Chat

Críticas   |       |    31 de agosto de 2010    |    11 comentários

Chat sobre Chat – pra ninguém dizer que a gente não tenciona a forma da crítica

Fotos: Lidia Marques

Breve “tradução” pra você não se perder mais do que o normal e não se sentir uma pessoa completamente “out” dos diálogos tecnológicos:

1. Sempre que aparecer “me:” antes da frase, a frase foi escrita por Juli. Do mesmo modo, sempre que aparecer “Astier:” antes da frase é porque ela foi escrita por Astier.

2. Os horários ficam aparecendo toda hora, é mal de chat. Às vezes aparece no meio da frase da criatura, às vezes no final, e é assim mesmo. A gente manteve que é pra você se sentir na Internet mesmo, com o que há de bom e o que há de confuso.

3. Quando muda de AM pra PM significa que a gente ficou escrevendo tanto que foi desde antes do almoço até depois do almoço.

4. Os erros de português, concordância, clareza e tudo mais são só porque a gente estava escrevendo num chat, normalmente somos impecáveis.

5. Os argumentos estão uma zona mesmo. Se tiver alguma dúvida, adiciona a gente no gtalk e pergunta.

Começou…

11:42 AM
me: ei alston
eu queria fazer uma crítica conjunta de chat
que fosse um diálogo
vc toparia?

11:43 AM
Astier: topo
tipo… pelo gtalk?

me: talvez
ou email
o q vc acha?

11:44 AM
Astier: ah, melhor aqui, pq enquanto eu escrevo fico com medo de sei lá, vc me sequestrar e vender meus órgãos pra o estrangeiro
ou de alguma coisa ruim acontecer comigo pq a gente está teclando aqui nesse tipo de chat…

11:45 AM
percebeu q nao acontece nada que preste no chat?

11:47 AM
me: claro, era justamente sobre isso que eu queria conversar
e escrever
e acho que a crítica conjunta já começou, então

11:48 AM
por um lado, ainda bem que nem eu nem você somos homessexuais, nem queremos nos mudar pros EUA, senão as conseqüências seriam piores

11:51 AM
Astier: sabe o que eu achei interessante? A pergunta que eu fiz no dia anterior, na demonstração do trabalho de Tony, do Cênicas. A pergunta parace que soou como um rastilho de pólvora. Eu não a fiz de novo, mas ela continuou reboando no ar. Rodrigo acabou por respondê-la sem que eu a fizesse. Todavia, colar fatos de violência que tem alguma relação com a internet não justifica ainda uma relação direta entre o teatro que ele quer fazer e uma comunicação com o público, sobretudo, o público jovem que, de alguma maneira, ele conta que não riu, não se reconheceu ali – não sei bem até que ponto dá pra identificar isso…
mas é uma dramaturgia fechada
é uma mensagem fechada e com um juízo de valor muito focado: a internet é um perigo

me: no seu caso tem um risco… sua tendência ao terrorismo… vc que sempre falou em terrorismo poético… ai, ai, é um risco muito grande vc ser cooptado por pessoas da Al Qaeda

11:52 AM
Astier: ahahahahahahahaha

me: mas, sim, falando disso, da sua pergunta sobre o que as pessoas querem dizer com a peça…
isso foi o que mais me chamou a atenção
Rodrigo disse que eles não se confrontaram justamente com o ponto de vista do autor
justo com o ponto de vista!
essa foi a cilada, Bino
rs

11:54 AM
Astier: eu me pergunto: Rodrigo falou que o principal tema ali era a violência. Mas, realmente, eu me pergunto: violência é sinônimo de revólver na mão? E a violência de estar sozinho num sábado à noite altas horas da madrugada mentindo a idade, mentindo o peso e procurando companhia numa sala de bate papo? Acho isso mais cruel e próximo e na pele do que uma narrativa sobre conflitos étnicos entre mulçumanos

me: pára de escrever textos enormes
hahaha

Astier: ahahahaha

11:55 AM
me: acho que as duas coisas valem como tratamento pra violência
o problema ̩ que quando escolhem tratar todas Рou muitas Рacabam tratando superficialmente
o que tinha de diferente sobre terrorismo ali do que o que a gente encontra na mídia sensacionalista?

11:56 AM
talvez explorar uma das questões relacionadas à internet fosse mais potente
mas, sobretudo, tinha que ser o ponto de vista deles!!!
ih, não pode usar “potente”, né?

Astier: aí voltamos para a base: a escolha da dramaturgia

me: fosse mais legal

11:57 AM
Astier: por um lado eu acho interessante se montar um autor venezuelano, contemporâneo e, mais ainda, em Recife. Aliás, eu gostei quando “o que se montar em Recife” veio pra pauta

12:00 PM
me: eu tb
achei bem legal que se discuta isso
e que se procure temas contemporâneos pra tratar, né?

Astier: a gostar de que se corram riscos
sobretudo em uma cena que, talvez Recife nem tanto, mas uma cena como o Nordeste ainda encharcada de temas regionais e folclóricos, e de um teatro colorido, musical…

12:02 PM
me: o difícil é a conclusão de que as pessoas não querem isso
sabe?
de que os jovens Рcoitados dos jovens Рṇo querem pensar sobre isso
de que Recife não quer pensar sobre isso, discutir isso
isso me deixa bem assustada
a gente pode culpar o público assim?

12:03 PM
aliás, a gente nem pode falar por ele, né? Como você sempre lembra

Astier: voltamos a uma questão que eu acho também pertinente: pra quem eu estou fazendo teatro
que se articula com outra questão: o que eu quero dizer e pra quem eu quero falar

12:04 PM
me: sim

Astier: VocÊ viu o véideo no menino Leandro, Juli?
vídeo…

me: que vídeo?

Astier: pera, vou postar aqui
http://www.youtube.com/watch?v=VlKT5CEgnqs

12:05 PM
esse menino gravou esse vídeo quando encontrou com Lula e Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro

12:07 PM
não, eu não quero desviar o assunto. É só pra lembrar uma coisa que conecta o caso do menino com a peça de Rodrigo
veja só: ele não tem ideia da repercussão desse vídeo que já foi assistido por milhares de pessoas
olha essa matéria aqui com ele:
http://ricardo-gama.blogspot.com/2010/08/menino-leandro-chamado-de-otario-por.html

12:08 PM
me: mas qual a conexão?

12:09 PM
Astier: Então, não dá pra imaginar que a internet – metaforizada no chat – seja algo uniformizado, padronizado. Há uma série de níveis que não foram levados em conta na montagem. Nem todo mundo sonha em ir pros EUA, às vezes se quer apenas uma quadra de tênis

me: uau
hahahaha
ok, entendi seu ponto
acho que você naturalmente forçou um pouco a relação

12:10 PM
e mais ainda pra botar um vídeo contra o Lula na crítica
hahahahahaha

Astier: vou ser mais claro:

me: mas é possível tirar grandes conclusões mesmo disso

Astier: o menino não tem ideia da repercussão do vídeo dele na internet

me: primeiro a possibilidade de um menino como esse postar seu próprio conteúdo – político! – na internet
mesmo sem saber a repercussão

Astier: esqueçamos lula e cabral

me: já esqueci

12:11 PM
e quando ele souber desse poder, melhor ainda
sim, a peça ignora as diversas possibilidades da internet
porque escolhe um foco

Astier: é de como ele se relaciona com a rede. Ele um menino, de uma comunidade pobre. E ao que me parece estas diferenças não entram em cena, não são levadas em conta

12:12 PM
me: sim, é verdade
e como o Paulo lembrou naquela ocasião do Cennarium, lembra?

