O Amor do Sim

Críticas   |       |    12 de abril de 2007    |    0 comentários

Segunda-feira: O Amor do Sim

“Você jura que aqui é um teatro? Cadê os dourados, como aparece nas novelas?”, pergunta a manicure Sueli Ferreira de Souza que nunca tinha entrado em um teatro antes, na peça O Amor do Sim, no palco do Espaço Satyros 1.

O texto de Mário Viana brinca o tempo inteiro com as contradições do chamado teatro alternativo, como é considerado o Espaço em que atuam, em contraponto aos grandes teatros comerciais. Porém, junto com a peça Assassinos, Suínos e Outras Histórias na Praça Roosevelt, do mesmo projeto, ela poderia ser tranquilamente encenada em um teatro como o Brigadeiro, sem prejuízo de entendimentos e risos por parte da platéia.

Com personagens estereotipados e piadas clichês, a história mostra uma manicure, um iluminador e um garçom dentro de um teatro pequeno em um dia de folga, enquanto o mundo lá fora é destruído por “moços bonitos, que parecem descamisados da novela das sete”, segundo Sueli. Ela, representante da massa aculturada da população, acredita que o teatro seja apenas um monte de textos “difíceis que ninguém entende”.

Essa imagem do teatro dito alternativo, desconhecido de grande parte dos brasileiros, é reforçada pelo conflito entre o mundo de dentro do teatro, e o caos instaurado no resto do mundo. Com isso, o texto propõe uma metalinguagem em torno da dificuldade encontrada pelos pequenos teatros para conseguirem se manter. Enquanto neles há vida e uma necessidade de sobrevivência, externamente acontece a destruição de tudo o que é fraco, incluindo as artes.

A paixão que a história tenta demonstrar pelo “teatro dos fracos e excluídos” aparece na figura do Espírito do Teatro, interpretada pela atriz da Companhia Os Satyros Ângela Barros, ótima como sempre. Ela seria a emoção, a sensação que acomete o espectador durante uma apresentação. Porém, nem esse personagem está livre do humor fácil da comédia pastelão e de uma provocação aos teatros comerciais, como quando diz: “Fantasma, eu? Fantasma tem no Culturão, no Maria Della Costa com certeza. Mas aqui? Aqui não tem nem dez anos de existência!”. Enquanto isso, a platéia fiel delira com a referência, às duas horas da tarde, em plena sexta-feira santa.

2 brigadeiros

Adendo: Como uma obra pode ter diferentes tipos de interpretação, transcrevo aqui as palavras de uma espectadora. Ela, depois de ver a peça, disse em lágrimas: “Meu, é o seguinte. Isso é uma verdade que tá aqui fora e que as pessoas não querem ver. Ai você entra no teatro e você vê a entrega do ator, que é maravilhosa. E não importa que é uma comédia, eu posso me ligar no texto. É um texto tão vertical, que eu me emociono”.

E se fez a Praça Roosevelt em 7 dias:

O que você acha?

A Bacante é Creative Commons. Alguns direitos reservados. Movida a Wordpress.