Esse Monte de Mulher Palhaça 2009

Especial   |       |    6 de outubro de 2009    |    6 comentários

Esse Monte de Mulher

Estar no Festival Internacional de Comicidade Feminina Esse Monte de Mulher Palhaça é, além de muito divertido, estar entre mulheres que se reúnem para discutir a condição feminina e se unem para pensar melhorias com foco em políticas públicas e captação de recursos.

esse monte de mulher palhaca

Houve, aliás, um momento específico para isso, o Papo-cabeça Palhaça, que aconteceu na sexta-feira, 25 de setembro. Então, em Copacabana, a uma quadra da praia, numa manhã ensolarada, mais de 20 mulheres deixaram os biquinis e bronzeadores em casa e abriram mão de desfilarem seus bumbuns gostosos na praia para falar de política – ou pelo menos do que entendem por política.

Até aí, fomos bem. Parece indiscutível que reunir-se para pensar ações políticas não em benefício de um indivíduo ou instituição lucrativa, mas de um coletivo e, mais do que isso, do fazer artístico, é de extrema importância. No entanto, entramos numa questão um pouco mais delicada: a postura da mulher ao fazer política. E aqui me arrisco a ser muito sincera em minhas impressões, contando com o espaço de comentários aqui disponibilizado para solucionar mal-entendidos e dar mais pontos de vista sobre as questões que pretendo apontar.

(Digo que “me arrisco” porque não sou ativista feminista, nem sou absolutamente contra as ações de qualquer movimento que tenha como foco a afirmação da mulher na sociedade, no entanto, não “freqüento” esses espaços e sei o quão polêmica é essa história. Não vou falar aqui do feminismo historicamente, vou falar do que presenciei no Esse Monte de Mulher Palhaça. Mas, claro, os comentários estão abertos a historicização, caso alguém se disponha.)

Com ótimas intenções e conseqüências estéticas muito positivas, o Festival conseguiu mobilizar mulheres de diversas partes do país, além de convidadas internacionais da Argentina, Áustria, França, Moçambique. Enfim, é inegável que o evento promove a circulação e isso, ainda independentemente de posicionamento político, é importantíssimo pelas trocas artísticas que viabiliza.

A partir daí, a idéia de traçar um caminho para o fortalecimento da mulher palhaça é muito propícia e pode gerar frutos como a realização de mais encontros como esse no Brasil e em outros países e o melhor aproveitamento de recursos que estão disponíveis a espera de projetos. Esse direcionamento, inclusive, é o trabalho do Fundo Social Elas, lá representado.

O que me chamou a atenção, no entanto, foi uma visão estereotipada da própria mulher, da própria idéia de feminino como um universo simples e pouco diverso. Claro que isso não se evidencia em uma única fala, mas é uma idéia que vai se construindo ao longo de um debate em que as mulheres parecem querer provar a si mesmas que podem fazer política, mas em vez de fazer política de fato, aproveitando o encontro, ficam se justificando e se convencendo da necessidade de “excluir” os homens de seus eventos para que possam protagonizá-los.

Concordo – e seria impossível discordar – que existe um histórico de discriminação e exclusão e que inúmeros atos violentos e repressores são praticados contra nós mulheres até hoje. Isso precisa, claro, ser evidenciado e combatido. Mas não consigo deixar de me incomodar com o que me parece uma visão preconceituosa da mulher sobre a própria mulher. Dizer que a mulher não sabe fazer política e está aprendendo agora é ignorar um histórico da própria luta feminina, de mulheres que lutaram não por dinheiro para seus trabalhos, mas pelo bem comum, pela independência de suas nações e inúmeras outras causas. Não que seja menos digno mobilizar-se por verba, cada luta a seu tempo e em seu contexto, mas é redutor demais resumir o homem ao pragmatismo e a mulher ao coração e às lágrimas. Não penso que a mulher vai ensinar o homem a “fazer política com o coração”, como foi dito em dado momento, porque já ouvi falar de Margaret Thatcher, para ficar em um único exemplo.

Então, antes de tudo, não me senti representada como mulher nesse espaço, porque há mulheres duras, molengas, alegres, depressivas, palhaças, advogadas, choronas, de esquerda, de direita, oprimidas e opressoras, entre uma infinidade de outras e ignorar isso é ignorar o plural “mulheres”.