Astier: é uma dramaturgia muito fechada, não só no objetivo cuja mensagem final é: a internet é um espaço para manifestação de algo imanente, que é a violência

me: a Internet, por mais incrível que seja, ainda é uma mudança de paradigma a partir da elite

Astier: não entendi não

12:13 PM
quem quer mudar pra elite?

me: calma
vamos devagar
primeiro seu ponto
que é a tese ou mensagem da peça
é como Rodrigo falou, o dramaturgo não é pessimista com a Internet, mas com o ser humano

12:14 PM
mas, vamos combinar, a peça, focando na internet e só falando de violência na Internet
e não falando de outros horrores do ser humano
tá dizendo outra coisa, ou não?
tá dizendo, no mínimo, que a Internet é um espaço privilegiado para a violência aparecer

12:15 PM
Astier: certo, mas isso se representa pela net, nada é gratuito, por mais que ele expresse o pessimismo em relação ao ser humano, é uma visão que no mínimo unifica algo que é complexo demais, e unifica, as relações na internet, sob um aspecto: o da violência e, o que eu acho mais fragilizado, uma violência chapada, sem maiores complexidades, mesmo que ele faça o jogo de coringar os papéis

12:16 PM
me: sim, também acho
é quase impossível comparar a violência polìtica e religiosa do terrorismo com a violência de tentar passar a fronteiro pros EUA
é complexo demais

12:17 PM
pra começar, usar a própria palavra terrorismo, assim, ingenuamente, sem se “confrontar” com tudo que ela carrega de preconceito e ideologia, já é problemático

Astier: é sim. Daí a impossibilidade do encontro com o s mais jovens – lembra de que isso foi falado no debate?

me: claro!
é verdade
fica parecendo culpa da mulecada, né?
rs

12:18 PM
Astier: o problema não foi o fato do tema ser difícil, nem digamos, das estratégias brechtianas, diluíaídas em comercial de TV
diluídas* affe

me: haha
o problema é a abordagem

Astier: bora falar de forma?

12:19 PM
me: os jovens, afinal, conhecem a “enormidade” da internet melhor que ninguém
perae
só pra fechar isso
o lance da Cennarium que eu falei ali em cima

Astier: tá

me: era a questão do recorte de classe

Astier: nao vou mentir: não me interessei pelo debate

12:20 PM
me: lembrei isso porque quando discutíamos com o cara sobre o absurdo de ele falar em “democratizar o teatro” por meio da Internet

Astier: e não acompanhei as mensagens

me: discutíamos em vários sentidos
mas um deles foi a questão de que a Internet não é lá tão democrática assim
isso que foi proposta do Paulo
de mostrar, em números, que quem vai ver as peças pela internet

12:21 PM
são, em geral, as mesmas pessoas que veriam no teatro pagando ingresso!
ainda mais que teria que pagar
enfim
não é pra falar da Cennarium

Astier: sei…

me: é pra dizer que a Internet, embora seja na minha visão a tecnologia mais tranformadora que conheço,
tem sim um recorte de classe
que ainda não superamos

12:22 PM
então, se ela for mudança de paradigma como penso que é, é uma mudança que começa na elite
ou seja, nós
rs

Astier: queria falar de forma…
ahahahaha

me: falo isso porque, como você disse, as diferenças do uso
não são consideradas

Astier: sim, saquei
concordo

me: pronto
pode falar da forma
haha

12:23 PM
Astier: eu gostei de como se transitou entre a representação do espaço virtual e o espaço real
da solução que Rodrigo encontrou para materializar isso

12:24 PM
de como os textos longo encontraram um tratamento de encenação

12:25 PM
a cena da guerra entre a mãe de alguel. Rodrigo materializa um sentido

me: me explica uma coisa de cada vez

Astier: 😀

me: o que vc considera que marca a diferença entre o virtual e o real?

12:26 PM
Astier: estou falando especificamente de uma cena
com aquele texto coral
fragmentado pelos atores
eu percebi uma marcação entre o narrador que tecla e o ator que dramatiza o ato

12:27 PM
achei bonito aquilo

me: entendi
é

12:28 PM
Astier: a cena com o lance das laternas
eu achei interessante. Como ele articulou os sons do msn com a luz , também foi legal

12:29 PM
eu notei um diretor presente
mais do que um encenador em uma companhia, mais do que um grupo

12:30 PM
eu gostei muito da atriz também, da patrícia

12:31 PM
e do ator negro. O negro de cabelo branco. Alás, eu o vi numa montagem sobre Maurício de Nassau que foi encenada no Janeiro

12:33 PM
me: um minutinho

5 minutes

12:38 PM
me: pronto
da música e das lanternas…
não sei
às vezes era legal, às vezes parecia musiquinha de balada pra trocar de roupa, sabe?

12:39 PM
ahahaha e eles nem trocavam de roupa
pra trocar de cena no caso
isso pra mim parecia que queria ter um apelo jovem
a forma

12:40 PM
no mais, também achei que não tinha cara de trabalho “de grupo”…

Astier: duas coisas

12:41 PM
a primeira:
eu acho isso legal e retomo o discurso de que meu olhar é contaminado por uma cena, por um lugar, em que se faz um teatro colorido, popular e forçando sotaque
a segunda é:

12:42 PM
eu não acho que seja negativo o fato de perceber muito clara a mão de rodrigo como encenador

me: nem eu

12:43 PM
acho negativo

Astier: bom, aí é outra discussão sobre a legitimação dos grupos, essa grandiosa mitificação

me: hahahahahaha
sim, mas mitificação com motivações pouco místicas e muito políticas
e práticas

que eu discordo que seja dirigismo
ishi
entrei num caminho delicado
bora voltar à peça?

Astier: sim

me: haha

12:44 PM
Astier: chat tá abrindo um monte de janelinhas
isso é bom

me: hahahahahahahaha
sim, abrindo janelinhas
acho bom também
o problema é pensar que outras janelas poderiam ser abertas, sabe?
essas são as nossas janelas

Astier: voltamos pra peça

12:45 PM
me: mas fico imaginando janelas do tipo “nossa, hoje mesmo vou proibir meu filho de entrar na Internet”
haha sabe?
ou, ainda… “esses terrosristas, viu… sem qualquer motivo ficam explodindo tudo”
rs

Astier: é, voltamos pro marco zero da peça q ao fim e ao cabo é isso

12:46 PM
bom, sobre terrorismo eu já tenho uma opinião, digamos, mais conservadora
vamos voltar pra peça
aliás, vou ter q sair

12:47 PM
me: hahahahahaha
mas isso é a peça
a questão não é a opinião
não se fala do tema
não digo que teriam que defender
claro que não
mas há motivos históricos, não?
enfim
se você vai ter que sair, acabou a crítica
=)
acho que já falamos bastante

12:48 PM
ahhhh
antes
só pra não esquecer
morri de rir com as bolinhas amarelas dizendo “google
hahahahahahahahaha

Astier: a conexão tá uma merda

12:49 PM
me: você acha que já tá bom pra crítica?

12:50 PM
Astier: mas, sobre as motivações históricas do terrorismo, digamos, eu permaneço com minha moralizinha burguesa lamentando os mortos e a gente inocente que morre
vou ter q ir

12:53 PM
me: sim e eles têm que colocar as motivações pro público escolher entre mil possibilidades… e uma delas, que não se dissocia das outras, é lamentar os mortos, mas sem ignorar as causas
ih
vc já foi
então acabou
bjoca

Cota̤̣o: 238 linhas Рsegundo o Gmail


Para ler a crítica produzida especialmente para o Seminário Internacional de Crítica Teatral, clique aqui.

Para ler a “tradução para um jeito mais Bacante de ser” da crítica produzida especialmente para o Seminário Internacional de Crítica Teatral, clique aqui

'11 comentários para “Chat”'
  1. Queridossssss

    Vamos debater? Tou escrevendo algumas coisas que eu penso a partir do que vcs refletiram e que não esgotam absolutamente as questões. De toda forma, fico feliz que nosso trabalho tenha gerado inquietações e dúvidas, o que, em si, já diz muito da repercussão de nossa “obra”, pra usar um conceito assim questionável, no mundo. O que toda “obra”, e não “mercadoria”, se propõe a promover, numa visada assim bem adorniana.
    Vou escrevendo assim como “resposta” às falas de vcs.
    1. Por um lado, ainda bem que nem eu nem você somos homessexuais, nem queremos nos mudar pros EUA, senão as conseqüências seriam piores
    R: I didn’t get it. Peço explicações militantes sobre essa fala, pq, descontextualizada do jeito que vcs publicaram, é muito comprometedora, homofóbica e classista! hahahahahahah
    2. me: mas, sim, falando disso, da sua pergunta sobre o que as pessoas querem dizer com a peça…
    isso foi o que mais me chamou a atenção
    Rodrigo disse que eles não se confrontaram justamente com o ponto de vista do autor
    justo com o ponto de vista!
    essa foi a cilada, Bino

