Entrevista com o elenco de Conquanto Sonho

Bate-Papos   |       |    24 de junho de 2008    |    1 comentários

Fotos: Beatriz Rodrigues

Bate-papo 3 ou como impedir o alongamento adequado para uma peça ou “Conquanto alongo”

O Filo 2008 marcou, na Bacante, a estréia da primeira colaboradora sulista-com-sotaque-e-tudo, que é também a primeira colaboradora-fotógrafa, a Beatriz Rodrigues. Para começar fazendo jus ao título de colaboradora em toda sua amplitude, a Bia nos colocou em contato com parte do elenco da peça do Conquanto sonho e agendamos mais uma entrevista da série “Bate-papo ou”, que já atrapalhou, entre outros, Georgete Fadel, Cristiano Tomiossi e todos os Clowns de Shakespeare. Desta vez, tiramos o Maciel Bueno Osa, a Milene Duenha e o Júnior Romanini, já com figurino, de seus primeiros alongamentos pra falarem com a gente num lugar mais silencioso e quentinho – quentinho era essencial no domingo frio de Londrina.

Abaixo, você lê uma longa conversa que passeia por temas como os potenciais de um festival como um encontro entre artistas, as dificuldades de sobreviver de teatro em Londrina e as questões que surgem ao ser padre e ator, tudo ao mesmo tempo agora. E, pode ler tranqüilo, pois apesar de termos atrapalhado, a peça Conquanto sonho aconteceu normalmente, sem ninguém ter se contundido por conta da falta de alongamento. Pelo menos a gente não soube de nada ainda.

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Como foi a formação do grupo?

Júnior: Esse trabalho é resultado de um prêmio chamado Antônio Teodoro, que é um prêmio inédito concedido pela prefeitura de Londrina em parceria com o FILO (Festival Internacional de Londrina). No começo deste ano eles lançaram este edital pra beneficiar dois projetos de artes cênicas da cidade e que uma das condições seria estrear no FILO o espetáculo e cumprir uma temporada depois. Há dois anos, mais ou menos, quando a gente estava na faculdade ainda, eu e o Maciel, a gente se apaixonou por esse texto e a gente sempre quis montar. No ano passado, a gente montou esse projeto, nós dois, que era pra atuarmos só nós dois, com a produção da Milene, só que não passou. Este ano, novamente, a gente inscreveu o projeto, juntando uma turma que no ano passado, ou melhor, no final de 2006, fazia parte do 4° ano da universidade a montagem de um espetáculo e a gente montou juntos um espetáculo chamado Foi tarde. No ano passado, 2007, a gente percorreu várias cidades do Sul e Sudeste do Brasil, apresentando esse espetáculo. E foi uma turma que deu muito certo, então a gente juntou a idéia que eu e o Maciel tínhamos com esse grupo. Escrevemos esse projeto, nós três escrevemos, e aí passou. Então esse trabalho é resultado desse projeto em que ganhamos um prêmio de 60 mil reais, pra montar o espetáculo.

Desde o início, foi concebido para o Museu?

Júnior: A idéia do projeto é sempre ocupar onde quer que a gente vá apresentar um monumento histórico ou um prédio antigo na cidade que tenha alguma relação com a história da cidade onde a gente estiver. A gente achou que o Museu abrigaria essa proposta. Então a gente fez uma parceria mesmo com a direção do Museu.

Como vocês fizeram diálogo entre texto e espaço?

Júnior: Uma parceria com a direção do Museu.

Qual é a relação com o movimento barroco?

Júnior: O texto é do período barroco, é inclusive um texto clássico e aí a gente achou que a história mesmo do prédio, a estrutura do prédio também, por exemplo, essa fachada que é comprida, que tem a idéia do barroco de elevar ao céu, a gente achou que casaria com o que a gente estava procurando. Só que claro que isso é o projeto e na realização nem sempre acaba acontecendo como a gente pensou. Muitas vezes tem outras propostas, nesse caso, por exemplo, a gente convidou o Agnaldo pra dirigir e ele tem as propostas dele. Mas a proposta de utilização deste espaço é por isso, a questão da história do texto e da arquitetura mesmo.