Entendo que talvez essas impressões passem muito mais pelo discurso do que pela posição política dessas artistas, mas o clima que havia nessa pretensa assembléia foi definido pelo representante da Funarte, o Coordenador de Circo Marcos Teixeira Campos, com o sentimento de “mágoa”. A palavra e postura dele foram combatidas no encontro e, claro, não podemos resumir todo o histórico de opressão contra as mulheres em um único sentimento, mas é possível compreender como ele chega a essa conclusão pelo que é exposto ali. “É preciso fazer um festival só de mulheres, é necessário, precisamos ser protagonistas”; “Já sofremos muito”. Argumentos assim, repetidos, não vão às verdadeiras motivações ou necessidades das mulheres, nem apontam para ações de promoção de igualdade que, no limite, é o que se busca, não?

Para se explicar, Marcos pede novamente a palavra e diz concordar com o movimento e as intenções das palhaças, mas afirma que ele é contra a segregação e prefere que homens e mulheres possam estar juntos em todos os espaços. Finalmente, diz que entende a necessidade de eventos assim como parte de um processo histórico, mas que não se pode esquecer que a finalidade não pode ser uma segregação “compensatória” do homem, mas deve ser a igualdade, ainda que no plano ideal. A fala cai melhor, mas a acusação de “mágoa” não é esquecida pelas artistas.

Então, duas noites depois, no cabaré de encerramento, assistimos a apresentação da moçambicana Célia Ruth Chachuaio, cuja presença é, indubitavelmente, uma conquista da organização do festival. Célia apresenta um número em que narra as opressões sofridas por sua mãe. Ao denunciar a violência do pai e a da própria sociedade que a empurra para o mesmo destino de sua mãe, a atriz escolhe um caminho importante e difícil: o de colocar em sua arte um conteúdo politizado que pode ser transformador. O problema, porém, muito comum no teatro, é que o foco no conteúdo acaba por reduzir o cuidado com a forma da apresentação. Assim, embora fale de um tema muito contundente e relevante, Célia não tem sucesso em sua interação agressiva com a platéia, nem em seu discurso “magoado”, pois não consegue apresentar as contradições dos personagens, apenas uma visão estereotipada do homem-vilão. E, o mais grave, escolhe apelar para piadas preconceituosas sobre a suposta homossexualidade dos homens violentos para agredir seu agressor.

Celia Ruth Foto Andrito Gonçalves

Foto: Andrito Gonçalves

Terminado o número, a mestre de cerimônia, Maíra Kesten, sugere uma relação com o bate-papo de dois dias atrás quando, muito sutilmente, brinca: “é muita mágoa, não?”. Claro, não é só mágoa, mas é mágoa também e, neste caso, uma mágoa que não conseguiu se fazer potência criadora e transformadora. Talvez fosse o caso de as palhaças brincarem e exporem, sim, o reducionismo da fala de Marcos Teixeira, mas lembrarem-se de olhar para o próprio ridículo, como é característico da arte que fazem, e cobrarem mais potência nessa luta, mais consciência histórica e mais cuidado estético em muitos casos.

Maíra Kestenberg foto Letícia Castilho

Foto: Letícia Castilho

A palhaça Jimena, cujo número foi incluído posteriormente, pode ser um exemplo do que quero salientar. Sem precisar dizer o que vivem as mulheres com todas as palavras, nem precisar agredir outros oprimidos para deixar o discurso mais incômodo, ela consegue evidenciar o ridículo da instituição do casamento e da condição da mulher de privilegiada ao encontrar um homem para si. Faz, assim, uma crítica potente que, por meio do humor e de muita espontaneidade, chega ao espectador com leveza, sem deixar de evidenciar uma condição desigual.

Para encerrar, cabe voltar um pouquinho no tempo e retomar a realidade do bate-papo de sexta-feira. As horas destinadas à plenária não foram suficientes para definir propostas, pois acabaram utilizadas para depoimentos das palhaças de várias regiões – troca muito interessante que pode, inclusive, ganhar espaço próprio nas próximas edições do evento.

No entanto, mostrando que estão mesmo decididas a unirem-se, as palhaças não foram embora conformadas. Em vez disso, trocaram o confortável teatro do Sesc por uma roda no chão do lado de fora, onde passaram, de fato, a organizar suas estratégias e pensar ações conjuntas – tais como criar um espaço de discussão e trocas na Internet, nomear representantes para uma reunião mais aprofundada de prospecção e captação, redigir um documento que simbolizasse aquele encontro, entre outras. “A captação deve ser a obtenção de verba para sustentar um projeto político sem descaracterizá-lo. Tem gente pra comprar tudo, a gente pode, inclusive, dar várias caras ao projeto, mas a essência dele sai dessa rede que se forma aqui”, afirmou Nara Menezes, ainda dentro do teatro do Sesc, tomando a frente na organização da próxima reunião para levantamento de propostas.

