a tradição espanhola da família. É o improvável que dá vida e sabor ao naturalista de todo o dia. Tipo Sazón, sabe?

Outro exemplo é o momento rapidíssimo em que um pai explica ao filho que ele não pode soltar o peixinho no poço porque o peixe é de verdade, enquanto o poço – cenográfico – é de mentira. Ninguém abre mão de proposta nenhuma, mas ao mesmo tempo abre a possibilidade de imaginarmos que aquele teatro não quer apenas imitar a vida de verdade, mas também dialogar com a vida de verdade daqueles que estão assistindo a uma peça francesa naquele exato momento.

Por isso sustento a questão de que falta brincar mais com isso, ou ainda, falta uma edição maior no espetáculo: as cenas menos “mágicas” acabam perdendo – e muito – para aquelas que trazem algo a mais. Caso da cena que já citei, da mulher que abandona a família na noite de Natal, da cena em que o neto viciado em drogas bate na porta dos avós para pedir dinheiro, ou ainda a história da família aristocrata que perde um filho – que apesar de ser bastante emocionante, também se prolonga mais do que deveria.

O naturalismo permaneceria, o “tempo da vida” permaneceria, mas a peça conseguiria ser ainda mais metalingüística, mesmo sem apelar pra “maneirismos e artificialismos teatrais”.

5 apresentações vistas, 2 inesquecíveis


Bastidores

Fotos: Maurício Alcântara

Veja todas as fotos AQUI.


Fotos tiradas antes da apresentação integral de 20/10/2007.

'13 comentários para “Les Éphémères”'
  1. Sérgio Coelho disse:

    Talvez o mais moderno hoje é não querer mais ser moderno. Medite sobre isso..e não deixe sua sede criadora invadir sua imparcialidade crítica.

  2. Maurício Alcântara disse:

    Oi Sérgio,

    Concordo com você que o teatro não precisa ser 100% inovador o tempo todo – assim como teatro inovador não é sinônimo de teatro bom, e vice-versa. O que vemos ali é mais que suficiente para que nos emocionemos com as histórias (ao menos algumas delas), e por isso, não se mostra necessária nenhuma reinvenção da roda. Mas que ficaria ainda mais bonito se tivesse mais ousadia, ah ficaria… Mas também sei que isso não é um pensamento “civil” (usando uma analogia ótima que a Fernanda D’Umbra fez uma vez, referindo-se às pessoas que vão ao teatro sem ter envolvimento maior com o meio artístico).

    Quanto à imparcialidade crítica, acho que não acredito nesse treco não! Ao menos ainda prefiro assumir descaradamente a parcialidade de um espectador exigente (e as conseqüências desta postura), e analisar os espetáculos sobretudo com sinceridade…

    Mas vamos falando!

    Grande abraço!

  3. leo disse:

    Maurício, o que gosto em suas críticas é a parcialidade sincera.
    Da minha parte, discordo. E, sem nenhuma pretensão crítica.
    Pelos seus comentários (chuva, etc), assisti ao espetáculo no mesmo dia que você. E o que vi foi tão diferente…
    Acho extremamente inovador abandonar a concisão do “tempo teatral” e assumir “o tempo do real” numa situação de representação. Ácho muito inovador você utilizar mudanças de perspectiva como instrumentos narrativos (como o cinema faz) através da utilização dos praticáveis. Acho muito corajoso assumir o risco de não editar o “tempo de vida” das cenas. Acho que os atores não precisam olhar nos olhos da platéia pra “olharem pra platéia”. Acho que é muito audacioso você reproduzir a vida integralmente, sem maneirismos ou artificialismos teatrais. Acho que nada é mais revolucionador no teatro, em tempos ‘pós-dramatáicos, de metalinguagem, quebra da teatralidade,etc etc etc do que conseguir emocionar o público de forma simples e única. Como eu me emocionei.
    Acho também que há cenas longas, não sou fã de Ariane Mnouchkine (pra falar a verdade, como sou “civil” e nào “gente-de-teatro”, nem tinha ouvido falar tanto dela. E nem me deixo levar pelas afetações do público.)
    Adoro desafios de linguagem e “Os Efêmeros” é, eu acho (numa opinião bem parcial) é uma jornada de desafios: da linguagem teatral, da experiência do público, da técnica dos atores, de simplicidade.
    Inesquecível.