Milene: A arquitetura contribuiu muito pro cenário na verdade. A gente transforma o prédio em cenário, tanto que tudo – até a cor agora da plataforma – foi pensado pra que fizesse parte.

Maciel: Nesse período, esse texto era encenado ao ar livre. Então, na Espanha, onde ele foi escrito, os teatros eram chamados de …, que eram estruturas fora, eles utilizavam como se fosse um beco e montavam essa estrutura se utilizando das casas ao lado da rua. Então, o texto já propõe essa escolha de não ser em um lugar fechado e aproveitar a arquitetura própria do lugar. A idéia também é essa, de dar um pouco de aproximação. Claro que não chega ao que foi no barroco, mas a gente tenta chegar um pouquinho. Mesmo porque é impossível.

Júnior: Além disso, é uma experiência bastante nova pra gente. Com exceção de uma atriz, é a primeira vez que a gente faz teatro ao ar livre. A gente estava super acostumado à caixa preta, ao palco italiano. Isso tem muitas barreiras. Quando você tem a caixa preta, você tem o público na sua frente e está tudo fechado em volta. Aqui você rodou tem uma árvore, tem o Terminal ali passando, então tem todas essas interferências e a gente este se adaptando ainda, porque tem apenas um mês que a gente veio pra cá. A gente ensaiou dentro de um espaço fechado com todas as estruturas e aí a gente trouxe pra cá pra se adaptar aqui.

E como vocês decidiram a disposição do público?

Júnior: Isso, na verdade, não foi nada pensado.

Maciel: Foi mais uma questão de adaptação ao espaço mesmo.

Júnior: Mas inicialmente, olha só pra você ver como as coisas se transformam, o Agnaldo tinha outra idéia. A gente até estudou, assistiu Shakespeare Apaixonado, pra nos basearmos no teatro Elizabetano, em que o público ficava muito próximo. Então, era pra ter sido feito aqui ó. Essa era a idéia inicial. Mas aí pela estrutura do cenário e questões financeiras, a gente acabou mudando.

Milene: Uma coisa que Agnaldo propôs desde o princípio era sempre colocar as pessoas, perto ou longe, com a cabeça inclinada pro alto, e já era sugerir um movimento do público em direção ao Museu, então pra ver o espetáculo você tem que manter a cabeça inclinada, porque você tem que olhar pra última plataforma. Por isso também a última plataforma ter três metros, é para sugerir também um olhar do público.

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Vocês não usam o texto com extremo respeito. Pelo retorno que estão tendo do público, vocês acham que a história original está chegando ao público? Isso é uma preocupação?

Maciel: Eu não acho que chega a história como ela é de fato, eu acho que chegam os conflitos principais. A história ela se desenvolve de maneira muito grande, é um texto longo pra se encenar, até porque era próprio da época textos longos. Mas acho que existem alguns conflitos principais dentro do texto, porque é bem característico do barroco a montagem textual a partir de um pensamento filosófico. Então, você tem conflitos principais que nós trouxemos que é Segismundo preso; a Rosaura que vai até a Polônia pra se vingar; e o conflito com o pai – quem é o rei, quem vai ser o rei. Então, trouxemos só os conflitos principais pra poder desenvolver através das ações. Mas a história mesmo é bem maior do que isso.

Vocês utilizam um texto barroco, mas a estrutura da montagem não se baseia no barroco, é muito mais contemporânea mesmo. Como o processo chegou a isso?

Júnior: É, inclusive, uma das coisas que a gente trás são memórias pessoas. Por exemplo, a história da Ana Preta que eu conto na peça é uma história que realmente aconteceu comigo quando eu era criança, então a gente fez um paralelo com a questão do sonho de criança.

