Hamlet-Gasshô

Críticas   |       |    25 de março de 2007    |    0 comentários

Querido Buda

Depois da bomba que foi a comédia Querido Mundo, Rubens Ewald Filho encontrou uma nova forma de entrar no mundo do teatro. Desta vez apostou no teatro dito alternativo, e aliou-se a um dos grupos em maior evidência na atual cena paulistana: Os Satyros. E provou que também consegue ser um alternativo: na semana da estréia, foi visto sentado no chão da calçada do espaço dos Satyros, na praça Roosevelt, provando para o mundo que quem usa gravatinha borboleta para comentar a entrega do Oscar também tem seu direito de ser cool.

O resultado desta aproximação é o espetáculo Hamlet-Gasshô, adaptação do ator Germano Pereira para o clássico de William Shakespeare, incorporando elementos do universo zen-budista. Pra não fazer besteira, a montagem (protagonizada por Germano) contou com a assessoria da Monja Coen.

No fim das contas, o tal “universo zen” fica muito mais explícito na estética do espetáculo, fortemente inspirada no cinema oriental, do que na dramaturgia. O texto do bardo inglês sofre pouquíssimas adaptações, e ganha uma nova “moldura”: um prólogo e um epílogo que dão o tal novo contexto budista à tragédia (insuficientes para caracterizar uma releitura do texto original).

Mas Ewald não trouxe apenas seu ar cool e referências cinematográficas em sua direção: vieram também 150 camisas brancas compradas em Nova Iorque para o rico figurino, e fôlego para uma produção que raramente se vê nos palcos da Roosevelt (e que dificilmente se paga com as bilheterias das pequenas salas da região). E aí está o maior equívoco do espetáculo.

Há tantos elementos visuais deslumbrantes que boa parte deles acaba se tornando denecessária e prejudica a montagem. A impressão é de haver uma preocupação tão grande em dar uma estética marcante, que não sobra espaço para engrandecer os pontos altos do texto.

O resultado é que em vez de todas as cenas se tornarem inesquecíveis, o efeito acaba sendo exatamente o contrário: nessa bela empreitada de fazer um Shakespeare “zen-budista”, faltou um elemento que remete demais ao budismo: a moderação.

Há algo de Broadway no reino da Dinamarca.

2 Budas Ditosos.

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