  4. Maurício Alcântara disse:

    Oi Leo,

    Deixa eu falar… assisti, no total, a 5 apresentações (3 da primeira parte, 2 da segunda), e somente nas duas últimas apresentações (segunda e terça) consegui assistir blindado contra toda a histeria que se criou em torno do espetáculo. E consegui enxergar tudo isso que você apontou.

    Mas confesso que ainda sinto falta de personagens não tão naturalistas, como o caso da maravilhosa Madame Perle; de brincadeiras com o próprio fazer teatral (como o diálogo do peixe de verdade em um poço de mentira, lindo); ou ainda um pouco mais de coisas improváveis, como os adultos comendo maçã do amor ou a criança com fantasias de animais (por quê diabos ela usava aquelas roupas? Achei isso maravilhoso). Isso eu também classifico como linguagem, e em nada interfere no uso do tempo, dos silêncios, das situações que você muito bem defendeu.

    Longe de mim querer propor que o espetáculo seja diferente – não é essa a idéia. Com a liberdade que a “parcialidade sincera” me confere, quis deixar registrado que parrticularmente EU me emocionaria muito mais se o espetáculo brincasse um pouco mais. Não que eu não tenha me emocionado do jeito que é. Como você mesmo disse, é inesquecível e eu concordo.

    Mas ainda bato muito forte na tecla dessa histeria absurda em torno do espetáculo e do grupo, uma adulação mais do que o normal. Um exemplo prático e pontual que ilustra bem isso: li em algum jornal dizendo até mesmo que o atendimento do bar é demorado porque eles simplesmente não querem ser fast-food. Em parte, pode até ser verdade, mas por outro, parece que essa demora faz parte do universo do espetáculo, quando na verdade a questão é muito menos ideológica e mais estrutural: demora porque simplesmente não dão conta de atender a todos. Entende o que eu digo? Esse é só um exemplo banal, mas tenho lido uma porção de coisas nessa linha por aí…

    Poxa, o espetáculo tem seu brilho próprio, não precisa de purpurinas desnecessárias que acabam interferindo em sua fruição…

    Valeu pelo comentário!!!

    Abraços.

  5. Maurício Alcântara disse:

    Aliás, hoje na saída do espetáculo, comentei com a Leca que estou pensando na possibilidade de publicar na semana que vem um texto dialogando com meu próprio texto.

    Tal esquizofrenia é porque não paro de ruminar este espetáculo em minha cabeça, desde que vi a primeira apresentação, um ensaio aberto antes da estréia paulistana. Enfim, vamos ver… Se eu achar que vale, publico. Senão, a gente fica aqui nos comentários mesmo, porque tá bacana…

  6. Guilherme disse:

    Oi Mauricio, tudo bem?

    Belo texto. Temos visões muito parecidas sobre o que vimos. Ao contrário de você, no entanto, não tenho essa percepção de que o espetáculo é, digamos, anacrônico. Acho-o simples (no sentido de direto, coeso), sensível e honesto, e essas características são atemporais. Nesse ponto, penso que os sentidos do espetáculo são mais importante do que os próprios elementos em si.

    Você faz justiça quando rasga elogios ao elenco. É realmente impressionante. A transição que Juliana faz da mãe professora deprimida para as gargalhadas da cena seguinte é uma verdadeira proeza. Os olhares vazios – isso você também capta bem.

    Alguém reclamou que queria escutar o silêncio dos atores. Não discordo, embora goste muito da trilha sonora, discreta, quase um comentário das cenas que se desenrolam.

    De resto, acho que você acerta em cheio ao sugerir um resultado mais enxuto. Menos pode ser mais nesse caso. A repetição enfraquece o todo.

    Nada que comprometa seriamente um belo espetáculo. Agora é torcer para não ser atropelado pelas centenas de rodinhas que virão por aí nos palcos da cidade…

    E que venha outro texto!

    Grande abraço,

    Guilherme Conte

  7. Maurício Alcântara disse:

    Voilá!
    Novo texto publicado. Logo mais publico as fotos que tirei tanto no ensaio aberto como nos bastidores.