E você achava mesmo que você ia virar sabão?

Júnior: Achava! Ela era uma mulher preta, ela descia a rua eu saia correndo pra dentro de casa, eu morria de medo dela. Aí teve um dia que eu fui na casa dela. A casa dela não tinha portão de entrada e aí eu consegui chegar até o fundo da casa dela e vi que ela tinha um tacho. A Odete também, ela conta a história de quando ela ia pegar o ônibus pra ir pra escola, que ela morava no sítio, e aí entrava numa fila na escola e a gente faz o paralelo com a questão do militar, do soldado. Então tem essas brincadeirinhas.

Esse processo de criação foi sugerido pelo Agnaldo?

Júnior: Sim, partiu dele. A gente fez um processo de treinamento corporal que era baseado no comportamento dos animais. Então a gente tem o comportamento de sapo, de cavalo, de gato, de cobra. Estão estudamos os comportamentos de animais pra tentar chegar a alguma associação. As criadas, por exemplo, tem mais a coisa do sapo, movimentos mais rápidos. Foi um treinamento corporal muito intenso.

Sobre o festival Рimpresṣo de voc̻s sobre a evolṳ̣o do festival e o movimento que ele causa na cidade. Qual a perspectiva de quem ̩ da cidade?

Júnior: Olha, é o terceiro ano consecutivo que eu apresento um trabalho no FILO. É incrível ver como um festival movimenta tanta gente, tanto público, porque a gente até tem um edital da prefeitura que beneficia não só teatro mas outras formas artísticas, mas não são prestigiados, as pessoas não vão. A gente tem às vezes público de seis pessoas vendo a gente. A lei de incentivo beneficia grupos com 30 mil reais, que fazem um trabalho, fazem a pesquisa, com divulgação, com tudo rolando e não acontece. E aí você vê no FILO tudo lotando, esgotando. A gente não consegue entender. Mas é legal também porque o festival tem essa tradição toda. O que eu acho com relação ao tratamento dos grupos daqui e dos grupos de fora é que é diferenciado realmente. Por exemplo, ontem, não veio uma equipe de apoio, nosso diretor teve que ficar segurando as pessoas na porta, isso não é a função dele. A gente vê um festival tão grande como esse com essa desorganização? E não é a primeira vez que acontece. E a gente vê uma equipe gigantesca, montando tudo pro Peter Brook e pra qualquer outro grupo de fora. E acho que eles imaginam que como a gente é da casa a gente sabe se virar e não é assim, a gente também quer ter um cuidado, a gente é profissional, ninguém ta brincando. Mas tem pessoal de outros grupos que também reclamou. Então, assim, acho muito estranho um festival desse tamanho, com uma equipe tão grande que tem… A gente viajou o ano passado, fomos pro Riocenacomtemporânea, fomos pra Lajes, interior do estado de São Paulo em festivais, Umuarama. Todos os lugares pra onde a gente foi, teve uma recepção fantástica.

Maciel: E fomos em festivais pequenos, né, comparando com o FILO.

Os espaços de discussão, sobretudo discussão sobre o teatro em si e não sobre uma peça específica parece que não tem um local, um modus operandi legal dentro dos festivais. Quanto do festival é encontro pra vocês? Encontro nos sentido de encontrarem outras companhias, trocarem idéias, tomarem cerveja, falarem sobre qualquer coisa. Quanto isso acontece aqui?

Júnior: Olha não tenho nenhuma experiência.

Maciel: Não acontece.

Júnior: Não acontece.