Termino esse texto com uma fala simples de Karla Conká, uma das integrantes do grupo As Marias da Graça – idealizadoras, diretoras e produtoras do evento – que me parece simbolizar a escolha de pensar política pública e captação de verbas de maneira coletiva: “Não precisa ser o meu projeto que ganhe, o importante é que alguém ganhe”. Assim, com lágrimas e estereótipos, as palhaças parecem avançar em seu objetivo de “traçar planos para o fortalecimento da mulher palhaça no Brasil e ações de intercâmbio”, porque o que importa não é mais cada indivíduo e sua verba para um pequeno número, mas o reconhecimento daquela arte em movimento. Continuamos acompanhando…

Também foram publicados na Bacante textos sobre duas peças integrantes do Festival:

Decripolou

Parece ser que me fue

'6 comentários para “Esse Monte de Mulher Palhaça 2009”'
  1. Michelle Silveira disse:

    Acabei de ler sua crítica, e acho muitas coisas pertinentes no que você escreve sobre o Encontro de Mulheres Palhaças. Quando falas na questão de se ter um melhor encaminhamento das discussões e um tempo maior para os depoimentos (ou algo nesse sentido) eu também concordo e acho que nos próximos encontros as Marias devem pensar sim em abrir mais este espaço de enriquecimento e fortalecimento das palhaças a partir dos depoimentos construtivos e fortalecedores de mulheres, artistas, palhaças que estão lutando individualmente em cada lugar do país e do mundo pelo espaço, pela valorização, pela qualificação de sua arte. Acredito sim que este espaço deva existir, e que Papos cabeça também tenham mais tempo para se afirmarem.
    Quanto a questão de gênero que sem dúvida foi levantada no encontro, eu penso, posso estar sendo até ingênua ao dizer isso, mas este movimento tem grande importância na história sim, como você mesma diz, e que é recente e vai amadurecer em idéias e em estratégias.
    Quem conhece um pouco da história do circo e do palhaço sabe bem o papel que as mulheres ocupavam nos circos e que predominante sempre foi a figura masculina. Mas isso por muito tempo foi assim, no nascimento do Teatro Ocidental na Grécia as mulheres não podiam entrar em cena, quando os Jesuítas chegaram no Brasil para catequisar os índios tendo como recurso o teatro, as mulheres também não podiam entrar em cena porque atraiam muito a atenção dos espectadores, e no picadeiro me parece que foi diferente, enquanto o palhaço fazia seu número cômico, as mulheres subiam no arame, dançavam expondo o corpo e atraindo a atenção do público. Mas quem sabe algumas mulheres não quisessem este papel. Aliás tem umas hoje que acham ótimo mostrar a “Bunda ” na Tv e acham que ganharam seu espaço ….acho isso patético, sinceramente. Mas retornando ao assunto, penso que muitas mulheres entendendo a função social, política, crítica que o palhaço sempre carregou (não confunda palhaço com animador de festas, cujo objetivo é brincar, o palhaço brinca mas com consciência política no plano de fundo) almejaram desempenhar este papel. E aos poucos foram conquistando seu espaço, mas ainda tem sim, seriamos hipócritas em dizer que não, aqueles que acham que palhaça mulher não funciona, eu mesma já ouvi muito isso, e fiquei muito constrangida porque há 8 anos eu trabalho, estudo, me empenho por desempenhar o meu papel da melhor forma, para que alguém não dê crédito.
    Enfim, sou meio confusa pra escrever, mas quero deixar registrado aqui, que NÃO podemos transformar estas iniciativas maravilhosas, como o Encontro de Palhaças em algo politicamente negativo e machista. Afinal, nós palhaças nos espelhamos nos grandes e maravilhosos palhaços homens que povoam nosso imaginário coletivo. E temos sim que criar nossa identidade e falar de assuntos cômicos, palhacisticos com nosso olhar feminino, mas quem sabe não feminista com bandeira erguida.
    Outra coisa muito importante que eu quero dizer aqui, que foi o que mais me encantou no Encontro das Palhaças, a não crítica, o não julgamento. Havia sim espetáculos com os quais eu não me identificava, natural, mas havia sempre um grande respeito pelo trabalho da outra colega que estava ali se expondo com seu trabalho. Eu senti a insegurança de mostrar meu trabalho, sem saber se iam gostar ou não, mas depois eu percebi que gostar ou não, não era o foco do Encontro, e isso me deixou muito feliz e tranquila. Por que cada uma das palhaças veio com sua experiência, que funcionou ou não. No caso de Célia, sei o quanto se empenhou pra fazer aquela cena, pra tratar de um assunto que lhe causa inquietação, e quem sabe faça parte de suas referências, de sua cultura, suas vivências. Quem sabe não tenha tido tanto êxito estético, mas a intenção e a contribuição para o FOCO do festival foi dada.
    Você falou em agressividade na atuação de Célia, eu gostaria de dizer que quando vi Xuxu (Luiz Carlos Vasconcelos) também achei muito agressivo, mas hoje tenho profunda admiração e respeito, e quando eu ouvi ele contar sobre sua iniciação ao palhaço eu entendi o porque de sua agressividade. Não se pode avaliar uma situação fora de seu contexto, ou até pode, mas se corre o risco de ser superficial.
    Bem, acho que me enrolei um pouco,mas minha intenção é poder contribuir com meu ponto de vista.
    Tudo é válido!
    E as Marias são simplesmente maravilhosas por proporem um espaço que só quem viveu, só quem sentiu, só quem retornou pra sua realidade fortalecida e confiante, pode falar.