    R: Acho que o debate foi muito ruim para nós. Por sinal, a maioria das crítica se pautou no debate e menos na cena, o que eu acho uma pena. Há aqui um equívoco de perspectiva sobre a questão do “confrontamento” com a visão do autor. Nossa peça É o nosso confrontamento com a obra, pensei que isso fosse óbvio. É nossa leitura da visão do Ott sobre a Internet: a composição das personagens, o desejo de contradizer algumas “assertivas” do autor pulsam na nossa cena. Tomá-la, a montagem, como uma redundância ou transparência da dramaturgia é um equívoco, primeiro pq vcs não conhecem o “texto” original e não seriam capazes de dimensionar nossa relação com ele; Segundo pq pensar que a encenação é, necessariamente, um “confronto” nos termos de uma “oposição” ao “texto” é redutor. “Brigamos” e muito com Ott, mas o escolhemos porque reconhecíamos ali um “discurso” que nos interessava de alguma forma e a encenação é a rearticulação dessas ideias.
    3. Astier: eu me pergunto: Rodrigo falou que o principal tema ali era a violência. Mas, realmente, eu me pergunto: violência é sinônimo de revólver na mão? E a violência de estar sozinho num sábado à noite altas horas da madrugada mentindo a idade, mentindo o peso e procurando companhia numa sala de bate papo? Acho isso mais cruel e próximo e na pele do que uma narrativa sobre conflitos étnicos entre mulçumanos
    R: Outra perspectiva redutora. Para alguém que é assaltado num cruzamento, por um ladrão de arma em punho, violência é sim um revólver na mão. Embora não tenhamos nenhuma pretensão em “mimetizar” isso em chave realista. De alguma forma, a maneira como utilizamos as armas fala até de uma banalização delas e do estatuto quase de “brinquedo” que elas assumiram na atualidade. Uma brincadeira com o “teatro” urbano da violência. De toda foma, é apenas um recorte sobre a violência. Questioná-lo por não ser totalizador é querer que ele seja o que não se pretende ser. É querer imputar à obra uma visão estrangeira à ela.
    4. me: acho que as duas coisas valem como tratamento pra violência
    o problema é que quando escolhem tratar todas – ou muitas – acabam tratando superficialmente
    o que tinha de diferente sobre terrorismo ali do que o que a gente encontra na mídia sensacionalista?
    R: Se vc bem notar, nosso espetáculo não julga as motivações históricas do “Terror” nem o condena, em termos “Bushianos”. Concordo se se disser que a abordagem é psicológica e que isso enfraquece um debate que é tão histórico quanto psicanalítico, mas, de toda forma, não há julgamento. O TERROR se apresenta ali numa outra chave, a de uma INVISIBILIDADE humana que se torna VISIBILIDADE, a partir de um gesto “ÉPICO”. Trata-se de uma abordagem “delicada”, mas nem por isso equivocada. Afinal, quem conhece as motivações psicanalíticas de um Terrorista? Dou uma “bala” para quem pensar no homem–bomba nesses termos.
    5. talvez explorar uma das questões relacionadas à internet fosse mais potente
    mas, sobretudo, tinha que ser o ponto de vista deles!!!
    R: Baby, tudo que está ali é nosso ponto de vista, não se iluda não!

    6. Astier: por um lado eu acho interessante se montar um autor venezuelano, contemporâneo e, mais ainda, em Recife. Aliás, eu gostei quando “o que se montar em Recife” veio pra pauta
    12:00 PM
    me: eu tb
    achei bem legal que se discuta isso
    e que se procure temas contemporâneos pra tratar, né?
    Astier: a gostar de que se corram riscos
    sobretudo em uma cena que, talvez Recife nem tanto, mas uma cena como o Nordeste ainda encharcada de temas regionais e folclóricos, e de um teatro colorido, musical…

    R: BINGO, Astier!!!!!!heheheheheh
    7. me: o difícil é a conclusão de que as pessoas não querem isso
    sabe?
    de que os jovens – coitados dos jovens – não querem pensar sobre isso
    de que Recife não quer pensar sobre isso, discutir isso
    isso me deixa bem assustada
    a gente pode culpar o público assim?
    R: Não foi uma conclusão a minha, Juliene. Isso, sim, é um aligeiramento de vcs em me imputar conclusões. Em momento algum eu pretendei soar como um gênio incompreendido ou subestimar a plateia. Disse que, em função da curta experiência da temporada, eu estava “intuindo”, inferindo isso. By the way, no final de semana seguinte, vários jovens acorreram ao teatro e se relacionaram super bem com a peça. Caíram por terra minha “impressões” e tão somente “impressões”.
    8. Astier: Então, não dá pra imaginar que a internet – metaforizada no chat – seja algo uniformizado, padronizado. Há uma série de níveis que não foram levados em conta na montagem. Nem todo mundo sonha em ir pros EUA, às vezes se quer apenas uma quadra de tênis
    R: Nem todo mundo sonha, mas alguns sonham. A internet é, de fato, um assunto inesgotável. Escrevam seus textos! Me parece que o “julgamento” sobre a peça é todo feito na base da denegação, ou seja, do que não estava lá, e isso é muito complicado! Certamente, qualquer outra abordagem sobre o tema deixaria as mesmas lacunas e, então, para onde vamos? É importante ler a peça a partir do discurso que ela tenta articular e não a partir das ausências e elipses.
    9.e quando ele souber desse poder, melhor ainda
    sim, a peça ignora as diversas possibilidades da internet
    porque escolhe um foco
    R: Isso, gente, Foco!
    10. Astier: certo, mas isso se representa pela net, nada é gratuito, por mais que ele expresse o pessimismo em relação ao ser humano, é uma visão que no mínimo unifica algo que é complexo demais, e unifica, as relações na internet, sob um aspecto: o da violência e, o que eu acho mais fragilizado, uma violência chapada, sem maiores complexidades, mesmo que ele faça o jogo de coringar os papéis

    Mesmo problema! É quase como dizer que o Beckett é um pessimista filho-da-puta e que o mundo não é tão sombrio e negro como ele pinta. Assim é o homem para Beckett, assim é o homem para Ott. De toda forma, não deixo de identificar uma ansiedade de vcs com relação à “grandeza” do tema e de reconhecer nosso esforço e nosso risco em dar conta de seara tão complexa, como bem identificou Kil, sem incorrer no mesmo erro de vcs, querer ver ali o que ali não está.
    11. me: sim, também acho
    é quase impossível comparar a violência polìtica e religiosa do terrorismo com a violência de tentar passar a fronteiro pros EUA
    é complexo demais
    R: Quem quis comparar? São formas de violência, em nenhum momento pretendemos compará-las! Mais uma leitura complicada de vcs.
    12. pra começar, usar a própria palavra terrorismo, assim, ingenuamente, sem se “confrontar” com tudo que ela carrega de preconceito e ideologia, já é problemático
    R: Já comentei antes.
    13. Astier: é sim. Daí a impossibilidade do encontro com o s mais jovens – lembra de que isso foi falado no debate?
    me: claro!
    é verdade
    fica parecendo culpa da mulecada, né?
    rs
    R: Já comentei antes.
    14. me: pronto
    da música e das lanternas…
    não sei
    às vezes era legal, às vezes parecia musiquinha de balada pra trocar de roupa, sabe?
    Uma redução grosseira, baby. A música comenta, ambienta, antecipa. Prestenção!!!!!!!!!!! heheheheheheheh
    15. ahahaha e eles nem trocavam de roupa
    pra trocar de cena no caso
    isso pra mim parecia que queria ter um apelo jovem
    a forma
    R: Ah, era? Pq, como? Desenvolver! hehehehe
    16. no mais, também achei que não tinha cara de trabalho “de grupo”…
    R: Pelamordedeus, o que é cara de trabalho de grupo???????? hehehehehehehhehehe Me explica esse conceito, desenvolve! Não dá pra jogar as coisas assim irresponsavelmente sem fundamentar, né? ehhehehehh

    bjs e valeu superrrrrrrr!

  2. astier basílio disse:

    Rodrigo,
    pega leve, da mesma forma como o debate foi precário, nossa “crítica”, também o é,
    é cheia de limites, contaminada pelo meio, escrita no calor da hora e dentro desse contexto de experiência de utilizar um chat.
    Daí sua fragilidade, sua limitação –
    lembra quando Juli falou para eu não escrever textos tão longos? Então, o primeiro conflito aqui nessa crítica/chat foi equilibrar as falas. Aqui houve um diálogo com tudo o que ele tem de perda e de encontro.
    Bom, e por falar em diálogo,
    vou me propor a conversar contigo a partir de tuas respostas, tá?