Milene: Olha, eu percebo muito mais facilidade quando a gente sai daqui e vai pra outras cidades pequenas. Não sei também se é uma postura nossa de ficar muito ensimesmado e não receber bem. Será que é a gente que não é receptivo? Mas realmente é uma coisa que a gente não vê acontecer muito, não. Eu acabo reencontrando amigos que eu já conhecia de outras cidades, mas não é que conheça agora aqui. Na verdade, dá a impressão de que aqui existe uma certa concorrência, parece que as pessoas vão um assistir o outro pra ver a falha, ver o que não é legal. Eu acho que devia ser pra melhorar, pra trocar idéia, pra conversar, dizer, olha, gosto disso, não gosto daquilo. Afinal, tá todo mundo produzindo na cidade, a gente devia querer o bem, né?

Júnior: Ninguém consegue viver de teatro aqui em Londrina. Sobreviver. Todo mundo faz outra coisa. Eu faço coisas na minha área, mas é muito complicado. Além disso, tem muitos casos de pessoas que às vezes dão uma puxadinha no tapete.

Maciel: Em tem pessoas que vão assistir predispostos a não gostar, já saem de casa não gostando, mas assiste pra depois ter o que falar.

Mas tem uma postura que tem um contexto. O julgamento está presente na mídia, na crítica. Que é a crítica do bom e ruim, essa tradição do “eu sou a pessoa que julga”. As pessoas são acostumadas com esse tipo de juízo. E voltando à falta de espaço pra discussão, não é nem só pra discutir teatro ou avaliar o que é legal ou não, mas falta tempo mesmo pra tomar um sorvete. Não tem um espaço comum.

Júnior: A gente está sempre se perguntando: pra quem que a gente se apresenta? Quem é o público? O público não é o público comum, que não é especializado em artes ciências? O público que veio aqui ontem, tinha estudantes e pessoas da área, mas a maioria, uns 90% não. É pra essas pessoas que a gente se apresenta.

Milene: E isso graças ao FILO, porque normalmente as nossas peças não têm esse público.

Júnior: Normalmente quem vai ver as nossas peças não é o público comum. É o povo que vai com o bloquinho de anotações.

A gratuidade foi uma exigência do edital ou partiu de vocês?

Júnior: Era parte do edital. Uma das condições é que 50% a gente vai distribuir ingressos, ou fazer parceria com escola e 50% vai ser cobrado. Agora, a idéia de ser gratuito aqui foi do FILO, pro FILO, até por ser num espaço aberto, que a gente achou bem legal.

Milene: E de qualquer forma isso contribui para a formação de outra platéia, que está no edital como todos os projetos que a gente envia, ta incluído com ampliar o acesso à cultura na cidade, é uma coisa que a gente ta há algum tempo fazendo – eu moro aqui faz 4 anos – a gente vê muita coisa acontecendo na cidade e é o mesmo problema de público e esses projetos tem sempre a intenção de formar novas platéias, de democratizar e levar até as pessoas o espetáculo. E tem o público que o FILO move, que eu acho bom também, porque as pessoas não vão só assistir os internacionais, vem assistir o de todo mundo. Eu acho muito interessante a gente estar nesse bolo. Os de fora vêm, os daqui também se apresentam. Eu não sei como funciona a seleção, a gente envia material e espera.

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Nos outros trabalhos, dependendo de vocês, vocês investem na idéia da gratuidade?

Júnior: As nossas experiências estão sempre relacionadas a editais, promoções de patrocínio público ou privado. Então, eu não sei o que é trabalhar fora disso, porque os meus trabalhos estiveram sempre envolvidos com projetos assim. É sempre assim, então não sei. Não deixa de ser uma desvalorização não cobrar, porque a gente fica pensando: “ai, vou ter que pagar cinco reais”, e, gente, cinco reais não é nada! Imagina você lá cobrando cinco reais pelo teu espetáculo e as pessoas não querendo pagar.

Cabe pensar em que medida esses cinco reais, somados ao transporte público das pessoas que moram longe daqui, por exemplo, impossibilitam essa pessoa de vir ao teatro e não acaba sendo excludente?

Júnior: Como eu falei, da minha experiência trabalhando com editais, eu sou a favor, porque os profissionais já estão sendo pagos, a gente já está sendo pago. Uma cota pra isso eu acho inteligente.

