ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ

Bate-Papos   |       |    18 de abril de 2010    |    1 comentários

“Utopia, paixão e resistência”

As entrevistas foram realizadas nos dias 12 e 15 de setembro de 2009 na cidade de Porto Alegre como parte de estudo de Iniciação Científica sobre a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. A pesquisa é financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) sob orientação do Prof. Dr. Sérgio de Carvalho no Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes da USP.

Foram entrevistados separadamente os atuadores Paulo Flores (P.), Tânia Farias (T.) e Marta Haas (M.). A ideia aqui foi fazer um mosaico com fragmentos das respostas dos três recortados e colados numa ordenação temática.

Tânia Farias como Sasportas em A Missão

foto:  do site do grupo

História

P.

O Ói Nóis é fruto do período de início de reorganização das lutas populares contra a ditadura vigente.

P.

Algumas pessoas descontentes com o teatro que acontecia aqui em Porto Alegre, pensando o teatro como uma força de transformação capaz de pelo menos sacudir, tocar as pessoas que assistiriam esse teatro e que pudesse haver alguns desdobramentos em cima de mobilização política dentro daquele contexto de 1977, 1978.

Então o Ói Nóis nasce na vontade de alguns jovens de fazer um teatro que naquele momento seria completamente contrário a tudo o que se fazia em Porto Alegre.

P.

A gente reuniu um grupo de pessoas que daí começou a pensar: “bom, primeiro a gente precisa, pra fazer esse outro teatro, a gente precisa se organizar enquanto grupo. Um grupo em que estamos afinados, relacionados a partir de uma ideia de vida de resistência”. Daí entra também a questão ideológica, filosófica: “E também precisamos de outro espaço que não seja o espaço que a gente tem: dos auditórios ou dos teatros municipais, que têm uma estrutura, de arquitetura mesmo, onde está colocado um palco fixo, e cadeiras fixas, afirmando essa relação palco-platéia. Então, primeira coisa: nós temos que romper com a ideia do palco italiano e a gente precisa achar outro lugar pra gente inventar novas relações, novas propostas de relação entre o ator e o público”. Então isso já é inicial.

P.

Então o Ói Nóis nasce nesse período questionando várias coisas: a organização do teatro vigente, o discurso do teatro vigente, a arquitetura, a forma de relação de palco-platéia… São várias coisas que pra nós definiam um teatro que considerávamos um ‘teatro morto’, no sentido de que já não trazia mais nada, não trazia mais um diálogo com o público.

P.

Também o Ói Nóis está se contraponto a essa arte dirigida por uma visão de teatro socialista, social, de esquerda, ou seja o que for, que nas suas características era muito parecido com o teatro convencional. Trazia todas as características do teatro convencional. Às vezes era mais ainda empresarial. Tava dentro de uma cultura de mercado.

P.

Mas também existe a necessidade de dialogar com um público maior, que seria o público que estaria afastado do teatro, que seria a grande parte da sociedade, completamente alijado desse espaço de arte, de teatro. Então logo em seguida o grupo já tem essa preocupação. Isso vai levar o grupo a realizar as primeiras intervenções cênicas: que seriam levar alguns aspectos, algumas discussões – que naquele momento ainda estavam fechadas a um pequeno grupo, de, vamos dizer, estudantes, intelectuais da classe média – sobre a questão ecológica, por exemplo; toda a questão nuclear, que era nova no Brasil naquele momento: a concepção das Usinas Nucleares. Como a gente consegue levar pra maior parte da população? – isso é a origem do teatro de rua do Ói Nóis, que é a gente junto a esse movimento popular de forças que tinham essa discussão sobre a questão do meio ambiente. Era, vamos dizer, uma discussão bem inicial: início dos anos 80. E a gente: “bom, vamos fazer manifestações de rua, que tenham outras características das dos últimos anos…”. De certa maneira, a oposição tinha se colocado em ir pra rua, com as palavras de ordem, com as faixas reivindicatórias. “De que maneira a gente vai ir pra rua com um diferencial?”. Então nós vamos teatralizar essas manifestações de rua.