    1-

    “R: I didn’t get it. Peço explicações militantes sobre essa fala, pq, descontextualizada do jeito que vcs publicaram, é muito comprometedora, homofóbica e classista! hahahahahahah”

    Tu tás brincando, né? Pq a gente, no caso a Juli, tava 😀

    2

    “Acho que o debate foi muito ruim para nós. Por sinal, a maioria das crítica se pautou no debate e menos na cena, o que eu acho uma pena. Há aqui um equívoco de perspectiva sobre a questão do “confrontamento” com a visão do autor. Nossa peça É o nosso confrontamento com a obra, pensei que isso fosse óbvio. É nossa leitura da visão do Ott sobre a Internet: a composição das personagens, o desejo de contradizer algumas “assertivas” do autor pulsam na nossa cena. Tomá-la, a montagem, como uma redundância ou transparência da dramaturgia é um equívoco, primeiro pq vcs não conhecem o “texto” original e não seriam capazes de dimensionar nossa relação com ele; Segundo pq pensar que a encenação é, necessariamente, um “confronto” nos termos de uma “oposição” ao “texto” é redutor. “Brigamos” e muito com Ott, mas o escolhemos porque reconhecíamos ali um “discurso” que nos interessava de alguma forma e a encenação é a rearticulação dessas ideias”.

    Olha, realmente, a gente não tem mesmo como saber isso e, de alguma forma, o que a gente vê, ao fim e ao cabo, é o espetáculo é a soma de todos os processos, de todas as referências, de todas as brigas. Na bilheteria não tinha nenhuma ementa indicando como pré-requisito a leitura do texto dramatúrgico. O que se pede do espectador, que cobra ingresso ou não, mas que está ali, é que ele veja, é que ele esteja ali. Por mais que deva ter havido uma relação não pacífica com o texto – e Rodrigo, qdo eu falo sobre soluções cÊnicas, ao menos eu sugiro isso, né? – o que temos, reitero é o seu espetáculo.

    3.

    “Outra perspectiva redutora. Para alguém que é assaltado num cruzamento, por um ladrão de arma em punho, violência é sim um revólver na mão. Embora não tenhamos nenhuma pretensão em ‘mimetizar’ isso em chave realista. De alguma forma, a maneira como utilizamos as armas fala até de uma banalização delas e do estatuto quase de “brinquedo” que elas assumiram na atualidade. Uma brincadeira com o “teatro” urbano da violência. De toda foma, é apenas um recorte sobre a violência. Questioná-lo por não ser totalizador é querer que ele seja o que não se pretende ser. É querer imputar à obra uma visão estrangeira à ela”.

    Vc tem razão. E, bora radicalizar?, toda visão é redutora: escolher um ponto é se fechar para todos os outros. Concordo q é uma avaliação para além do que foi apresentado, para além do que foi proposto, mas é nisso que eu acho que está o poder do teatro, de abrir outras janelinhas, de fazer com que pensemos, reflitamos criticamente, e não nos atenhamos apenas a dissetar ou a etiquetar valores, uma crítica mais, como dizer, endogâmica, mais esotérica, mas presa ao que está só na cena, tem ganhos, o analítico, por exemplo, e tem eventuais perdas, a de se relacionar com outros temas. É o que eu penso. Mas, você tem razão, eu nunca tive um revólver apontado na nuca, não sei como é isso e não moro em Recife, cidade em que este tema é muito presente, muito real, está na atmosfera.

    4

    “R: Se vc bem notar, nosso espetáculo não julga as motivações históricas do “Terror” nem o condena, em termos “Bushianos”. Concordo se se disser que a abordagem é psicológica e que isso enfraquece um debate que é tão histórico quanto psicanalítico, mas, de toda forma, não há julgamento. O TERROR se apresenta ali numa outra chave, a de uma INVISIBILIDADE humana que se torna VISIBILIDADE, a partir de um gesto “ÉPICO”. Trata-se de uma abordagem “delicada”, mas nem por isso equivocada. Afinal, quem conhece as motivações psicanalíticas de um Terrorista? Dou uma “bala” para quem pensar no homem–bomba nesses termos.”

    Acho que é melhor Juli falar sobre isso, até pq nessa parte, especificamente, apenas escutei.

    5

    “Baby, tudo que está ali é nosso ponto de vista, não se iluda não!”


    Sai q é tua, Juliene…

    6

    “Não foi uma conclusão a minha, Juliene. Isso, sim, é um aligeiramento de vcs em me imputar conclusões. Em momento algum eu pretendei soar como um gênio incompreendido ou subestimar a plateia. Disse que, em função da curta experiência da temporada, eu estava “intuindo”, inferindo isso. By the way, no final de semana seguinte, vários jovens acorreram ao teatro e se relacionaram super bem com a peça. Caíram por terra minha “impressões” e tão somente “impressões””.

    vcs de novo…

    7

    “Nem todo mundo sonha, mas alguns sonham. A internet é, de fato, um assunto inesgotável. Escrevam seus textos! Me parece que o “julgamento” sobre a peça é todo feito na base da denegação, ou seja, do que não estava lá, e isso é muito complicado! Certamente, qualquer outra abordagem sobre o tema deixaria as mesmas lacunas e, então, para onde vamos? É importante ler a peça a partir do discurso que ela tenta articular e não a partir das ausências e elipses”

    Mas Rodrigo, vou pegar o teu facão lá do começo e jogar em você, … e quanto as outras visões? E quanto a ter outras visões? Sei que é preferível, sobretudo para o encenador, jogar o jogo do dentro da sua arena… Mas, vê bem, eu faço uma série de mesmas perguntas toda vez q saio de casa e vou ao teatro: pq eles estão montando tal peça, hoje, em pleno século XXI, o q eles querem dizer com isso… Bom, se a peça nos remete tanto para o que ela não disse, não é que estejamos fugindo de um debate – não!, ao contrário, o não traz o sim dentro dele – se eu nego, eu trago o q eu nego na minha fala.
    Qto a escrever meu próprio texto, agora eu vou pegar um facão meu, isso, de alguma forma, parece uma tentativa de desqualificação. Vou explicar melhor. Essa observação, embora eu não esteja dizendo que seja essa a sua perspectiva, tá?, dá conta de um discurso antigo, de q o crítico é alguém incapaz de criar – de q a crítica é um discurso estéril. Embora, eu perceba q sua fala – “escrevam seus textos” – abra muito o flanco pra nos revelar a nós o quanto é impreciso e diverso e amplo e impoderável esse negócio chamado realidade, tempo, arte… Sim, outra, eu não penso crítica como julgamento – se pensasse assim, me ateria aos “autos do processo”, a uma crítica mais, exame de endoscopia, saca?, só olhando por dentro ali…, e não me permitiria pensar tanto além e para além do texto – e é isso q eu acho magistral e o que me faz sair de casa pra ir ao teatro – qdo a peça me transporta, a partir dela, para além dela própria, qdo a peça é maior do q ela mesma.

    8

    “Mesmo problema! É quase como dizer que o Beckett é um pessimista filho-da-puta e que o mundo não é tão sombrio e negro como ele pinta. Assim é o homem para Beckett, assim é o homem para Ott. De toda forma, não deixo de identificar uma ansiedade de vcs com relação à “grandeza” do tema e de reconhecer nosso esforço e nosso risco em dar conta de seara tão complexa, como bem identificou Kil, sem incorrer no mesmo erro de vcs, querer ver ali o que ali não está.”


    Qual foi o erro em q eu, em que nós, Juliene e eu, incorremos?

    9

    “Quem quis comparar? São formas de violência, em nenhum momento pretendemos compará-las! Mais uma leitura complicada de vcs.”

    Bom, eu sou indivulista o suficiente pra não me incluir nessa fala. A leitura é complicada sim, tanto é q eu não assinei embaixo, nem concordei. Não visse não, foi? 😀 O texto está assinado a dois, mas tem uma notinha explicativa lá qdo é opinião de Juli e quando é minha opinião. Vc tá falando tanto em generalizar… e generalizou um ‘eles’, onde só havia ‘ela’.

    10.
    “Uma redução grosseira, baby. A música comenta, ambienta, antecipa.”

