Os Produtores

Críticas   |       |    19 de fevereiro de 2008    |    18 comentários

Uma Noite com Falabella

Foto: Jairo Goldflus

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Depois de ler e ouvir muitas críticas desfavoráveis e com a peça quase saindo de cartaz, finalmente tomei coragem para assistir ao musical Os Produtores, de Mel Brooks e Thomas Meehan, na casa de espetáculos Tom Brasil. A vontade de ver à história nos palcos surgiu antes da montagem chegar ao Brasil – após assistir ao ótimo filme Primavera para Hitler, também de Brooks, e o nada-de-mais Os Produtores, dirigido por Susan Stroman.

Contudo, o anúncio de uma adaptação com elenco global e assinada por Miguel Falabella, que tende a colocar seus cacoetes (desde linguagem e repertório de ações até entreter a platéia com um monólogo sobre velhinhas assistindo ao espetáculo) nas encenações, não parecia que seguiria a linha de Mel Brooks e de outros musicais trazidos ao Brasil (apesar desses outros também serem Broadway-wannabe, pelo menos alguns trouxeram as produções estrangeiras com eficiência. Como já foi dito na Bacante AQUI. Aliás, o loiro já havia participado antes do musical O Beijo da Mulher Aranha, com Cláudia Raia, também repleta de gagues do ator – a sorte é que neste, ele apenas atuava.

E não deu outra: a produção adaptada, dirigida, estrelada e monopolizada por Falabella – com direito a monólogos do próprio que lembravam muitíssimo Sai de Baixo, e falas que comparavam um personagem à cantora Alcione (produzindo as risadinhas dos atores durante o espetáculo) – saía (e muito!) do original. Não que uma adaptação não tenha que ter apropriação, mas, de um jeito ou de outro, tem que ser feita com habilidade, e não buscando risos fáceis com palavrões e piadas sexuais exageradas (o de Mel Brooks já trazia piadas sexuais sutis, como a relação do produtor Max Bialystock com suas velhinhas financiadoras… quando esse humor foi escancarado na produção de Falabella, acabou ficando banal). Uma amiga que não conhecia o texto me perguntou no intervalo: “O filme é tão sexual assim?”

A história é sobre um produtor fracassado que, junto com um contador, resolve realizar a pior peça de todos os tempos para ficar com o dinheiro aplicado pelos investidores, sem precisar prestar-lhes contas. Basicamente, 83% (segundo o olhômetro Bacante) das sutilezas do texto foram escancaradas na adaptação, muito devido à egotrip de Falabella, que transformou muitas cenas em comédia pastelão. A impressão que se deu é de que o diretor/ator/cantor/bailarino poderia ter utilizado qualquer texto para fazer suas estripulias.

Não que Falabella seja tão ruim assim, ele até tem um vozeirão e capacidade de improvisação que diverte seus companheiros de elenco e fãs – mas sua forma de interpretar o produtor Max Bialystock e sua ânsia por risos, fizeram com que seu Max fosse facilmente confundido com o Caco Antibes de outrora. Juliana Paes como a aspirante gostosa a atriz Ulla (Juliana, aliás, nunca mais encontrará um papel com o qual se identifique tanto) lembra do tempo em que os musicais tinham artistas talentosos e desconhecidos, e os ingressos eram mais em conta.

O lugar escolhido para a apresentação também não ajuda: com a platéia disposta em mesas, grande parte do público é obrigada a ver uma peça no desconforto. Pra piorar, os garçons continuam servindo durante o espetáculo e, além disso, perguntam a alguns clientes das primeiras filas se desejam mais alguma coisa. Por algum tempo, duas garçonetes ficaram agachadas logo na minha frente, cochichando, porque não sabiam para qual mesa o pedido era destinado. Fiquei imaginando como deve ser o treinamento dos garçons – deve ser algo do tipo “como andar curvado e servir bem”. Mas como a Bacante não é guia de jornal, não cabe a nós avaliar a qualidade do serviço. Ainda bem!

O realese da peça também merece seu parágrafo de menção honrosa. O trecho que diz: “A versão nacional de Os Produtores tem números que impressionam. Só de figurinos serão mais de 350. Os atores usam 60 perucas – duas só para transformar Juliana Paes na loura Ulla – todas criadas específicamente (sic) para a peça, com cabelos naturais.” Realmente convence uma pessoa da importância de assistir essa montagem! Aliás, já virou parâmetro para nós da Bacante – não vamos cobrir musicais Broadway-wannabe com menos de 50 perucas e 300 figurinos. Se a peruca não tiver cabelos naturais, nem vamos.

Por mais que alguém possa dizer “é, mas é teatro pra diversão. Você deveria esperar isso mesmo. Teatro também tem que ser pelo riso”, como muitos têm comentado pelas resenhas da Bacante, não creio que esse seja um exemplo de ótima peça de diversão. Eu confesso que gosto de musicais e tenho acompanhado alguns deles desde que vi A Bela e A Fera, no Teatro Abril. Acredito que haja muito mais vida inteligente e divertida por esse universo do entretenimento (cada vez mais restrito à elite financeira, pelo aumento exponencial no preço dos ingressos), do que tem essa montagem de Os Produtores.

Água Mineral: R$ 4,80. Programa de peça: R$ 10,00. 60 perucas em cena: não tem preço!

'18 comentários para “Os Produtores”'
  1. Ronaldo disse:

    E você apgou para ver isso???

    Teatro é injusto mesmo!

  2. Leca Perrechil disse:

    Sim… e caro!