  8. Xarão disse:

    Oi Maurício,

    Estou adorando esse “debate”!
    Pra mim, ver Soleil foi uma viagem inesquecível, não há preço que pague cada momento, toda emoção.E quantas né!
    É um espetáculo efêmero, e falar disso, é falar da vida.
    As coisas efêmeras não têm tamanho, nem volume, nem comprimento, e é assim que acontece alí.
    Diante dos nossos olhos surge um mundo de vidas repleto de histórias e caracteristicas tão sinceras, que é fácil “aprender” a viver cada trama. Sem falar da linguagem naturalista, que acredito ser um ponto alto em tempos de tanta “artificialidade”, a peça é um suspiro, e como é, pode ser longo,pode durar cinco segundos e mesmo assim significar uma vida inteira.
    O espetáculo acontece sempre imenso, desde a ida ao local da apresentação – sempre distante- a fila para comprar os cds, o carneiro…
    Essa experiência é assim, e acho que é por isso que fica tanto tempo na nossa cabeça, e é por isso que tu vais escrever outros tantos textos sem cerrar a linha final.

  9. Emilliano disse:

    As fotos só acrescentaram e mostraram o cuidado com os detalhes! Muito belo!

  10. Deolinda Vilhena disse:

    Maurício, meu caro

    Minha admiração pela Bacante e por vocês dois em especial, Fabrício e você, é pública e notória…mas vou dar alguns pitacos, tendo dedicado dez anos da minha vida ao estudo do Théâtre du Soleil, e acompanhando os passos da trupe desde 1975, coisa fácil e banal depois do advento da internet mas que nos idos 70/80/90 era verdadeira aventura…lembro-me de esperar de cada criatura que viajava a Paris um “souvenir” do Soleil…levei 25 anos para chegar à Cartoucherie e ver um espetáculo, vi dois de cara e mais 32 esperando que eles viessem ao Brasil.
    Faço parte dos que consideram o Théâtre du Soleil a maior companhia de teatro em atividade no mundo, a esse grupo pertencem pessoas muito mais capacitadas do que euzinha, a revolução cênica provocada por Ariane e sua turma em meados dos anos 60, é considerada por Denis Bablet, Bernard Dort, Piccon-Valin, Georges Banu, David Bradby e tantos outros teóricos como a maior aventura teatral da segunda metade do século XX e muitos dividem o teatro nesse mesmo período de tempo em antes e depois de 1789, criado em Milão em novembro de 1970.
    43 anos após sua fundação e com uma atividade ininterrupta, respeitando códigos e leis da data de sua criação, o Soleil continua a causar espanto mundo afora…em países tão diferentes quanto a Austria, a Austrália, o Japão, os Estados Unidos, a Coréia, Israel, Itália, Alemanha, Espanha, e agora Brasil e Argentina…
    O Soleil recebe em média 80 convites por ano para se apresentar pelo mundo, desses poucos são os convites que se transformam em realidade…mas há quatro décadas Ariane é a grande embaixatriz cultural da França. Isso num país onde cultura é coisa séria e onde um homem, como Peter Brook, inglês diga-se de passagem, se instalou e é subvencionado pelo governo francês e onde todos os grandes diretores do mundo trabalham…Bob Wilson que o diga…
    As mais de cem teses e dissertações existentes sobre o Théâtre du Soleil, os mais de 300 artigos que eu comprei apenas nos arquivos do Le Monde, mais de 500 entre Libération, L’Humanité e Le Figaro, os inúmeros livros que existem sobre o teatro no século XX comprovam mais do que minhas simples palavras a importância dessa trupe.
    Num mundo onde o individualismo é, talvez, a maior das pragas, essa trupe consegue se renovar, ainda bem pois senão como diz Ariane, se todos tivessem a idade dela eles só poderiam montar Les Burgraves de Victor Hugo, e renovar o teatro mesmo quando eles não são modernos e renovadores, ou você tem visto muito “teatro-cuco” por ai???
    Num dos artigos publicados no Brasil, acho que foi o Jefferson do Estadão que disse, que não se pode derrubar uma Bastilha por dia, no teatro não se pode exigir o novo a cada espetáculo, e a história dessa trupe e particularmente, a história de Ariane há muito já a colocou acima do bem e do mal e olha que ela nem dorme em berço esplêndido, trabalha sem parar…Se você quiser te passo a lista da minha bibliografia de referência sobre o Soleil, são 477 itens, e tenho certeza de que ao ler apenas sete você passará a integrar a turma que afirma sem medo de errar que o Soleil é a maior companhia de teatro do mundo em atividade, não pelo seu tamanho, nem pelas 200 toneladas de equipamento que transporta, mas pelo valor da obra criada ao longo de quatro décadas. E acima de tudo pela ética e pela coerência de Ariane, você conhece muitas companhias cujo único contrato de trabalho seja um pacto de honra???
    Para finalizar, essa coisa de escrever tese deixa a gente meio sem noção de texto curto, queria fazer duas correções:

    1. “quando se perde o olho do ator, se perde o teatro” essa é a frase certa de Ariane;
    2. nem as companhias aéreas, nem as companhias seguradoras devolvem ou pagam prejuízos causados por chuva, tempestades tropicais, nevascas, são fatores externos completamente aleatórios, como querer comparar isso com o cuidado extremo de Ariane ao devolver o dinheiro numa estréia marcada quando, para ela, o espetáculo ainda não está pronto???

