Convergence 1.0

Críticas   |       |    1 de outubro de 2007    |    0 comentários

Convergence 0.5

Existem espetáculos estrangeiros que dificilmente vemos em cartaz na cidade quando não estão pegando rabeira em algum festival. Este é o caso do espetáculo francês de circo novo Plan B (da Cie. 111), que se apresentou no Festival de Rio Preto e depois deu um pulinho no SESC Pinheiros, e também é o caso de Convergence 1.0, do francês Adrien Mondot, que acabou de se apresentar no Porto Alegre em Cena e realizou duas apresentações no SESC Santana. Circo novo de novo.Só pra refrescar a memória, circo novo é o circo incorporando linguagens do teatro, do cinema, da dança e da música, ok? Aqui no caso de Convergence 1.0, por exemplo, temos o malabarismo misturado com dança e o elemento mais curioso: informática. Para o espetáculo, foi criado um software que permite que a projeção reaja aos estímulos visuais e sonoros captados no palco. É, minha gente, além de mostrar potencial pra ganhar a vida nos semáforos da cidade, Mondot ainda conseguiria fácil um emprego em alguma empresa de tecnologia (de preferência se essa empresa precisasse de um malabarista).

Sem lona colorida, picadeiro e algodões doces grudando nos cabelos da criançada, o espetáculo ganha uma estética sóbria em um palco todo escuro (que lembra um pouco a estética das últimas peças de Gerald Thomas) e coberto por uma tela de filó preto onde acontece a projeção (peraí, Gerald Thomas ou Felipe Hirsch? Agora fiquei na dúvida.). Ao fundo, uma violoncelista solitária cujo único papel é – já que ela tem o instrumento às mãos – tocá-lo. O malabarismo de Adrien M. é atraente e bem-feito, mas neste quesito ele só é melhor do que os artistas de semáforo porque possui um background de dança que dá um tom mais orgânico e sofisticado para seus movimentos. E porque não tem pressa, afinal sabe que não será atropelado se não terminar o espetáculo antes de abrir o sinal.

Os números de dança? Fracos, sobretudo porque a maioria dos movimentos é realizada em função deste malabarismo que não empolga. O artista demonstra grande controle corporal, sobretudo equilíbrio e destreza – ainda bem, afinal acho que não seria muito divertido ver um malabarista com problemas de coordenação motora, né? A música, realizada (e sintetizada) ao vivo, está lá para o que serve: ser trilha sonora. Sua presença só se justifica para mostrar que de fato a projeção acompanha os sons do palco, porque Adrien não interage com ela, que fica ali no meio, sozinha, como um vaso. Mas vasos não fazem música, e se não fosse a música, eu não saberia dizer se aquelas projeções acompanhavam o que acontecia no palco ou se a performance era apenas uma coreografia muito bem sincronizada com um vídeo comum. E mesmo assim em vários momentos eu não estava totalmente convencido disso.

No fim das contas, é uma grande pena. Um espetáculo com imagens instigantes, mas que não radicaliza em nada daquilo a que se propõe – o resultado lembra muito os espetáculos engraçadinhos da Disney. Talvez minhas expectativas estivessem altas demais para uma performance feita simplesmente com o intuito de concluir a já citada pesquisa de tecnologia. Mas, de fato, a pesquisa sozinha é muito pouco para um espetáculo fazendo turnês e participando de festivais pelo mundo todo. Um pouco mais de ousadia sempre faz bem, e até o pessoal da Disney sabe disso.

1.824 bolotas voando em um espetáculo repetitivo

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