P.

De repente, 5 de junho de 1981, começa a acontecer uma teatralização na rua, ninguém sabe muito bem o que é. Vem muita gente atrás, com bandeiras, com faixas. […] Então enquanto tá acontecendo a encenação vem a polícia, vem a repressão, mas naquele momento, eles, os policiais, ainda não sabiam o que fazer com os atores que estavam caracterizados, então eles não nos bateram. E a nossa ideia era: “bom, chegou a repressão a gente se dá as mãos e fica”. A gente se deu as mãos e ficou. E a polícia não sabia o que fazer. Eles diziam: “vamos, vamos, dispersa, vão embora…!”, Porque era extremamente estranho. E aí depois, em 6 de agosto, quando a gente fez a segunda manifestação, já não. Aí a repressão veio direto. Era cômico se não fosse trágico, porque aí os policiais desmancharam os bonecos, a gente tinha uma bomba enorme e eles desmancharam a bomba a pontapés, cassetetes, tudo…

P.

Desde o início a proposta do Ói Nóis é que os participantes do grupo venham a se envolver com as questões sociais, políticas, que estão ali, naquele momento, presente, que as pessoas se envolvam e participem ativamente daquele momento, ou daquele espaço que se abre. E é dentro dessa, vamos dizer, maratona de participação de diferentes membros do grupo que a gente chega à ideia do atuador. Quer dizer, nós não queremos o artista pelo artista, nós queremos o artista que seja também o ativista político.

O Grupo

T.

Eu sou bem jovem. Eu tenho quase a mesma idade do Ói Nóis. O Ói Nóis tem 31 e eu tenho 35. Eu tinha 4 anos quando esse grupo começou a atuar, a traçar coisas que se mantêm até hoje: a linha de trabalho e a própria preocupação ideológica. Imaginar o teatro como meio. Isso muito antes de mim, na verdade. Eu que cheguei numa história que já existia; que era fundada e embasada em muitas referências e em muita história de trabalho feito, histórico. Eu cheguei no Ói Nóis e o grupo já tinha 17, 18 quase 20 anos… Então já tinha toda uma carga de trabalho, de afirmação… Muito antes de mim.

T.

Acho que eu nunca tive dúvida se eu queria ou não queria isso. Sempre tive certeza. Isso é louco. Eu me atirei de cabeça e se a piscina tivesse vazia eu tinha morrido

M.

Nesse momento, tudo o que eu faço tá ligado ao Ói Nóis: tudo, tudo. 24h por dia praticamente… Porque é um trabalho que exige. Eu acho que no Ói Nóis foram crescendo tanto os braços que pra tu dá conta tu tens que viver aquilo 24h ali.

M.

O Ói Nóis tem muito disso: na medida em que tu vais te colocando, te apropriando tu vais tendo mais responsabilidades e isso tem muito de quanto tu tás disposto a te colocar.

P.

Eu acho que pra eu ter chegado a 31 anos de desenvolvimento da trajetória do grupo é uma grata satisfação de ter trabalhado de uma forma independente dentro das possibilidades que existem, e a gente tem que pensar a palavra independente e liberdade dentro do processo que a gente vive. Que é decidir o que tu vais fazer, como tu vais fazer, como tu vais te organizar.

Interpretação

T.

Eu acho que uma questão importante no tipo de interpretação do Ói Nóis é descobrir da onde vem do teu corpo essa personagem. Então acho que quando se faz uma personagem se defende muito uma personagem, nesse sentido, se defende com todo o corpo – não existe parte do corpo que não faça parte da personagem. O envolvimento físico… Se pretende que ele seja integral, do pé até o fio de cabelo, tudo: o sexo, o coração, seios, pés, mãos, pescoço, olhos, língua… Tudo tem que estar conspirando pra que ele apareça no seu corpo.