    No mais parabéns pelo trabalho e pelas fotos, que estão lindas…e tomara que ao longo da sua vida voce possa encontrar outras trupes tão absolutamente especiais quanto o Théâtre du Soleil. Para mim, apesar de todo o empenho da mídia muito do Soleil ficou de fora. Que bom Maurício que ainda se faça barulho demais com a visita de uma “simples” trupe. É mais uma vitória de Ariane, basta conferir o espaço consagrado ao teatro na mídia brasileira…

    PS – Entreguei à Lili, assessora de imprensa do Soleil os teus textos e hoje os entregarei à Ariane, acho que ela vai gostar…

  11. Fabrício Muriana disse:

    Tem vezes que a Bacante vale mais a pena do que o normal.
    O Maurício deve te reponder com a devida preocupação, Deolinda. Mas já te adianto que os dois pontos que você levantou no final do seu comentário foram sugestões de edição (no sentido de amplificar o texto e seu potencial crítico) que fizemos no processo de atualização da semana passada. E é esclarecedor notar que essas provocações têm resposta.
    Muito obrigado (mesmo!) pelo seu comentário e nunca se preocupe com o limite de caracteres na internet. Preocupe-se sempre em fazer cada linha valer a pena, como foi o caso desse comentário.
    Um abraço grande.

  12. Maurício Alcântara disse:

    Guilherme, pois é. Vou te falar que sábado mesmo, em um ensaio, foi irresistível não pegar um móvel com rodinhas e sair girando ao som da trilha de Les Éphémères, só de sacanagem, hehehhe…

    Xarão, concordo que foi inesquecível. Só não concordo com alguns argumentos que tenho visto por aí, de que o oposto de “naturalista” é “artificial” ou “forçado”. O teatro não é maniqueísta desse jeito. Abração!

    Emiliano, valeu!!! Também curti demais fotografar tanto o ensaio aberto, como os bastidores de uma apresentação integral. Primeiro porque o resultado me agradou bastante, segundo porque são poucos espetáculos em que há tanto a se fotografar…

    Deolinda, como bem disse o Fabrício, esses dados todos nos ajudam a enxergar um pouco mais a grandiosidade de algo que é maior que o espetáculo que aqui vimos. Sobre as questões levantadas, muitas vezes sequer esperamos o contário, mas tem hora achamos que vale nos apropriarmos de nosso papel de “enfants terribles” e falarmos de algumas coisas que percebemos e que não são ditas – porque nos outros lugares não cabem mesmo, enquanto aqui a gente se dá uma espécie de “liberdade poética” de falar o que achamos com sinceridade… Mais com o intuito de provocar do que de questionar. Nada que – de forma alguma – comprometa a qualidade e a paixão daquilo que é visto, e isso fica bem claro. Confesso que depois dessa temporada-relâmpago, uma de minhas maiores curiosidades é de vê-los novamente, desta vez lá na Cartoucherie de Vincennes. E pretendo realizar isso em breve… Por enquanto, tenho de me contentar com o DVD de Le Dernier Caravansérail que comprei e ainda não consegui assistir… Beijão!

    E pessoal, concordo com o Fabrício. Acho que de longe, esse tem sido o espetáculo que mais gerou discussões produtivas aqui na Bacante. Talvez porque seja um espetáculo que não deixe as pessoas saírem indiferentes… E mais que isso, as pessoas – ao contrário do que aconteceu em alguns outros textos – estão realmente dispostas a discutir e participar dessa construção de uma teia de opiniões. E isso não só é legal demais, como é o que queremos desde o primeiro dia da revista no ar!

  13. Deolinda Vilhena disse:

    Valeu meninos! Não por acaso apostei em vocês desde que li a Bacante pela primeira vez e saibam que garanto hospedagem para os dois no meu ap em Paris quando quiserem ir ver ao vivo e em cores a Cartoucherie…e vocês ja me conhecem o suficiente para saber que não é convite de carioca…memso sendo eu uma carioca de adoção…
    Beijos…

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.