  2. Mais do que SÓ buscar qualildade artística, ou o mérito cultural, o Festival Esse Monte de Mulher Palhaça – pelo que vi e senti, busca também apontar para toda a DIVERSIDADE dos trabalhos das palhaças. Aí, sim, SÓ das palhaças. Além de claro, nos fortalecer enquanto mulheres e enquanto palhaças, artistas.
    Não há curadoria, e sim, mmmmmmmmmmuita produção.
    A investigação estética conta sim, e muito. Já o julgamento, é bom, é ruim, isso palhaça pode, isso não pode – não cabe muito, sobretudo para as palhaças que estavão lá.
    Essa discussão, entre nós, palhaças, nem tinha muito sentido. A emoção, o fato, de encontrar tanta palhaça junta sublima tudo isso. Sentir essa proximidade, a não-solidão, essa força feminina, tem um efeito para além de tudo isso.

    Agora pensando, vejo que este festival, é muitos em um.

    Para as palhaças há um festival todo especial.
    Para os palhaços, há pelo menos dois outros festivais. Certamente, alguns palhaços devem torcer por nós, incondicionalmente, né? Bom…Nem todo palhaço odeia palhaça. Mas, é verdade. Outros palhaços fariam de tudo pra nos verem mortas. E eles são truculentos sim. Há ainda os do “desprezo benévolo”.

    Para a platéia há outro festival ainda. A platéia vai pra curtir o espetáculo. Criticar. Julgar sim, gostei, não gostei, enfim. Mas, primeiro, o assombro.
    ” – Eu não sabia que tinha tanta palhaça assim “- me comentou um senhor que estava hospedado no SESC e foi assistir a um espetáculo, depois a outro, e outro. O convite foi feito no elevador, sabe? Nem achei que ele ia mesmo, a cara dele, “festival de palhaças?! E tem isso?”

    Bom, me apresentei no festival, sou portanto, uma palhaça. E, confesso, enquanto artista, nunca senti uma platéia tão generosa. Penso em quantas vezes entrei no palco pensando em defender um lance, em me defender, no que os outros vão pensar, precisando provar que eu, palhaça, mulher, pode. Que sou boa TAMBÉM. E, como isso atrapalha… Embaça o objetivo último. A fruição própria da arte.
    Para mim, esta foi uma grande diferença. Não estava competindo com ninguém, ou matando um leão à unha. Nesse espaço senti, de fato, a terra fofa da liberdade artística. Me dei isso de presente.
    Com ou sem mágoa, buscamos todas esta liberade. Este espaço.
    Hoje a Matusquella está mais forte, e cada vez mais esclarecida. Devo isso a audiência externa que mudou algo em mim, e me fortaleçeu. Detonou outras buscas.
    A palhaça usa vestido, e daí? A gag é macho.

    Me rio disto tudo.

    O bom mesmo é que dá uma super-remexida. Na gente, na paltéia, nos palhaços… Nas instituições culturais.

    Acho que todos, todas, parafraseando o senhor “não sabiam que tinha tanta palhaça assim”.

  3. Juli =) disse:

    Oi, Michelle. Obrigada por seguir com a discussão…

    Quanto ao predomínio do masculino no circo, isso foi bastante apontado no encontro e concordo que precisa ser considerado. Isso de dizerem que “palhaça mulher não funciona”, eu pessoalmente nunca tinha ouvido e acho um completo absurdo e, nesse ponto, sem dúvida, há que se afirmar o contrário.

