Na Noite da Praça
Terça-feira: Na Noite da Praça
Pessoal que faz teatro é tudo bicha, drogado e adora uma putaria, e todo mundo sabe disso (pelo menos todo mundo que não gosta ou não faz teatro). É a partir desse preconceito que surge um dos personagens da peça “Na Noite da Praça”: um morador da praça Roosevelt que odeia todo o movimento gerado pelos teatros. Apesar de não serem citadas na peça, certamente outras caracterÃsticas do personagem seriam jogar ovo nos boêmios da calçada, ligar para o Psiu para reclamar do barulho e dormir abraçado a seus poodles (a Roosevelt é certamente a maior concentração de poodles da cidade, é cachorro chato demais para tão pouca praça).
Em uma noite de terça-feira repleta do que fazer, ele testemunha e denuncia uma cena de pederastia ao ar livre que vê de sua sacada, bem ali na praça. A polÃcia cai em cima e descobre um famoso estilista da TV com a boca numa botija que, para seu azar, pertence a um menor de idade. A partir deste acontecimento fatÃdico, a peça – inspirada em um conto de Alberto Guzik – apresenta as versões de diversos personagens para a história: o vizinho moralista, o estilista afetado, o garoto de programa “dimenor” e a divertidÃssima garçonete de um bar da região, que sempre acaba sabendo de tudo o que acontece na praça.
Em tempos de estilistas roubando vasos em cemitério, e de rabinos de cabelo engraçado afanando gravatas mundo afora, não é difÃcil de entender a repercussão deste fato na vida de Elói, o protagonista do escândalo. Mas se analisarmos com calma, vemos que a peça não é exatamente sobre isso, ou não em sua totalidade: ao entrarmos no teatro já percebemos que o camarim foi convertido em parte do cenário, e os atores estão vestidos como se estivessem em uma montagem de Sade, nos revelando que existe mais um ponto de vista, que é o mais forte na montagem: a visão dos Satyros com relação aos problemas que vêm enfrentando com seus vizinhos. Esta metalinguagem se repete nos diversos momentos em que os atores oscilam entre os personagens da trama e atores que discutem no camarim sobre o escândalo de Elói.
A direção do espetáculo tem grandes méritos pela escolha de abordar o tema com humor e sem grandes aprofundamentos, excelente saÃda para não tornar o espetáculo pedante: é uma fotografia de alguns personagens que transitam pela praça, sem pretensão de ser uma radiografia. A ressalva fica apenas na construção do garoto de programa, que traz uma consciência social sobre sua própria realidade que parece ter mais cara de um ator e crÃtico de teatro do que de um garoto de programa de dezesseis anos. Fora isso, este espetáculo sem grandes pretensões é uma das melhores opções do projeto.
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