T.

Eu acho que o Ói Nóis se preocupa muito com isso. Se preocupa muito com uma “fisicidade” da personagem. A presença do ator no sentido “latejado”, no sentido “esgarçado”, não no sentido polido. Não que não se vá ao auge do cansaço, da fadiga, da repetição das coisas pra se conquistar a precisão necessária, o domínio técnico, mas o domínio técnico pra que tu tenhas essa “visceralidade”, pra que tu tenhas sexo no teu personagem, pra que tu não tenhas só cabeça no teu personagem, pra que tu tenhas tudo ali, todos os sentidos despertos. E acho que isso, necessariamente, dá outro tom de interpretação, dá outro tom de gestualidade, dá outro tom na encenação.

Sobre a atuação concomitante do grupo: na rua e na sala.

P.

Pra nós sempre foi isso: uma coisa alimenta a outra. Como são as mesmas pessoas, elas tão carregadas disso, desses compromissos. Mas há um momento que tu podes fazer um mergulho mais intuitivo, um trabalho mesmo de ator com algumas questões que não tão nas páginas dos jornais – e acho que isso é forte pro Ói Nóis: conseguir “ter” esse espaço e “sair” desse espaço para as questões do cotidiano mesmo, do dia-a-dia. Bom, hoje vamos ajudar o pessoal do MST que tá no INCRA (sábado nós estávamos lá apresentando, agora já tiraram, às 15h era a desocupação pela polícia), de que maneira se dá isso? Tu não perdes o referencial do teu contexto social, mas tu também tens um espaço… Como é que a gente consegue em algumas horas “sair fora” disso? “Sair fora” no sentido assim: tu te alienas disso, sai fora disso, pra tentar um trabalho artístico, corporal, um teatro da corporalidade do ator que possa ter um rigor no sentido estético que vai trazer essas questões ideológicas, porque elas fazem parte. E às vezes a gente tá discutindo, podemos discutir várias questões emergentes sem simplificar o discurso

Organização Coletiva Autogestionária

M.

Tu estás todo o tempo te auto-questionando [nessa organização coletiva]. Não adianta tu questionares só o outro e permanecer assim inabalável. Mas é sempre uma busca, porque na prática tem coisas que poderiam ser mais coletivas, que tu sempre fica esperando que sejam mais. Bem ou mal tu crias uma expectativa em relação às outras pessoas que tu gostarias que fizessem mais coisas, que dividissem mais. Porque na parte da cena, na criação, no processo criativo, nas festas é realmente muito coletivo; aí todo mundo tem voz, todo mundo dá pitaco, todo mundo critica todo mundo, mas às vezes tu no processo de grupo tens questões de produção, que às vezes tu fica esperando que seja mais…

Então é uma busca eterna.

M.

O Ói Nóis diz que tem uma posição libertária, anarquista e aí as pessoas perguntam “bah, vocês já estudaram Bakunin?”. Mas o nosso “ser libertário” é na prática… Você vai perguntar pras pessoas do Ói Nóis e um terço talvez tenha lido os teóricos anarquistas, mas se tu vais perguntar como que acontece na prática: na prática as coisas acontecem de uma forma libertária…

Essa ideia do coletivo que se dá na prática… A gente discute bastante e eu fico me questionando também muito agora: “que é que tu fazes com teu discurso libertário, de solidariedade?”. O mais difícil é tu aliar esse discurso a uma prática. Às vezes acontece algo bem triste: tu tens um discurso mais libertário, mais solidário com o outro, mas na prática é o que acaba menos fazendo, sendo solidário com o outro… Não deve ser da boca pra fora. É tu estar lá quando tem que fazer trabalho pesado, chato; estar predisposto a dar a cara a tapa…

Anarquismo

P.