    O que me incomodou e que expus nesse texto é que não se justifica afirmar uma posição – no caso a do reconhecimento da opressão à mulher – a todo custo. E quando usei “estético” não estava absolutamente desvinculando isso do conteúdo. O êxito estético ou não são menos importantes do que o fato de que, nesse número especificamente, usa-se de um tipo de preconceito para combater outro. E isso pra mim não contribuiu para o foco do festival, ao contrário, fragilizou os argumentos contrários à discriminação, mostrando incoerência entre discurso e prática. Aqui estou falando muito especificamente da tese de que “um homem é violento com sua mulher porque é homossexual”. Claro, não foi exposto assim, mas levou a isso.

    Sim, já me falaram muitíssimo do Xuxu e eu infelizmente não o vi, mas o que não bate nesse caso é justamente contexto e posição política com o número artístico. Então, eu estaria avaliando fora do contexto se deixasse de entender o número da Célia como incoerente com o discurso e os objetivos do encontro. Mostrar a opressão machista a custa de outro preconceito não cabe nesse contexto. Assim, mais do que um julgamento estético superficial – pois concordo que um encontro como esses não é para julgamento – quis deixar claro uma incoerência política que me saltou aos olhos.

    Seguimos conversando, se vc quiser.

    Um abraço,
    Juli =)

  4. Juli =) disse:

    Oi, Manuela, tudo bem?

    Esse exemplo do moço do elevador é uma das melhores justificatias práticas pro encontro existir.

    Me agrada que não haja, então, um julgamento ou cobrança do “bem-fazer” artístico. Mas, como salientei pra Michelle, o que me incomodou foi a incoerência não unicamente estética, mas no discurso. Para manter um discurso de políticas afirmativas e de não-descriminação não é possível embasá-lo em mais descriminação. A mim interessa a expressão artística e a arte como potência crítica e expressiva desse posicionamento. E nesse ponto houve algumas falhas, porque perdeu-se, ao mesmo tempo, da qualidade artística (no caso por não ter possibilidade de uma interação potente com o público) e da coerência política.

    Gostei muito da expressão “desprezo benévolo” e imagino que isso deva ser das piores coisas a se enfrentar.

    No mais, concordo com você completamente sobre a busca de um espaço de liberdade e confiança para a expressão artística, mas com a ressalva de que não acho que “a emoção, o fato, de encontrar tanta palhaça junta” possa ou deva sublimar tudo. Há que ter cuidado pra não fragilizar o próprio movimento que vocês estão construindo.

    Um grande abraço e até logo!
    Juli =)

  5. Michelle Silveira disse:

    Claro que quero continuar conversando Juli, acho importante e gostaria que mais palhaças estivessem aqui falando dos seus pontos de vista e enriquecendo a tua crítica, que acho que é também para causar discussão e movimento e posicinamento de idéias. Acharia bom se assim fosse.
    Eu entendi o que você disse sobre o número da Célia, só me posicionei defendendo o trabalho dela porque acho que teve uma boa intenção em fazê-lo, mas por não ser palhaça e estar apenas começando, se ensaiando nesta empreitada afim de fazer esta importante ponte entre Brasil e Moçambique, Célia pode ter pecado sim na sua construção. Mas é um risco que o nosso FESTIVAL corre visto que não há seleção, curadoria para os trabalhos. São convidados aa fazer parte do evento, onde as palhaças abrem o leque de diversidade cultural influenciando a criação artística.
    È claro que não se combate um preconceito com outro, de forma alguma, e a palhaça deve é rir destes preconceitos e como palhaça que se prese colocar no chão, desfazer, desmistificar, desordenar este preconceito.
    Pra Célia, uma atriz dedicada e muito responsável por seu trabalho (deu pra ver na preocupaçao que teve antes de se apresentar temendo justamente o MONSTRO do julgamento) e fiel a sua cultura, creio que foi um importante passo nesta busca pelo descobrimento de sua palhaça, e acredito que seu número vai mudar, porque suas janelas com certeza se abriram para o universo palhaça.

    Era isso.

    um beijo
    Michelle

  6. Juli =) disse:

    Oi, Michelle!

    Tb acho importante a discussão… mais do que o texto inicial inclusive.

    Sobre a Célia, especificamente, não ignoro de maniera nenhuma a importânica de ela estar aqui e da conexão que ela representa!

    É que, me propondo a fazer apontamentos e provocações político-estruturais ao Festival, não pdia deixar passar essa contradição – e não por causa do número da Célia especificamente, mas porque ele reflete outra contradição maior que é a de um feminismo que, por baseado em preconceito, revanchismo ou generalizações muitas vezes inocentes até, acaba somente propagando diferença e discriminação. E não é o que se procura aqui, certamente…

    E, sim! Acredito que janelas se abram com estes encontros… horizontes… que bom.

    Beijos,
    Juli =)

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.