Milene: Tem um percentual que é destinado ao Rede Alegria e Rede Cidadania que distribuem ingressos, as pessoas vão lá e retiram as entrada para assistir àquele espetáculo. Se for diferente, sem edital, de forma independente aqui em Londrina, é muito difícil fazer. Por nós, pelas nossas pequenas experiências, eu digo, é praticamente impossível.

Maciel: O problema é que é muito caro fazer teatro e não tem de onde tirar dinheiro. As leis são as leis federais, ou editais, é onde a gente vai buscar, porque patrocínio de empresas, não tem ninguém que chegue: “olha, a gente gostaria de patrocinar o espetáculo de vocês”.

Milene: A Lei Rouanet, por exemplo, é um caso complicado. Os projetos são aprovados, mas não conseguem captar a verba. Eu já tive duas experiências de projetos aprovados, que na hora de captar acaba caducando o prazo sem conseguir a captação suficiente pra executar o projeto. A gente sempre procurou os empresários da região, mas agora a gente tem investido em outras formas de patrocínio, como Petrobras, Correios, Tam, coisas que a gente sabe que já estão direcionadas. E aí, se precisar aprovar na Lei Rouanet, vamos aprovar na Lei, mas com garantia de empresas que já têm um jeito mais organizado de fazer isso. Porque esse negócio de bater de porta em porta a gente já decidiu que não dá. Em outros espetáculos que eu trabalhei fazendo produção, era difícil até conseguir permuta, eles não valorizam, não entendem como uma peça seja uma forma de divulgar a empresa positivamente.

Júnior: Só queria destacar que o grupo T.O.U pertence à Camila Fontes, que é uma atriz da peça que não está aqui porque quebrou o pé. O grupo dela nasceu em 1999, quase dez anos de grupo. Na peça que a gente fez, Foi Tarde, a Camila fez uma parceria com a gente já, inclusive uma atriz saiu depois e ela substituiu. Então nesse projeto agora a nossa relação é de parceria, então é Projeto Caixa de Sonho e Grupo T.O.U. Só pra deixar clara a relação e o peso que teve o nome do T.O.U pra aprovação do nosso projeto.

Milene: Esse nosso grupo tem 2 anos e meio, 3 anos e o trabalho que o T.O.U tem realizado já é um trabalho mais intenso, de mais tempo.

Como se deu seu envolvimento com o teatro e em que medida isso interfere no fazer teatral?

Maciel: Eu sempre tive um apreço muito grande pelo teatro e eu sempre digo que foi providencial minha entrada profissional no teatro. Era aquela coisa, fazia teatro em escola, faculdade, eu morava em São Paulo. A faculdade em que eu estudava tinha uma estrutura bem legal então a gente fazia muitas coisas lá, mas quando eu terminei meus estudos filosóficos e teológicos, que eu fui ordenado padre, eu estava destinado pra ir pra Roma, fazer meu mestrado na área de teologia. Aí houve uns problemas aqui no Brasil e aqui em Rolândia – que é a cidade vizinha onde eu moro – ficou faltando uma pessoa pra trabalhar com a formação dos novos candidatos a sacerdote. Então, ficou pra eu decidir: ou você fica ou vai pra Roma, faz o seu mestrado, doutora e depois volta. Aí eu falei: “então eu vou ficar, mas tem uma condição, vou achar alguma coisa na área de arte que eu sempre gostei e vou estudar”. E eles acharam que tudo bem. Aí eu procurei, eu nem sabia que tinha artes cênicas na UEL, aí descobri que tinha e resolvi fazer. Moro em Rolândia, trabalho lá, sou reitor do Seminário. Aí eu entrei na UEL e comecei.

Como a religião interfere na suas escolhas teatrais? Tem coisas limitadas por isso ou coisas que são ampliadas?