    _

    Juli, é com vc…
    _

    11

    “Pelamordedeus, o que é cara de trabalho de grupo???????? hehehehehehehhehehe Me explica esse conceito, desenvolve! Não dá pra jogar as coisas assim irresponsavelmente sem fundamentar, né? ehhehehehh”

    Rodrigo, a-amigo, a-migo. Vamo lá. Lembra do q eu falei lá atrás, da pressa, precariedade e tal? Pronto. Agora, vamos lá. Vc pode não acreditar em mim, mas isso foi um elogio. Acho que se criou um discurso de legitimação (ai q essa expressão parece plenária de DCE…) do q seja teatro de grupo, q eu acho extremamente falsificado, marqueteiro e miserável… É uma outra grande janela pra se discutir. O q eu quis dizer tem, necessariamente, dois caminhos de discussão e ambos são positivos pra vc, Rodrigo:

    1) não há nenhuma pausterização, nenhuma sacada pra entrar no palco giratório, pra ganhar fringe, saca?, eu não devo ter explicado direito e Juli, por ser alguém com qm eu converso há muito sobre essa minha ideia de simulacro q o discurso por trás dos grupos fecha, entendeu bem e eu, no calor da hora, me esqueci q essa conversa estava em um circuito aberto de TV e o vídeo cairia no Youtube – Outra: vc e o grupo corre o seu próprio risco, não se formata dentro de um discurso de tradição, tipo, sei lá, o que seria um grupo nordestino querendo fazer um teatro colorido, festivo e com sotaque, nem, tampouco, entra na linha de se identificar com, por exemplo, o Coletivo Angu, q também faz uma abordagem mais urbana

    2) e complementando o ítem primeiro, eu vejo, sim, uma presença muito forte sua – ou vejo ou intuo ou sinto – de qlqr forma, acho isso positivo, mas creio que a discussão já pula pra outro departamento q eu tenho e terei o maior prazer em discutir, conversar, trocar ideia.

    Abraço

  3. Astier, fiquei super feliz com suas réplicas. Acho que elas aprofundaram e esclareceram muitas coisas para mim, mesmo, de verdade. Agora, aguardo a Juliene. hehehehe

  4. Oi, Rodrigo, tudo bem?

    Desculpe a demora para responder. Parece que vocês já estabeleceram um longo diálogo por aqui. Sou super a favor de continuarmos… e, seguindo sua proposta formal, vou respondendo suas respostas, sobretudo aquelas em que o Astier me passou a bola… rs

    1. O que você enxergou de recorte “comprometedor, homofóbico e classissista” (palabras suas) nessa piada foi reflexo direto do recorte “simplista e reduzido” (palabras minhas) do Gustavo Ott ao tratar da temática Internet. É possivel, sim, concluir a partir desses fragmentos de violência na Internet que este mundo é mais hostil a migrantes, homossexuais e adolescentes (dessas eu esqueci na piada). Obviamente, vai aí uma ironia, não se trata do que eu penso, até porque não sou eu, nem Astier, que vemos o chat pela perspectiva da violência. Mas acho que você identificou a ironia, não?

    2. Estranho isso de o debate ter sido ruim, é uma pena, pois é uma chance de ampliar as posibilidades de leitura, né? Quanto a nós – falo nós porque de fato a maior parte das críticas se pautou no debate – era nossa oportunidade de acessar os seus porquês e suas pretensões com a “obra” e isso eu considero muito enriquecedor para uma apreciação crítica.

    Especificamente quanto ao confrontar-se com a visão do autor, você me subestima muito quando deduz – por sua conta e risco – que eu entenda “confrontar-se” como fazer uma obra de “oposição” ao texto original. Muito bem, a peça é, necesariamente, o resultado do confronto com a “obra” de Ott, mas não é, necesariamente, confrontar-se com o “ponto de vista” de Ott. São coisas diferentes. E o que eu quero pontuar é que, se você não se confronta justamente com o ponto de vista – no sentido de questionar-se sobre e de embater sua visão E A DOS ATORES com a dele a respeito do assunto tratado – aí você acaba fazendo uma transparência ou um espelho, sim, não da dramaturgia em si, mas da ideologia que está fundamentando a obra e do modo de pensar o tema abordado. Por que eu insisti que essa para mim era a grande questão? Porque, para mim, a perspectiva do autor – não de vocês, mas que vocês adotaram – é reduzida a respeito da Internet e da violência, é pouco complexa e beira o sensacionalismo. Não tem o cuidado e profundidade que as escolhas temáticas pedem. Por isso eu gostaria que vocês tivessem se confrontado mais com ela, com essa perspectiva, que não é simplesmente pessimista, é também reduzida e redutora.

    3. Astier já respondeu essa. Só queria acrescentar que a mim esse recorte da violência me parece o mais comumente abordado e, talvez, isolá-lo dos demais não seja a melhor maneira de compreender suas causas e complexidades. Mas, sim, é um recorte e uma escolha.

    4. Sim, Rodrigo, mencionei isso exatamente pelo motivo que você mesmo coloca: trata-se de um termo e de um tema que pedem hoje um debate histórico. Acho que o que aponto aqui é uma necessidade de cuidado e responsabilidade com questões que são complexas demais pra incluí-las ingenuamente na obra, porque se você não questiona o padrão preconceituoso com que o tema é tratado de maniera geral, então você automaticamente contribui para a continuação desse padrão. Entende onde eu quero chegar? Não sei se fui muito clara, mas a minha perspectiva é a mesma do cuidado com o uso das palavras nos nossos tempos. Tem um jornalista – mais claro e competente que eu – que escreveu um texto sobre esse cuidado com o uso de certas palavras, que estão carregadíssimas de história, ideologia, preconcepto. Não é sobre terrorismo, mas acho que dá conta do que eu quero dizer: LINKA IDELBER.

    No mais, concordo que abordar as motivações de atos nomeados pela mídia como atos terroristas seja missão delicada, talvez impossível, mas que tal tentar fazer isso por uma perspectiva histórica e social? E, finalmente, não disse que vocês fazem julgamento, disse que vocês acabam repetindo o tratamento dado pela mídia ao tema e que isso é perigoso.

    5. Que pena. Me iludi, mesmo.

    6. Era bingo? Na próxima vou tentar concorrer com mais afinco! hahahahahaha Sempre que a gente disser o que o diretor já acha da própria obra, a gente ganha uma prenda! rs

    7. Rogrido, meu amor, eu não escrevi conclusão DO RODRIGO. Rssss Não te imputei nada. A conclusão foi compartilhada no debate, foi uma conclusão geral, que partiu com um exemplo que vocês deram sobre a relação difícil com os jovens nas poucas experiências que tinham tido até então e evoluiu com comentários do público, inclusive do Jorge e da Duda, conforme me lembro. O que sei é que isso foi concluído claramente no debate: que era triste que as pessoas, principalmente os jovens, não quisessem pensar sobre esses temas. E essa conclusão é absurda e merece ser debatida. E colocá-la em evidência gera uma discussão interessante e fundamental que é até que ponto se pode colocar a responsabilidade no público pela dificuldade de comunicação com uma obra e, sobretudo, atestar esse tipo de desinteresse. Na crítica que o Paulo escreveu e em que eu colaborei, essa idéia está mais clara logo no início, é nosso ponto de partida, talvez você se lembre.

    Por outro lado, que bom que as impressões caíram por terra.

    E, finalmente, só quero deixar claro que este texto não é um confronto com você unicamente. É isso também, claro. Mas espero que as questões colocadas aqui possam servir para um debate mais generalizado também. E você pode não querer ser “gênio incompreendido” (e isso não foi um ataque a você), mas existem muitos artistas com esse perfil. Essa idéia que surgiu no debate de que o público não aceitava bem porque não estava disposto a pensar é muito disseminada e comum e por isso é preciso trazer essa discussão à pauta, pensá-la, revê-la, questioná-la, enfim. O debate sobre sua peça trouxe a possibilidade de pautar essa questão.

    8. Acho que está bem respondido pelo Astier. Só reforçando que olhar para o que não foi colocado em cena a respeito do assunto escolhido é fundamental para entender as escolhas feitas pela encenação. Sim, podemos – nós e muitos outros – escrever muitos textos sobre a Internet e a violência, mas vocês escolheram a perspectiva desse autor, desse texto e nós estamos nos preguntando e vos preguntando as motivações dessa escolha.

    9. Fiz uma quina no bingo!!! Aeeee

    10. Astier, me parece que “nosso erro” foi querer ver na peça o que ali não havia, segundo Rodrigo. Agora, vamos combinar que comparar Beckett com Ott é uma puta sacanagem. Nem me sinto em condições disso, na verdade. Mas acho que no mínimo é absolutamente fundamental lembrar que Beckett escreve seus textos “pessimistas” sobre o homem para um tempo e um lugar muito, muito, muito específicos e ele tem plena consciência disso. Beckett fala do pós-guerra com pessimismo. Ott fala de uma nova possibilidade de comunicação que traz algunas das posibilidades de relação e de produção mais revolucionárias dos nossos tempos com pessimismo. Me parece diferente.