    Com o dinheiro dava pra ver umas 7 peças, provavelmente mais com carteirinha de comerciário, nos SESCs… mas teatro é injusto mesmo…

    Bjos.

  3. Elder disse:

    Comentário de um amigo acerca da obra em questão: “Peças teatrais sempre tem seu charme, e olha que o charme da Juliana Paes é um pouco difícil de ser superado. Ela tem uma bunda ENORME!!!!”

  4. lucas disse:

    ÔÔ… bunda!
    ps.: mas naum é só isso.

  5. Leca Perrechil disse:

    Claro que não… as maças do rosto dela tb são bem jeitosas.

  6. peraí! crítico de Teatro também paga ingresso?

  7. Olha gente, tenho que confessar: eu queria ter uma bunda como a da Juliana! Trabalho muito por isso: malho 5 dias por semana.

    Algum problema com bunda?

  8. Leca Perrechil disse:

    Problema nenhum.
    É o que a Ju tem de melhor. Tem que valorizar, né?
    Bjos.

  9. Ricardo disse:

    The Producers é inadaptável para o gosto brasileiro, sem falar que é uma produção cara demais para os riscos – daí o uso de uma casa de show, para forçar bebida na galera e aumentar os lucros. Musicais mais “universais” como Fantasma da Ópera, Cats, Les Miserables, até mesmo Sweeney Todd (quem sabe um dia) – funcionam no Brasil, The Producers nunca. Falabella esqueceu que está em SP, não em NY. Egotrip total…

  10. Ricardo, bom que você entrou na discussão, vamos pensar todos juntos…

    O que exatamente faz do público brasileiro tão diferente? Quais são os critérios? Qual é esse “gosto brasileiro” a que você se refere? E mais importante: quem é esse “o público brasileiro” que você cita?

    E o que exatamente faz de Os Produtores tão sui generis assim pra – especificamente essa peça – NUNCA funcionar no Brasil? O que faz com que ele não seja “universal” como os demais citados?

    Me diz, porque eu não entendi…

  11. jair disse:

    não gosto de pessoa hipocritas e nem de teatro que essas pessoas são grandes artistas até na vida real porque como disse nosso amigo catador de latinha do panico na tv julgam somente pela “casca” e porque somos por dentro achei lastimavel a agressão a pobre trabalhador que só queria ver uma peça de teatro e tinha ingresso não nenhuma lei que impeça de ver o espetaculo a não ser a lei oculta que impera em todos nós que é o preconceito.

  12. Francisco disse:

    Se eu tivesse lido essa crítica antes teria passado longe do Vivo Rio. Tudo o que eu senti no teatro foi escrito nessa crítica. Eu achei um absuuurdo aquilo ser considerado musical. Por favor! No máximo um teatro cantado nível Zorra Total! De muito mau gosto.

  13. Ricardo Schrappe disse:

    Leca, por favor troque o crédito da foto. O fotógrafo é o Jairo Goldflus. Obrigado.

  14. Luis Philippe Fondacaro disse:

    Leca Perrechil, a questão é: Se você é tão boa, porque você não esta produzindo, dirigindo, cantanto e atuando. não seria isso um pouco de Ciúmes de sua parte por ser da sua alçada apenas tecer alguns cometários infames sobre ótimos atores? Fui ver a peça e achei simplesmente incrível, aliás eu e mais umas 300 revistas de pessoas como você, mas a diferença é que elas tem bom gosto! Me desculpe, mas você foi absolutamente infeliz com esses seus comentários!!!

  15. Erico Lages disse:

    Assisti a peça e gostei muito, como a maioria das pessoas presentes na minha sessão. Quem disse que não é peça para o “público brasileiro”, fez alguma pesquisa para poder afirmar isto? Por favor!!!!!!!!!

  16. carla disse:

    Gostei tanto da peça, aqui em Porto Alegre, q resolvi fazer uma pesquisa na internet prá saber das opiniões. Louvável, no Brasil, empreender um espetéculo tão caro. Ponto para Fallabela. Achei, sim, parecido com Caco Antibes, mas ele nem quis disfarçar isso e estava ótimo. O Vladimir estava maravilhoso, q grande ator!
    Gosto brasileiro? O Fantasma da Ópera é para o gosto brasileiro? Acho q os produtores tem mais a ver com o gosto brasileiro. Mas, o q é gosto brasileiro? Puxa, criticaram até o release…q coisa! Não deve ser fácil empreender um espetáculo no brasil, que caia no gosto dos criticos….esses sim, não tem o gosto do brasileiro.

  17. Então, Carla, se você soubesse o quanto é FÁCIL empreender um espetáculo desse… Com lei de isenção fiscal, garantia de público em diversas cidades, chancela de atores globais e pedigree da Broadway as coisas ficam MUITO fáceis.

    Queria ver Sr. Falabella produzir um espetáculo do Teatro da Vertigem no Tietê ou na Guanabara, isso sim eu queria ver.

    Pensando bem, não quero ver isso não. Eca!

  18. Guísella disse:

    Eu acho que a peça que veio a Porto Alegre foi outra, eu adorei, achei a produção ótima, o humor delicioso e bem brasileiro sim, e não tem nada de errado nisso. Assisti O Fantasma da Ópera em Londres e não tem como fazer comparação, os objetivos são diferentes. E não vejo nada de errado ter como objetivo o simples riso do público. Espero que o número de produções musicais aumentem cada vez ,mais no Brasil e não vejo porque os críticos torcem tanto o nariz para a adaptação no estilo brasileiro.

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