Então, acho que é um momento [a “abertura” do Regime Militar brasileiro] que o teatro chamado social tinha um espaço, porque ele tinha um bom espaço de imprensa, que recém tinha conseguido sair daquela censura prévia, daquela censura que tava dentro do jornal. Então estavam começando, os jornais, a serem liberados daquela censura na hora, aquela censura que escreveu a matéria já foi pro censor e o censor cortou, tirou isso, tirou aquilo. Então havia um pouco de espaço de liberdade, que foi extremamente importante, porque abriu espaço pra divulgar as grandes manifestações estudantis, que surgiram em 77, a reorganização da UNE, os grandes encontros de reorganização da UNE. E as peças, as manifestações culturais que tinham mais espaço eram aquelas que estavam dentro de um olhar, um discurso, da esquerda tradicional, ou da esquerda hegemônica, que estava também dentro dos jornais, que estava dentro das instituições culturais.

Então havia uma hegemonia do chamado “partidão”, o Partido Comunista, dentro desse fluxo de informação ao grande público. Não era o Ói Nóis com um discurso libertário, anarquista, que era completamente fora do espaço da esquerda, que teria espaço num jornal. Em cima desse princípio de liberdade até o Ói Nóis teve certo espaço, num primeiro momento: “jovens que vêm com o teatro contestatório, trazem novidades” Bom, de repente, quando esse teatro começa também a contestar a esquerda tradicional – Contesta a direita, a ditadura e contesta a esquerda tradicional – ele vai sendo colocado de lado e de lado, cada vez mais marginalizado até o silêncio total, que é uma maneira de… Se não sai na imprensa é que não existe.

O Amargo Santo da Purificação

Foto: Maurício Alcântara


Revolução

T.

Quando a gente lê [a obra de Heiner Müller] se sente contemplado quando ele fala da possibilidade que vem das margens, e tu ficas pensando nas experiências que se teve… O intelectual não faz mais revolução. Se alguém vai fazer revolução é quem tá sofrendo na pele e não vai ter nada a perder. Então ou vem das margens mesmo, ou não vem mais de lugar nenhum; e a gente quer acreditar que vem de algum lugar. E quer, de certa forma, colaborar com essa… Quer usar o teatro como um instrumento, uma ferramenta pra fazer emergir essa periferia…

T.

Eu acho que pra nascer alguma coisa algo precisa morrer, então tu precisa te desapegar de alguma coisa. Então tem essa coisa toda do desapegar, do deixar morrer… Porque precisa morrer pra que alguma coisa nasça. E acho que ele [Heiner Müller] traz essa ideia da destruição, da porrada, do ato da catástrofe como possibilidade de construção do novo. Então eu acho que ele compreende a necessidade de destruir alguma coisa – como única possibilidade de nascimento do novo.

M.

A gente sempre fala: o teatro não vai fazer revolução. A gente sabe que quem vai fazer revolução são outras pessoas. Mas eu acho sim, que se criam fissuras, que são “ilhas”, são fissuras nesse sistema que talvez… Mas não acredito nessa coisa de apontar caminhos. Talvez aponte caminho, mas é que aí parece essa coisa de vanguarda: “essa fissura é uma forma de mostrar…” também não é isso. É uma busca eterna que se tem no grupo; essa questão do coletivo não é exemplo de nada, não dá pra estagnar dizer que é assim, porque a gente tá sempre inquieto.

Inimigos e Resistência

P.

O Ói Nóis surge com uma contestação à ideia de um status quo, ao estabelecido. Claro que era a ditadura militar imediatamente, mas que não precisava ser só. Era a ditadura militar com todos os seus componentes, quer dizer, com toda a sua organização civil, que, bem ou mal, continua até hoje no poder. Claro que as coisas mudaram de várias formas, de várias maneiras, mas quem dominava no final dos anos 70 continua dominando hoje. E a gente vê, lamentavelmente, vê todos esses episódios da questão da manutenção do Sarney dentro do Senado…

P.

O Ói Nóis trabalha dentro de uma forma independente, com um discurso libertário, que é criticado à direita e à esquerda, mas continua nosso trabalho.