Maciel: Eu penso que as duas coisas interferem. Não dá pra falar que aqui eu sou ator e lá eu sou padre, eu sou as duas coisas nos dois lugares, então do mesmo jeito que eu ajo, que eu trato as pessoas aqui, é o que eu faço lá e o que eu faço lá, eu faço aqui do mesmo jeito. Não tem diferença nenhuma. O que interfere é que existem coisas que no teatro eu não faço, até porque questões éticas e de convicções tanto humanas quanto religiosas, então existem algumas coisas que não. As pessoas sempre brincam com a questão da sexualidade: “ai, se você tivesse que fazer uma peça em que tem que aparecer pelado?”. Na verdade é um jargão que todo mundo usa, que é bem idiota, na verdade isso. O primeiro preconceito é esse. Mas eu não faço. Primeiro por uma questão estética que eu não gosto, nunca gostei, acho feio. Eu até falo pro pessoal do grupo: “pelo amor de Deus, não quero saber de gente pelada porque é muito feio”. Lógico que tem casos que são legais e tal, claro que se estou numa peça e tem nu eu não saio, nem tampo o olho.

Júnior: Mas já saiu.

Maciel: Sim, mas porque a peça é muito ruim. E é isso. Mas não tem uma grande interferência.Temática?

Maciel: Temática também não. Uma vez eu estava conversando com uma pessoa e ela pensando, “ah, então, você vai fazer teatro bíblico”, e eu falo que não, eu faço teatro pela arte, até mesmo porque se a gente vai buscar na história, no medievo, o teatro se desenvolve totalmente na Igreja. Até mesmo, eu estive em Roma um tempo atrás e acontecem muitas obras na Igreja mesmo. E a Igreja durante muito tempo foi o grande mecenas do teatro, tanto é que o Calderón de La Barca, que é nosso ator pra essa peça era um padre jesuíta.

E é tranqüilo conciliar o trabalho como reitor e aqui?

Maciel: Eu tento fazer. É bem puxado, porque eu acordo todo dia cedo, tenho trabalho, atendo pessoas, visito outras pessoas, celebro missa. A gente vai tentando encaixar, porque não sou só eu que trabalho, eles também trabalham, então a gente vai encaixando os horários. Nesse processo agora do Conquanto Sonho, os ensaios foram à noite, das 21h à meia noite, meia noite e pouco, porque às 20h eu to na Igreja, então eu vinha correndo.

Talvez você queira acrescentar o que ser padre contribui pro seu trabalho como ator, pra não ficar só no que atrapalha.

Maciel: De forma especial nesse texto, esse texto é desenvolvido a partir de um drama filosófico-teológico, da filosofia platônica com uma teologia que é uma cristianização da filosofia platônica. Então, eu trouxe um conteúdo, que também é meu trabalho de conclusão de curso esse texto, eu trouxe um conteúdo que em geral as pessoas do fazer teatral não conhecem, porque é filosófico e teológico e as pessoas não têm muito acesso a isso. Não temos muitos atores e diretores que sejam teólogos ou filósofos. Filósofos a gente encontra até um pouco mais, mas teólogo não.

E você enfrenta algum tipo de preconceito na Igreja por fazer teatro?

Maciel: Não, nunca senti. Às vezes tem alguns colegas que brincam: “o que é que isso tem a ver com a Igreja?”, e eu falo: “nada, por isso que eu gosto”. E também me dá acesso a outro universo em que os padres de igreja, de paróquia não estão inseridos. Então, eu conheço muito bem duas realidades, então pra mim é muito enriquecedor. As pessoas com quem eu convivo aqui são muito diferentes das senhorinhas que vão à Igreja todos os dias e dos jovens que participam da comunidade e tudo mais.

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'1 comentário para “Entrevista com o elenco de Conquanto Sonho”'
  1. juliane francielle disse:

    acho essa milene duenha uma magrela horrorosa,
    odeio ela…

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