    11. Não quiseram comparar e eu não disse que quiseram, mas é fato que colocaram os dois fenômenos no mesmo “saco” de violências contemporâneas. Isso traz essa idéia de violência “chapada” apontada pelo Astier no comentário acima.

    12. Eu tb.

    13. Eu tb.

    14. Desculpae a grosseria e a falta de atenção. hehe

    15. Vou desenvolver bem rapidinho que o comentário já tá gigante. A mim pareceu que a escolha pela velocidade das trocas de cena, auxiliada ainda por uma música (quase sempre “animada”, se eu me lembro bem), enfim, essa alternância rápida entre fragmentos diversos buscava identidade com o universo jovem que é caracterizado por essa velocidade – seja pela “pressa” de viver tudo, seja mesmo pela própria Internet, que mudou os ritmos da vida – não só dos jovens, aliás.

    16. Ufa. Essa do grupo é tensa. Hahahaaha Tem essa visão de Astier com a qual eu concordo em partes. Vejamos… existe a “marquetização” (eta, palavra linda) da lógica que está cada vez aparecendo mais, sobretudo após as conquistas dos movimentos gerados pelos coletivos de criação – e vejo isso bem claro em São Paulo. Como os incentivos públicos – e aos poucos também os privados – costumam beneficiar com mais freqüência os grupos estáveis, com processos mais horizontais, etc, muitos tentam se passar por grupos nesses termos sem ser de fato… aquela velha história do “eu, minha mulher e uns amigos que se revezam em volta”. Aí vira fingimento para ganhar edital. Mas, não posso deixar de fazer a ressalva: esses editais – boa parte deles pelo menos – foram conquistados por um movimento de teatro de grupo que existe de fato e que inaugura de fato uma forma própria de trabalho, em que todos os artistas envolvidos na obra têm mais autonomia, em que não existe um “chefe” (seja ele o produtor, o diretor, o autor ou o dono do teatro) e um monte de empregados executando, etc, etc, etc. Claro que há distorções, mas isso não serve para invalidar a origem do termo, nem muito menos o trabalho de alguns grupos que o justificam e aplicam com seriedade.

    Não sei o que vocês vão achar disso, Astier vai odiar… rs mas há uma idéia de que quando construímos “pontos de respiro”, “frestas” na lógica capitalista, ou seja, qualquer forma de organização, qualquer criação, enfim, qualquer atitude que esteja fora desta lógica ou aponte para fora dela, esta “novidade” é rapidamente abraçada pelo Capital (ai, agora que usei essa palavra Astier vai odiar mais) e em geral transformada em mercadoria. Isso obviamente o Grespan, professor da USP, explica melhor do que eu, mas é mais ou menos por aí. Penso que a lógica de trabalho iniciada e “pregada” pelos coletivos nas últimas décadas é um exemplo disso. Mas posso estar enganada.

    Quanto ao trabalho não “ter cara de trabalho de grupo”, bom… concordo com Astier que há, digamos, uma presença forte da direção. E, além disso, os trabalhos “de grupo”, nesse sentido de construção mais coletiva da obra, costumam ter uma certa “precariedade” característica, além de uma incompletude própria. Tendem mais para complexificar ao extremo as temáticas, abordando por diversos viezes, o que muitas vezes deixa sobrando um monte de “arestas”, mas por outro lado deixa claro que estão reunidos ali os pontos de vista de todos os que participaram. Bom, mas tudo isso são tendências, impressões, não regra.

    Acho que contemplei todos os pontos… espero ter deixado mais claro, já que a forma que escolhemos para a crítica não é realmente a maneira mais clara de mostrar os argumentos. Que bom que sempre há os comentários, né?

    Abraços,

    Juli =)

  5. Juliene, gata, as respostas já não seguem mais ordem exata, mas são blocos de idéias que me interessa discutir.
    bjs

    1. Identifiquei sim a ironia, mas eu continuo pensando o seguinte: em momento algum, vcs consideram os riscos que Ott e nós corremos ao abordar o TEMA Internet. Ao contário, estão o tempo todo tentando vaticinar que a Internet “não é” isso, mas sim alguma coisa que vcs julgam que “seja”. No entanto, esse é um assunto monumental, em pleno movimento, sobre o qual a “humanidade” – e uso essa expressão para falar da dimensão da coisa – está se “debatendo”, questionando, tentando compreender. A Internet nos assombra, nos assusta, nos encanta. Kil bem identificou isso no texto dele, que nossa peça se aventura a descortinar novas formas de sociabilidade abertas pela Internet e por outras tecnologias. Nesse sentido, acho que o olhar de vcs é muito parcial, pouco generoso, pouco aberto. Porque não é possível dizer o que seja a Internet, é muito cedo para isso. Ott e nós fazemos uma tentativa de abordar o assunto que, para alguns, claro, será “fracassada”, mas eu não posso esperar isso de um crítico, certo? No mínimo que reconheça o “esforço” em dar conta de seara tão complexa.
    2. Eu não acho não, Juliene, pq, como bem disse Michelotto num dos textos dele e isso já é um senso comum hoje, a obra fala por si. Eu acho, ao contrário, que o debate fechou muitas questões a partir do que seriam nossas intenções e isso reduziu a leitura de vcs da obra. Pq o público vê muito mais do que nós criadores pretendíamos que ele visse. E eu acho essa recepção bem mais importante que qualquer cartilha dos criadores. E, por isso, eu acho que o debate foi ruim. Confesso que adoraria ter lido o que vcs acharam da peça, sem debate algum. Adorariaaaaaa.
    3. IDEOLOGIA? Juliene, pelo amor de Deus, eu disse isso a Paulo Bio num email que escrevi pessoalmente para ele: larguem esse jargão velho e cansado do marxismo. Ele se tornou conservador para dar conta do mundo de hoje. Vcs disseram na outra crítica que nossa peça era “realista” pq reproduzia a forma fragmentada do capitalismo contemporâneo. Que bobagem é essa. Quer dizer que o fragmento, em Brecht, tb era uma reprodução acrítica do capitalismo global? A questão é o que se faz do fragmento, baby!!!!!!! Disseram que o palco italiano era todo dramático. Mas e o Berliner Ensemble, por Deus, e toda revolução que se operou naquele formato? É muito redutor isso. Pq me parece que vcs estão em busca de uma “forma nova” que dê “resposta” ao capital e isso parece um modelo de “revolução” gasto, last season, elitista, inclusive, pq ainda acredita na “grande obra” e despreza a mercadoria, o produto, tudo que se parece com o mercado. Vcs precisam entender e capturar as formas de se produzir crítica de dentro das estruturas, da engrenagem. As possibilidades de articulação de um discurso de “resistência” que se efetua com as armas que estão à disposição. Precisam largar Adorno, Marx, Szondi, Iná e ler Foucault, Derrida, Deleuze. Urgente!!!!!!!!!!!!!
    4. Voltando à questão do confrontamento, o que talvez vc não perceba é essa sutileza que é a relação da ENCENAÇÃO com o TEXTO. Vc insiste na redundância do ponto de vista do autor. Mas o que vc conhece é nosso ponto de vista, nossa CENA. Pq, por mais que o texto seja DITO, a maneira como ele é dito produz sentidos diversos, pois não? Pq nós nos esforçarmos muito para CONTRADIZER o Ott. Talvez se vc ler o texto, não o ache tão pessimista e tão sensacionalista. Talvez nossa cena seja sensacionalista…
    5. Não, nós não reproduzimos o tratamento dado pela mídia não. Vc assistiu “Guerra ao terror”? Eu acho um filme horrível, mas tem uma cena de um homem-bomba amarrado aos explosivos por correntes e cadeados e ele pede, implora, para que o soldado americano o solte, pq ele se arrependeu. O soldado tenta, mas não consegue soltá-lo em tempo. Pra mim, a questão mais complicada da coisa é: um soldado americano como salvador. É triste. Mas esse zoom que o filme dá sobre a criatura que vai explodir, essa aproximação, esse movimento de chegada perto é extraordinário!!!!!!! Pq deixa de ver aquela pessoa como uma mancha, uma sombra, uma nuvem. E esse é a abordagem de CHAT. É um zoom. Lamento que vc não tenha visto isso e tenha achado um tratamento sensacionalista. Outra coisa que está ali, e eu insisto, é a TEATRALIDADE desse gesto, a espetacularidade do ato terrorista. Tentamos nos aproximar disso, sem nenhuma pretensão a ser totalizadores.
    6. Pra mim é BINGO mesmo sempre que alguém consegue se aproximar da nossa ideia sim, sem nenhum pudor! E sempre que alguém consegue ultrapassá-la como fez o Jorge de Manaus, que fez leituras iluminadoras da obra. E não é BINGO qdo a gente não consegue tocar o outro e a gente fica triste, mas não acha que é culpa desse outro não. Se é que é uma questão de CULPA.
    7. O que eu acho, Juliene, é que vcs se apressaram em PAUTAR nos termos de vcs a questão e não DEBATER a questão. Ngm concluiu nada, pelo que eu lembro. A gente divagou sobre o tema. E eu fico morrendo de medo dessas “patrulhas”. Gente, ao invés de rejeitar o assunto JOVENS x ALIENAÇÃO, como uma postura reacionária e tal, que tal pensar sobre isso em profundidade? Eu não tenho pudor em pensar essas coisas não nem gosto de transformá-las em tabu. Conversando com uma amiga, ela me alertou: “Rodrigo, os jovens não vêm a Internet como nós, que vivemos sem ela antes e depois vimos ela surgir”. Acho que a chave está aí. Ott e nós somos de outra geração, não nascemos com a Internet. E nós vivemos num mundo em que vários “tempos” convivem. São perspectivas diferentes sobre o assunto que coexistem. Pronto, sem pudor de tratar o assunto, chegamos nalgum lugar razoável, eu e ela. Vi uma palestra do Lehmann ontem e ele disse a mesma coisa: “a maneira dos jovens fazerem política é diferente da minha geração”. Mas há de se reconhecer que não há A maneira correta de se fazer política, mas várias delas em choque x sobreposição x sincronismo.
    8. Será que o pessimismo do Beckett era um sentimento “absoluto” no pós-guerra? Tenho certeza que para os americanos, com a economia em franca ascensão, não era. Então, os autores estão tentando capturar “algum” espírito do seu tempo. E eu tenho certeza que o texto de Ott faz eco a algo que está no ar hoje e que ele tenta capturar com CHAT, mesmo que não dê conta do TODO e mesmo que não fale para todos, mas alguma ressonância cultural, social ele tem. E eu entendo que ele e nós podemos fracassar nessa tentativa, mas o fracasso tb nunca é absoluto.