Paulo Flores como Carlos Marighella em O Amargo Santo da Purificação

Paulo Flores como Carlos Marighella em O Amargo Santo da Purificação

Foto: Maurício Alcântara


Despejo [em 1999 o grupo foi despejado de sua sede, a Terreira da Tribo, mesmo após intensa mobilização junto ao poder público]

P.

Nós fomos parceiros de uma caminhada de construção de uma sociedade mais democrática aqui em Porto Alegre [refere-se ao PT, que governou Porto Alegre 16 anos, de 1988 a 2004]. Mas nós não tivemos nenhum… Nós fomos falar fora do poder, acreditando que o Partido dos Trabalhadores, dentro da sua concepção, acreditava na democratização da sociedade através desses fóruns. Nós fomos pros fóruns discutir e fomos contra o executivo em todos os fóruns no sentido do apoio a preservação da Terreira [que era reivindicada pelos proprietários]. E eles não quiseram preservar, não quiseram. Ocupávamos há 15 anos e nós queríamos que eles fizessem alguma coisa – nós estávamos sendo despejados –, que eles comprassem, que eles alugassem, que eles fizessem o que fosse… A gente deu a ideia da Oficina, do Centro Cultural. Desapropria, tomba pela história do Ói Nóis, desapropria pelo Estado, compra pelo Estado e depois cede pro Ói Nóis… A gente tem um puta espaço, peças, faz oficinas, tudo… E a gente não foi levado em conta e a acabamos tendo que sair de lá…

T.

Quando a gente teve que decidir um espetáculo pra sair da Terreira – a gente teve que escolher um espetáculo pra encenar como último espetáculo da terreira naquele endereço na Cidade Baixa – daí a gente tava pronto pra montar A Missão [de Heiner Müller]. E aí pintou que a Paulina, que dá aula de teoria aqui, Teoria e História do Teatro Contemporâneo aqui na escola, na formação, e que sempre fez assessoria teórica nos trabalhos do Ói Nóis, ela falou assim: “Não gente, vocês tem que montar o Hamletmaschine!” [também de Heiner Müller]. E aí a gente tava super imbuído. E lemos juntos o Hamletmaschine. Enfim, achamos que o Hamletmaschine era uma resposta pra cidade e para os petistas de plantão que estavam num esforço hercúleo contra o Ói Nóis. O nosso questionamento enquanto artistas, intelectuais. E, ao mesmo tempo, o questionamento de uma pseudo-esquerda que em algum momento se achou um pouquinho mais revolucionária – naquele momento ela não era… O texto foi o que o Ói Nóis quis dizer naquele momento

T.

A gente fez até uma sexta-feira e nos despejariam segunda de manhã. Então a gente passou a sexta de madrugada, o sábado inteiro, o domingo inteiro desmontando cenário, carregando pra outro lugar…

O Amargo Santo da Purificação

Foto: do site do grupo


Financiamento do Grupo

M.

Tem uma coisa muito louca de A Missão, que bateu diretamente no Ói Nóis, que quando a gente começou a montar, a pensar, a improvisar e fazer as coisas foi a época que houve um questionamento interno muito grande, que foi quando o Ói Nóis começou a receber patrocínio de manutenção de grupo da Petrobras e A Missão fala de uma revolução patrocinada não é?  Então, de certa forma, rolou uma tensão muito grande…

M.

Era essa questão de questionamento no grupo: “tá, mas então nós vamos agora ser patrocinados e a coisa legal de revolucionários e… a gente tá pegando o dinheiro da Petrobras” Aí como é que lidava com isso? Todo o questionamento desses revolucionários [na peça A Missão], desses que vão pra Jamaica fazer essa revolução importada da França. Como é que… Aí a gente ficou discutindo muito e foi muito bom, porque as pessoas que participaram dessa discussão acabaram encontrando um posicionamento. Enquanto grupo foi muito saudável. Claro que na hora foi super tenso, mas eu acho que pra quem vivenciou aquilo também te dá convicções de algumas coisas…

M.

