Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga 2010

Especial   |       |    26 de setembro de 2010    |    0 comentários

Caderno de impressões sobre Guaramiranga – ou um feriado pensando em forma e conteúdo

Fotos: Maurício Alcântara

– E aí, pra onde você vai no feriado?
– Pra Guaramiranga.
– Onde fica isso?
– É uma cidade na serra, com 5 mil habitantes, no interior do Ceará.
– Que legal. Mas por quê você vai pra lá?

Esse foi o diálogo que tive algumas vezes às vésperas do feriado prolongado de 7 de setembro. O fato de não conhecer, até então, ninguém que tivesse ouvido falar de Guaramiranga (excetuando-se, claro, o pessoal da Bacante que já tinha ido pra lá nos anos anteriores) já me garantia que o festival de teatro de lá seria uma experiência complemamente diferente dos festivais do sul e do sudeste que eu já conhecia.

Aliás, antes de começar, um parêntese importante: nesta série de postagens sobre o festival de Guaramiranga, vou me ater mais às minhas impressões gerais sobre o festival e sobre pontos fundamentais sobre os espetáculos e sobre os debates sobre os mesmos, que sempre rolam na manhã seguinte. Para ter uma noção melhor do formato do festival, vale conferir também a cobertura da edição de 2009 e da de 2008 (essa não tem um post só não, tem vários – então recomendo far uma fuçada no histórico. Aqui tem uma busca pra ajudar).

Minha vontade era justamente a de conhecer um festival que não acontecesse em uma grande cidade, que não se mostrasse como o maior do Brasil, que não usasse espetáculos internacionais como justificativa de sua grandiosidade e principalmente, que me permitisse ter mais contato com uma amostra da cena local de estados que eu dificilmente conseguiria ver circulando pelo eixo Rio – SP ou pelo circuito dos festivais mainstream. E de quebra, conhecer a tal cidade no interior do Ceará onde faz frio (embora na maioria das vezes eu estivesse confortável com a temperatura enquanto uma galera desfilava com seus cachecóis e gorros por Guaramiranga – mas isso é possivelmente porque eu sou paulisssssta).

Pois bem. Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga, edição XVII, minha primeira vez no nordeste do Brasil – e não, não vi uma praia sequer. Depois de muitos festivais engolidos pelas cidades grandes onde ocorrem, essa foi a vez de ver o contrário: a cidade sendo engolida pelo festival, andar pelas tranquilas ruas e identificando claramente quem é dali e quem vem de outro lugar, trombando constantemente com as mesmas pessoas seja no teatro, seja nos bares ao redor do teatro, seja pela rua, seja no mosteiro onde todos estavam hospedados (rapidamente eu já tinha a impressão que conhecia todos há muito mais tempo).

Pátio interno do mosteiro.

Grande parte das pessoas presentes – assim como boa parte da produção – não era dali, mas da capital, Fortaleza, a 2 horas de distância – e a programação de eventos naquela pacata cidade (festivais de teatro, jazz, gastronomia e até mesmo Oktoberfest) também indica que a cidade não funciona somente para aqueles que nela vivem – mas também para quem por ali passa para curtir o frio. É o que indica também a especulação imobiliária na região (fiquei impressionado com a quantidade de placas de construtoras e imobiliárias em uma cidade tão pequena). Por culpa desta, por exemplo, todos lamentavam o fim daquilo que parecia ser a diversão máxima da classe artística nas edições anteriores do festival: a tal da Ilha de Caras – que não cheguei a conhecer, mas todos diziam se tratar de um trailer decadente que ganhou esse apelido por ficar o tempo todo “cheio de artistas” durante o festival.

Mas tem também a interferência positiva do evento sobre a cidade. A começar pelo cortejo que marca o início do evento, com todas as crianças da cidade (e muitos adultos empolgados também, claro) fantasiadas ou tocando instrumentos de percussão. O movimento de chamar atenção da cidade para o início do festival demorou mais para se concentrar, na jaqueira (ponto de referência numa das extremidades da cidade) – do que para fazer seu curtíssimo trajeto até a Praça do Teatro, onde iniciou-se a intervenção de rua do grupo Teatro de Caretas (CE), que me fez pensar que as máscaras que eu via no cortejo da cidade fossem um elemento do cerimonial do evento, e não um “esquenta” para a intervenção que começaria daquele ponto em diante.

Antes mesmo da solenidade e do espetáculo de abertura oficial do festival, já rolava na Praça do Artesanato, que fica exatamente no meio do caminho entre os dois teatros da cidade (que têm o mesmo nome – Rachel de Queiroz – e por isso, daqui por diante, chamarei só de teatrão e teatrinho), um espetáculo de mamulengos dentro da programação infantil do festival, o FNT para crianças. Todos os espetáculos desta chave da programação ocorreriam ali, ao ar livre – sempre com uma adesão impressionante da criançada que participava e até subia no palco, para pesadelo de algumas pessoas da produção e dos grupos (vi até uma moça que filmava uma apresentação pedindo pra produção tirar as crianças da frente do palco, sem notar a força simbólica que é pedir para afastar as crianças do teatro que as atrai), enquanto eu e Astier nos divertíamos à beça com a anarquia que os pequenos propunham ao fruir dos espetáculos.

Pois bem. A partir deste ponto, começo a publicar, individualmente, as críticas para alguns dos espetáculos vistos durante minha curta estada na cidade:

Simplesmente Eu, Clarice Lispector

Voo ao Solo

As Três Irmãs

Uma Vez, Nada Mais

– Cacuete – A incrível performance de crendices (em breve)

– Mostra Guaramiranga Em Cena (em breve)

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.