  6. Paulo V. Bio Toledo disse:

    Caro Rodrigo,

    que tipo de imperativo é esse:
    “Precisam largar Adorno, Marx, Szondi, Iná e ler Foucault, Derrida, Deleuze. Urgente!!!!!!!!!!!!!”

    desculpe as palavras, mas isso é ridículo.
    essa hierarquização estúpida do pensamento típica de quem, como parece o teu caso, leu apenas os segundos e nunca leu com atenção uma linha dos primeiros. E, então, como um papagaio, reproduz o discurso mais medíocre do pós-estruturalismo: “o marxismo é anacrônico” – desqualificação prévia e que impede qualquer olhar vertical sobre o pensamento. Além dessa redução infantil, você esmaga o “contexto” e não para um minuto pra pensar que essa “rejeição” era principalmente ligada a burocratização dos PCs na Europa. Foucault e Deleuze foram ávidos leitores de Marx (já Derrida é outra história…)

    Portanto, não seja leviano, se quer debater esse tipo e teoria o faça com um mínimo de profundidade

    Teu ídolo, o Lehmann, por exemplo. Vc leu até o fim o pós-dramático…? bom, se leu saberia que há duas bases teóricas fundamentais: 1. o filósofo do nazismo: Heidegger (e o desdobramento em Derrida) 2. Adorno (!) – Palestra sobre lírica e sociedade.

    então como é que devemos parar de ler Adorno?
    parar de ler Marx? Parar de ler Peter Szondi!!??

    Bom, aí vc foi dizer “o que eu disse” e, como sempre, cometeu avalanches de reducionismo.

    Olha, tem um livro do Jameson que chama Pós-Modernismo. Ali ele se apóia num conceito do Mandel chamado ‘capitalismo tardio’, que se refere ao capitalismo dos anos 80, 90 em diante (quase 30 anos depois da morte de Brecht!) [Deve ser algo novo pra vc, mas diferentemente dos teus amigos pós-estruturalistas, muitos autores tem PENSAMENTO HISTÓRICO]
    Nesse conceito ele analisa o processo de auto-fragmentação do capitalismo como maneira de lidar com as crises cíclicas. Aí entra o Jameson que faz um puta estudo associando uma série de manifestações pós-modernas com esse processo histórico.

    Mas o Rei-Lehmann (que ganhará o título de vice-rei colonizador do Brasil) diz que o pós-dramático ROMMPE com a representação da realidade, pois cria substratos de resistência, que sua fragmentação é um movimento no sentido de romper com o reboque da arte atrás da realidade.

    então, me apoiando nisso, eu penso que a tese dele (e subsequentemente a sua) são típicas de um aparato filosófico que perdeu o chão da história.
    Pois se olhassem para os “escombros do passado” e pra “imposição do progresso” na história (pra lembrar o MARXISTA Walter Benjamin – muito lido e retomado pelo MARXISTA Heiner Müller) veriam que muitas dessas dissociações de forma e conteúdo (típicas de gente q parou de ler o Peter Szondi), dessa fragmentação como “signo do novo”, nada mais são do que “arte do seu tempo”, “reflexos de um tempo histórico” e, pior, manifestação a-críticas e com pretensões de serem a-políticas (vide texto de abertura do Lehmann no Escrituras Politicas)

    E aí eu concluo: essa fragmentação indiscriminada (ABSOLUTAMENTE diversa de Brecht e de Heiner Müller) é sim mimética (eu não usei a palavra “realismo”). Não por escolha, mas por mediocridade. Ou seja, é um “mimético” inferior ao naturalismo…

    é isso,
    p.s.: eu li o texto do Ott, na tua tradução com Welligton, antes de escrever a crítica. (pra vc parar com essa insistência besta de “vcs não leram o Ott”)

    abraços,
    Paulo

  7. Paulo, meu querido, o que eu estou tentando sinalizar o tempo todo para vocês é o seguinte: Não dá pra fazer crítica – como vcs estão fazendo – seguindo essa ou aquela cartilha, submetendo nós – artistas – à confusão conceitual de quem está se iniciando nas teorias do teatro e usa nossos trabalhos como “cobaias” para aplicar esse ou aquele outro conceito apreendido na disciplina de ontem. O Décio dizia que a obra está sempre à frente da crítica. E eu não tenho nenhuma pretensão com isso em dizer que é o nosso caso. Mas eu acho que vcs trazem muitas coisas ANTES da obra, tentando enquadrá-la. É claro que são as ferramentas de leitura que cada um vai desenvolvendo aos poucos. E eu tenho certeza que daqui a 10 anos, vcs vão olhar pra trás e ter um pouco de ‘vergonha’ das coisas que estão dizendo agora. Mas é preciso ser mais generoso, deixar a obra falar, tentar compreendê-la de dentro. E vcs têm um exemplo tão disponível que é o Kil Abreu, aí, ao lado de vcs. Leiam atentamente os textos que o Kil produziu sobre as mesmas peças que vcs. Vejam como passa ao largo desse discurso ‘político’ gasto, cansado, velho que vcs, sim, estão como PAPAGAIOS reproduzindo. Só pra te informar, eu não tenho nenhuma veneração pelo Lehmann e nenhuma rejeição tb. Mas ao fim e ao cabo, eu não troco a experiência de ver bom teatro, como tenho visto esses dias o yuyachkani – um grupo incrível – por nenhuma teoria estranguladora.

  8. Ah, e eu vou ignorar o seu acesso de raiva e as palavras que utiliza, pq ainda acredito que podemos tomar uma cerveja no futuro. 🙂 E eu tb vou para de responder pq acho que chegamos num limite meio intransponível, né?
    abs

  9. Oi, Rodrigo.

    Vou fazer o seguinte… vou deixar de lado esta última parte do seu diálogo com o Paulo e responder o comentário em que você responde diretamente a mim, ok? Isso porque não fiquei muito a fim de discutir isso de “se iniciar nas teorias teatrais e querer enquadrar os artistas nisso”, até porque eu comecei a Bacante antes de “me iniciar” (rs) nas teorias teatrais e isso de enquadrar em teorias, definitivamente, não é o fundamental aqui. Inclusive, acho que você conhece bastante bem a Bacante pra confirmar isso. Enfim. Se você topar, continuamos a conversa sobre os temas que você propôs…

    1. Com relação a reconhecer o esforço para se dispor a tratar do tema, acho que você está enganado, porque, sim, falamos disso em alguns momentos. Astier mais do que eu. Talvez não tenhamos dito da maneira como você gostaria de ouvir, ou tão diretamente como o Kill, mas essa questão foi apontada nesse nosso chat… Astier disse exatamente “gostar de que se corram riscos”. E nós ressaltamos muitas vezes que os temas eram extremamente complexos – tanto violência, quanto Internet – e vocês tinham escolhido um foco. Questionamos a escolha do foco, é verdade, mas consideramos, sim, o tamanho do desafio. No mais, você tem toda razão em esperar generosidade de um crítico… talvez imparcialidade já seja mais difícil conseguir, mas generosidade e um olhar aberto pra obra, pra mim, são princípios norteadores, sim. E, como você dirá mais a frente, é realmente algo a aprender com o Kill. Outra referência pra mim nesse sentido, é a Beth Néspoli, que trabalhava no Estadão, mas não era crítica, era repórter, você conhece?