Esse ano [2009] a gente não tem patrocínio da Petrobras. A gente teve durante quatro anos patrocínio e aí esse ano a gente viu que não teria patrocínio nenhum… E então a gente fez um projeto das oficinas e colocou no Edital de Democratização Cultural do Instituto Votorantim e incrivelmente eles nos selecionaram. E aí a grana que a gente tá sobrevivendo é a grana da Votorantim, mas aí, ao mesmo tempo, isso gera uma tensão, porque tu sabes que a Votorantim não é a empresa mais ética do mundo… E naquele muro tá: “fora Votorantim” [No muro colorido que cerca o terreno cedido pela Prefeitura ao Ói Nóis], mas as pessoas não entendem como é que se dá esse mecanismo, como é que a gente ganhou patrocínio da Votorantim – primeiro, é um edital público aberto; segundo, é dinheiro público; terceiro, nosso trabalho é público. É muito mais que muita gente que ganha dinheiro público… As pessoas não compreendem a sacanagem que é essa Lei… E aí é muito fácil pixar ali “fora Votorantim”; “ah, os caras são patrocinados pela Votorantim”. Sim, mas a sacanagem tá nessa Lei filha da mãe que dá pros marqueteiros das empresas o poder de decidir o que fazem com o dinheiro que é de todos… Inverter o papel do Estado…

As pessoas acham que isso é… Não sei, mas às vezes tu vês até as pessoas acharem que é cooptação: “como é que a Votorantim…”, mas se a gente vê qual é a contradição dessa Lei: é dinheiro público! A gente não tá ganhando dinheiro diretamente [da Votorantim].

P.

Fizemos discussão, e dissemos: “o dinheiro é público, é dos impostos!”. Claro que é tudo uma grande sacanagem, mas não deixa de ser dinheiro público! Então, pela primeira vez, nós entramos com projeto, em 2001,

P.

Já faz muitos anos que a gente a manda – desde que a gente discutiu que a Lei Rouanet é dinheiro público. Nós temos que participar de todos os editais que são públicos, que são poucos, então a gente se inscreve em todos…

P.

A gente acredita e estamos ali, vendo que esse é o momento mais fundamental do teatro, quando tu passa os instrumentos de produção teatral pras pessoas. Então pra nós a gente sabe que esses projetos que chegam à periferia, que chegam aos bairros populares. É fundamental pra a história do Ói Nóis e pra história do teatro na cidade de Porto Alegre.

P.

[Mas] O Ói Nóis nasce contrário a isso também e por isso nós fomos críticos a todas essas instituições ligadas a apoio de teatro, apoio à cultura em geral… [durante o Regime Militar] E nós colocávamos radicalmente que tudo o que estava associado ao Estado brasileiro naquele momento de alguma maneira estava apoiando um governo ilegítimo, ditatorial, anti todas as liberdades democráticas.

Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz na Bacante:

Entrevista Tânia Farias + Marta Haas (mapeamente eternamente em construção)

Críticas:

O Amargo Santo da Purificação

A Missão

Kassandra

Galeria de Fotos:

O Amargo Santo da Purificação

Blog:

Digno de Nota

Outros:

Site do grupo

Outras críticas:

O Amargo Santo da Purificação (Edélcio Mostaço)

O Amargo Santo da Purificação (Viviane Soledade)

A Missão (Edélcio Mostaço)

'1 comentário para “ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ”'
  1. Lucas de Moraes disse:

    Boa tarde,
    Estamos organizando um protesto popular contra a nomeação do Pastor Marcos Feliciano para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o protesto esta marcado para domingo as 16:00 na redenção, procuramos um grupo para nos ajudar a chamar a atenção de quem já esta no parque e agregar no movimento.Vocês se interessariam em participar?
    Link do evento:http://www.facebook.com/events/548803448483326/permalink/549825928381078/?notif_t=like

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