    2. Quanto ao debate, você levanta uma questão curiosa que esteve sempre em discussão aqui na Bacante… os possíveis pontos de vista de um texto crítico (ou de qualquer manifestação crítica). As possibilidades de enfoque de uma crítica são inúmeras, são também escolhas – como um artista precisa fazer a escolha do foco na abordagem do tema. Nesse caso, infelizmente, o que se deu foi uma espécie de “padrão”, já que todos os críticos assistiram a mesma apresentação, o mesmo debate e tudo mais. Mas fico sempre pensando quão rico pode ser “juntar” pontos de vista – o do cara que viu a peça e o debate; o do cara que não viu o debate; o do cara que leu Marx e não leu Lehmman; o do cara que leu Lehmman e não leu Marx; o do cara que não leu nenhum dos dois e só curte teatro mesmo… rs Enfim, esse final é uma piadinha, porque eu não resisto, mas é tudo pra dizer que, na minha visão, a Bacante tenta ser isso: um espaço possível para colocar muitas dessas possibilidades de apreciação crítica em diálogo e sem hierarquia. E, voltando a sua questão especificamente, sim, seria muito interessante ver como nos manifestaríamos sem o debate… e melhor ainda seria ter as duas possibilidades… e outras…

    3. Bom. Essa é a parte tensa da coisa, né? rs Vamos lá. Você se empolgou um pouco em dizer que termos eu devo usar e que autores devo ler pra me expressar, me inspirar, me informar, me basear, enfim. Soa um pouco agressivo isso. Além do que, isso é uma impressão sua a partir de alguns textos e comentários, você não sabe o que de fato li e conheço, certo? Por exemplo, uma dica: li mais Deleuze do que Peter Szondi (e não acho isso bom, nem ruim, só é parte do que li até agora…). Isso só pra te dizer porque esse seu comentário, especificamente, é complicado e chato, além de ser um pouco pretensioso, porque pretende saber o que eu li e pretende me dizer o que ler, né? Então, eu prefiro não responder a essas questões, digamos, bibliográficas e me ater à passagem do meu comentário que gerou isso tudo… quando uso “ideologia”, se você preferir não pensar no conceito marxista que você considera velho e cansado, por mim, podemos ir direto ao que eu pretendo dizer… e o que pretendo dizer tem menos a ver com Marx, até, e mais a ver com o desgaste do uso de algumas palavras no nosso tempo. E nós – artistas, comunicadores – temos que ter todo o cuidado com a linguagem. Estava dizendo, portanto, que essa palavra ou essa “classificação de pessoas” que vocês utilizam – sem colocá-la em questão abertamente na própria obra – ,”terrorista”, está lotada de significados acumulados, que muitas vezes se confundem e que muitas vezes geram uma visão distorcida e preconceituosa – e que essa visão interessa a determinadas pessoas e governos e políticas, enfim, mas em geral não interessa a quem quer compreender mais profundamente os processos.

    Só mais um detalhe… quanto à busca de uma forma que dê resposta ao Capital… olha, eu, como educadora que pretendo ser, espero que algumas das minhas atitudes estejam sim direcionadas nesse sentido, o de “responder ao Capital” – e sobretudo às desigualdades e misérias que essa lógica nos impõe. Por outro lado, nessa atividade a que me proponho aqui na Bacante – a de tentar leituras críticas de obras teatrais de maneira criativa e leve – e mesmo como público de teatro – que isso eu sou pra caramba! rs – eu não exijo isso das peças teatrais, não. Claro que quando encontro esse esforço nos criadores, é sempre um encontro muito feliz. Mas digo isso sem dispensar outros encontros felizes com outros esforços e buscas.

    4. É, talvez eu não compreenda ou na comunicação comigo o esforço de vocês para contradizê-lo tenha sido insuficiente. No mais, sim, talvez a cena de vocês seja sensacionalista em alguns momentos.

    5. Assisti Guerra ao Terror e acho que tem uma ironia bem legal no filme, além de nos deixar evidente o tanto que a guerra vai se tornando cada vez mais distanciada de qualquer “humanidade”. Gosto da idéia do zoom que você propõe e gostaria de ter percebido isso no tratamento dado por vocês ao terrorista-personagem quando assisti a montagem. Talvez o zoom tenha sido naquele sentido psicológico que vc apontou comentários atrás e, lembrando agora, um pouco distante, me parece que isso existe sim… vemos a fragilidade e a solidão desse cara que se envolve com os terroristas. O que não vemos com zoom, nem sem zoom, é a perspectiva histórica mesmo – principalmente a dos caras que fazem contato pela Internet com ele e o conquistam para a causa deles. De onde vem tanta paixão por uma causa para levar um sujeito a um gesto tão “espetacular” e em geral violento? Não acho que venha só de questões psicológicas – ou, às vezes, sim, mas não o “grosso” da idéia e da mobilização, entende o que eu quero dizer? O caldo das motivações está na história e isso seria realmente um grande desafio colocar em cena, porque é extremamente complexo.

    6. Nada mais sobre o bingo. rs Só achei uma metáfora engraçada pra essa “troca de expectativas” – seja a minha ao me encontrar com o SEU ponto de vista a respeito de temas que me interessam, seja a sua ao se encontrar com o meu ponto de vista a respeito da sua peça.

    7. Não sei dizer se há ou não a maneira correta de fazer política, nem qual seja ela. E nem sei definir como a “juventude” faz política hoje. É uma discussão muito mais profunda do que isso e há que se reconhecer que dizer que há várias maneiras “em choque X sobreposição X sincronismo” não contribui muito para aprofundar a discussão, é uma espécie de saída fácil da questão. Ou talvez seja um ponto de partida, diante do qual teríamos que pensar quais são as maneiras, quais os choques, as sobreposições, etc, etc, etc. Acho que não será o caso agora… rs Mas, a outra questão, de que fomos com uma idéia pronta acho que talvez seja também falta de generosidade da sua parte com a nossa “obra crítica”. Esse diálogo que você teve com sua amiga também aconteceu aqui, só que de uma forma um pouco mais bagunçada. Nós não nos limitamos a dizer: “Seus reacionários!” e fechamos questão. Nós, aliás, nem usamos essa palavra. Nós desenvolvemos a conversa justamente para esse lado: era preciso pensar mais como é que, de fato, o jovem utiliza a Internet, para aí sim conseguir se comunicar mais e melhor com eles”. Chegamos (Astier, de novo, mais generoso que eu) a indicar um vídeo de um uso da ferramenta que foge totalmente ao recorte do Ott – sempre nesse sentido, de lembrar que há outros usos, aliás, talvez haja mais “outros usos” do que “esses usos” tematizados na peça. Enfim, acho que nós fizemos essa tentativa, sim, de aprofundar a discussão e, coincidentemente, foi no mesmo sentido da sua amiga.

    8. Sobre Becktt, como eu tentei destacar, me parece que ele escrevia para um tempo específico e para um LUGAR específico. Concordo muito com a sua perspectiva: “os autores tentam captar algum espírito de seu tempo”. O difícil, no caso específico do Ott, é que nessa temática da Internet, as coisas são realmente muito incertas e mudam com muita rapidez (li esses dias um cara falando que estaríamos na quarta “era” da Internet, já), então há muito risco – mais que o normal – de um olhar ficar “ultrapassado” ou parecer preconceituoso e é preciso lidar com isso como uma possibilidade de fracasso, talvez, mas como um risco a correr.

    Ufa.

    Espero que você volte. Acho que podemos praticar – mutuamente – a generosidade “Killiana” aqui nos comentários.

    Beijos,
    Juli =)

  10. Cristhiano Aguiar disse:

    nossa!

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